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Noite das mulheres

Beyoncé faz ode à feminilidade em espetáculo de dança e música, no sábado, 6, em São Paulo

Por Bruna Veloso Publicado em 07/02/2010, às 18h47

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Assistir a um show da Beyoncé é mais que apenas ouvir uma série de hits radiofônicos: é ver, por quase duas horas, um espetáculo de celebração do feminino, do poder da mulher. A cantora, que agrada a gregos e troianos com um indiscutível apelo visual, promove uma festa no palco, ao misturar músicas dançantes, sensualidade e algo nem sempre comum a divas do pop: uma grande capacidade vocal. Foi isso que as cerca de 60 mil pessoas no estádio do Morumbi conferiram neste sábado, 6, na primeira apresentação da cantora em São Paulo.

O roteiro da I Am...Tour é seguido à risca - no entanto, em diversos momentos do show, Beyoncé pareceu sinceramente emocionada com o tamanho do estádio e o número de público. Logo no início, após "Freakum Dress", terceira do repertório, ela agradece, afirmando que aquele era "provavelmente o maior show da minha história".

A apresentação começou às 22h20, 20 minutos após o horário marcado. As cortinas do palco abrem-se, revelando a silhueta da cantora, estática. Depois de um pequeno trecho de "Déjà Vu", é a vez de "Crazy in Love", o primeiro single da carreira solo de Beyoncé. Com longos cabelos cacheados e acompanhada por duas dançarinas, a norte-americana pôde sentir, de cara, a vibração do estádio, que aplaudia ensurdecedoramente a cada quebrada de quadril.

O show de Beyoncé é quase um manifesto feminista - não no sentido exposto por Simone de Beauvoir, mas como uma ode à feminilidade moderna. Sempre incisiva - seja nos "carões" sexy, na forma decidida de dançar ou nas letras das músicas -, a norte-americana do Texas deixa seu recado de forma carismática, sem, em momento algum, parecer ofensiva. Parte significativa dessa aura de "são as mulheres que mandam aqui" é conferida pela banda da cantora, a Suga Mama, e por seu trio de backing vocals, o The Mamas, formados apenas por mulheres - e diga-se, extremamente competentes.

A apresentação segue em alta voltagem com "Get Me Bodied", antes de os ânimos acalmarem para a balada "Smash Into You". Agora, Beyoncé aparece ao fundo do palco, vestida de branco. Sem se acabar em passos de dança (sim, quando ela dança há bases pré-gravadas, mas nesses momentos Beyoncé nem leva o microfone à boca), mostra o timbre potente que a faz lembrar grandes divas do R&B. "Ave Maria" e "In the Arms of the Angel" (Sarah McLachlan), as faixas seguintes, são uma menção à música gospel, forte influência que se perde em seu trabalho atual.

Enquanto imagens de fãs chorando aparecem nos telões laterais (que poderiam ser maiores, apesar do tamanho e da ótima definição do telão ao fundo do palco), Beyoncé segue com repertório menos dançante: "Broken Hearted Girl" e "If I Were a Boy", com trecho de "You Oughta Know", de Alanis Morissette. A porção calma do show acaba, e chega a hora de Beyoncé voltar ao que faz de melhor - os hits que mesclam R&B e funk, eletrônico e rap, em uma mistura tão homogênea que torna difícil a distinção de um elemento do outro. "Diva" tem solo de bateria, antes de "Radio", que ganha imagens no telão de Beyoncé ainda criança, cantando e fazendo uma prévia do jeito de dançar que mais tarde viria a se tornar sua marca registrada.

As instrumentistas da banda se destacam em diversos momentos: há solos de guitarra, de teclado, e grande participação do trio responsável pelos metais, que fica bem próximo à frente do palco. A baixista da banda tem sua vez com trechos de "Smooth Criminal" e "Billie Jean", de Michael Jackson, antes de as três backing vocals assumirem o show. Enquanto Beyoncé se prepara no backstage, Montina Cooper, Crystal "Crissy" Collins e Tiffany Riddick cantam, brincando com a porção masculina do público ao relacionar cores de camisetas a drinks.

"Uma das melhores plateias"

Depois do show de suas parceiras, Beyoncé retorna. Por um vão no chão, fincado em meio ao público da pista VIP, a cantora caminha com uma bandeira do Brasil, até chegar a um pequeno palco, há cerca de 25 metros do palco principal. "Quero agradecer por vocês serem uma das melhores plateias da minha vida, se não a melhor", diz a cantora - desta vez, pareceu realmente verdadeiro, e não apenas uma frase ensaiada de um artista estrangeiro que quer agradar. Ela continua: "Não tinha ideia de que tinha tantos fãs aqui. Agradeço pelos 'twitts', quando vocês pediam para eu vir", afirma, completando que gosta de se apresentar no palco menor por conseguir ver o rosto das pessoas no público. Dá os parabéns para alguém da plateia, e então canta "Irreplaceable". É a deixa para um trecho, executado à capela e de forma primorosa, de "Listen", do filme Dreamgirls - Em Busca de um Sonho (Beyoncé foi indicada ao Globo de Ouro em 2007 pela música e por sua atuação no filme). A fase da cantora com o grupo que a deixou famosa, o Destiny's Child, foi representada em seguida, com um medley de "Bootylicious", "Bug A Boo" e "Jumpin' Jumpin'".

"Upgrade U", "Video Phone" e "Say My Name" (também do Destiny's Child, com direito a "participação" de Samir, um fã grudado à grade a quem Beyoncé cedeu o microfone antes da música) antecederam o grande hit de I Am...Sasha Fierce, terceiro disco solo da cantora, lançado em 2008 - e que lhe rendeu seis gramofones no último Grammy. "Single Ladies (Put a Ring On It)" virou fenômeno por conta de seu videoclipe. A coreografia, imitada nos quatro cantos do globo (com uma amostra nos telões, de diversos vídeos de pessoas tentando copiar os passos da cantora), teve destaque no show em seu momento mais simples: quando Beyoncé chama as mulheres de sua banda à frente do palco para fazer a porção da coreografia que requer apenas o movimento da mão, em alusão ao anel de compromisso citado na música.

Homenagem a Michael Jackson

Cantando "Halo", Beyoncé volta a passar pelo meio do público até chegar ao palco menor. Ao final da música, os telões exibem mais um vídeo da cantora quando criança, citando Michael Jackson; então, surge a imagem de uma foto do cantor. Ela pede que o público levante isqueiros e celulares para o "único" rei. Depois de mais um trecho da música, o show chega ao fim. Os 120 minutos do espetáculo, que une dança, beleza e música - com instrumentos e musicistas de verdade - deixam a certeza de que não é preciso ser frívolo para ser pop. E que Beyoncé é, além de uma imagem vendável e lucrativa para as gravadoras, uma grande artista.