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"Hoje em dia, o punk rock é mais negócio do que algo feito com o coração", diz Dave Vanian, vocalista do The Damned

Precursor do gênero, músico fala sobre a perda do sentido ideológico do movimento e o show que a banda realiza em São Paulo nesta quinta, 12

Bruno Raphael Publicado em 12/04/2012, às 10h02 - Atualizado às 13h07

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The Damned - Divulgação
The Damned - Divulgação

Considerada uma das bandas precursoras do punk rock, o The Damned vem ao Brasil pela primeira vez para um show único no Clash Club, em São Paulo, nesta, 12. Em entrevista à Rolling Stone Brasil, o vocalista Dave Vanian (na foto, o primeiro da direita para a esquerda) falou bastante sobre suas expectativas para o futuro com a banda, surgida em meados dos anos 70 e contemporânea de nomes como Sex Pistols, Television e Richard Hell & The Voidoids, entre outros. O primeiro disco do grupo, Damned Damned Damned, contém canções como "New Rose" e "Neat Neat Neat", clássicos da época.

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"Eu nunca sei o que iremos tocar", conta Vanian sobre o possível set list da banda em São Paulo. "Varia de noite pra noite, mas tem sido divertido, porque já faz 35 anos que a banda foi formada e na última turnê nós tocamos nosso primeiro disco na íntegra, por exemplo. É difícil saber o que vocês querem, mas acho que será melhor tocar coisas antigas. O único contato que tivemos [com brasileiros] recentemente foi no Natal do ano passado, quando duas pessoas vieram e me disseram: 'Como vocês ainda não vieram pra cá?' [risos].”

Fugindo à regra do estereótipo dado a músicos de punk rock, Vanian se revela um aficionado por gêneros diferentes de música, como tango e bossa nova, além de ser um fã de filmes antigos, especificamente os das décadas de 40 e 50. "Eu adoro tango! Meu sonho é ir para a Argentina e ver como é. Obviamente, minha visão sobre lá deve ser totalmente errada, como algo antes da Guerra [das Malvinas], sabe? [risos]", brinca o músico. "Eu costumava ouvir coisas do começo do século 20. Sempre tive uma grande coleção de música instrumental, trilhas sonoras de filmes antigos... o que soa estranho, se você considerar que eu sou o vocalista."

O estilo de Vanian inspirou gerações e fez história, deve-se levar em conta. Do visual de Johnny Depp em Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, com a clássica mecha branca dos cabelos esvoaçados de Vanian dos anos 80, aos grupos góticos como Bauhaus e The Cure, que viriam posteriormente, o Damned é considerado pioneiro em investir no aspecto visual e musical mais obscuro de sua arte. Uma inspiração que, segundo ele, sempre soou natural para alguém que queria ser ator, antes de ser cantor. "É natural, sim. Apesar de eu mudar, é apenas um personagem que eu sou na turnê. O Damned sempre foi uma banda excêntrica, mas sempre fomos muito diferentes uns dos outros separadamente. As influências que tivemos ao longo dos anos ficaram muito distintas. Acho que é por isso que cada álbum era tão diferente e íamos em tantas direções."

Vanian é muito crítico quando fala do punk rock atual. "Quando você diz punk, é estranho", reflete. "Quando começamos, antes do termo surgir, as bandas eram muito diferentes umas das outras. Quilômetros de distância na época de Richard hell, Tom Verlaine. Mesmo nós e os Sex Pistols éramos muito diferentes. As bandas foram marginalizadas ao longo dos anos. Não sei, para mim 'isso' de hoje em dia é pop. Sinto falta de uma experimentação. Parece que é tudo dentro de uma caixa e nunca sai fora daquilo. Parece uma desculpa pra você se vestir de um jeito quando ouve aquelas músicas. Eu acho que o punk era uma liberdade de expressão e a única coisa que unia as bandas antigas era a energia que as envolvia, e hoje em dia é negócio, mais do que algo feito com o coração. Sei lá, Green Day? Boa banda, boas músicas...mas é muito diferente do que eu considerava punk rock."

"Eu sentia que, nos primórdios, as bandas originais de punk rock foram os Shadows e os Sonics, coisas de garagem mesmo", prossegue. "Eles certamente foram para algo que mudaria a história. Mas eu acho que as bandas de hoje em dia são muito seguras e produzidas demais. Não me empolga, prefiro ouvir as coisas antigas mesmo."

Falando com nostalgia, pergunto se ele sente falta dos anos 70, época que surgiram a maioria dos grandes nomes do gênero. "Eu gostaria de ter aproveitado mais, porque foi tão rápido", desabafa. "Tudo que fizemos foi ir para o estúdio e já tínhamos feito um disco. Era uma época diferente, mas não sei se sinto falta. Eu acho que sinto falta dos anos 60, na verdade! [risos] O Damned seria uma banda melhor nessa época."

Já sobre seu futuro, Vanian diz: "Fazer a música que queremos, mesmo que as pessoas gostem ou não". E o que isso quer dizer? "Acho que sempre tivemos noção de algumas arestas, mas nunca deixamos o cachorro correr por aí como poderíamos. Acho que é hora de variar um pouco e ver onde isso vai nos levar! [risos]"

The Damned em São Paulo

12 de abril, às 21h

Endereço: Rua Barra Funda, 969 (Clash Club)

Preços: R$ 200/R$ 100 + 1kg de alimento não perecível