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Fome de Pop

Nação Zumbi continua desafiando a mediocridade do atual rock brasileiro

Por Daniel Benevides Publicado em 16/05/2011, às 12h43

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O quatro estrelas Fome de Tudo - Divulgação
O quatro estrelas Fome de Tudo - Divulgação

Assista ao making of do videoclipe de "Bossa Nostra" aqui

Poucas bandas no Brasil geram tanta expectativa quanto o grupo de Recife. À parte os muitos e bons combos independentes que vêm surgindo em várias partes do país, só mesmo a Nação consegue quebrar a rotina de mediocridade do rock nacional. E Fome de Tudo faz jus à expectativa. Sétimo disco numa carreira cheia de altos e zero "baixos", o CD produzido por Mario Caldato Jr. (Beastie Boys, Beck, Planet Hemp) é talvez o mais pop da banda, o que não quer dizer perda de peso.

Em meio à sonoridade marcante da Nação, em que psicodelia, afrobeats, folclore e eletrônica se misturam com naturalidade alquímica, Fome de Tudo traz mais variações melódicas e alguns refrãos memoráveis. Os vocais de Jorge Du Peixe, habitualmente graves e monocórdios, ganharam brilho, dourando com mais clareza as boas letras. Chegam ao limite da suavidade, ao fazer dueto com a cantora Céu na faixa "Inferno", uma das melhores.

A ironia dos contrastes surge nas referências curiosas, aqui e ali, o que inclui a voz setentista de Paulo César Pereio, num diálogo do filme O Profeta da Fome, de Maurício Capovilla. Músicas como "Bossa Nostra", "Carnaval", "No Olimpo" e "Toda Surdez Será Castigada" - esta, em parceria com Junio Barreto - destacam-se pelas sempre inventivas linhas da guitarra de Lúcio Maia e pelas intervenções estimulantes da cozinha formada por Pupillo, Dengue, Gilmar Bola 8 e Toca Ogan. "Sem fastio, com fome de tudo", a Nação arrisca até um momento "samba de salão", em "Nascedouro", com participação dos metais da Orquestra Popular do Recife.

Ao adicionar outros "bichos" aos originais caranguejos com cérebro, o balanço retrofuturista da banda, já quase na maioridade (formou-se em 1990, da junção do Loustal, grupo pós-punk, com o samba-reggae do bloco Lamento Negro), reforça ainda mais a filiação à Tábua de Esmeraldas, de Jorge Ben, cujos ecos se fazem sentir na geologia sônica do disco. E, em consonância com "o alvorecer de tudo o que se quer ver", a bela capa e o encarte recriam em cores mais essa aventura eletrizante da Nação Zumbi.