Gilberto Gil investe em show acústico para celebrar sete décadas de vida com uma boa “festa de aniversário”
Apesar de ter passado mais de 50 anos na estrada, Gilberto Gil parece não desanimar. Da infância ouvindo Luiz Gonzaga até se tornar um dos fundadores do tropicalismo, Gil foi um dos grandes responsáveis por definir a sonoridade da música brasileira, sempre se reinventando e explorando os mais diversos gêneros musicais. Agora, Gilberto Gil comemorará seus 70 anos, completados nesta terça, 26 de junho, de uma forma diferente: o ex-ministro deixa de lado sua agitação característica para construir, acompanhado por quatro músicos e uma orquestra, uma apresentação acústica mais intimista. “Formamos o que chamo de uma espécie de ‘camerata pop’ para fazer este show com minhas canções e das que trago de outros autores, como Tom Jobim e Caetano”, ele conta. Do repertório dele, Gil selecionou faixas como “La Renaissance Africaine”, “Não Tenho Medo da Morte”, “Expresso 2222” e “Máquina de Ritmo”. Já dos amigos, além das músicas, Gil traz consigo uma espécie de inveja motivacional. “Queria poder ter a esperteza desses caras que perceberam tanta coisa por meio dos versos e das linhas rítmicas, como é o caso do Jorge Ben”, diz. “É um poeta da palavra, tenho uma inveja danada dele. O que acaba sendo um dos elementos que me impulsionam a criar.”
Exclusivo: Gilberto Gil cria playlist para você celebrar o aniversário dele.
A ideia do novo show surgiu quando Gil apresentava o espetáculo Gil Luminoso, em 2006, ao lado do filho Ben. No ano passado, Gil tinha feito apresentações no Brasil e no exterior com o filho e o violoncelista Jaques Morelenbaum. Posteriormente, juntaram-se ao grupo Nicolas Krassik (violino) e Gustavo de Dalva (percussão). A apresentação de 28 de maio, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com participação da Orquestra Petrobras Sinfônica, foi gravada pelo diretor Andrucha Waddington para lançamento em CD e DVD no fim deste ano. Já na turnê europeia, em julho, o músico contará com uma orquestra no Barbican Theatre, em Londres, e em Montreux, na Suíça. Mas, para ele, não há motivo especial algum para celebrações. “Não estou comemorando 70 anos coisa nenhuma: é igual a quando completei 7”, brinca. “Acabou se tornando uma comemoração para a imprensa, para os fãs e para os amigos. Então, já que é assim, vamos fazer uma grande festa de aniversário.”
Por outro lado, Gilberto Gil tenta compreender a importância da carreira dele ao longo das últimas sete décadas. O músico afirma ter noção do quanto representa para a MPB, embora faça ressalvas. “Claro, existem as narrativas ligadas minha pessoa, ao significado de tudo que fiz no passado, tenho essa noção”, conta. “Agora, o sentimento do que represento eu não consigo mensurar. Porque passa a ser algo ligado ao artista, e não só à pessoa Gilberto Gil. Aí eu me sinto como uma canção do Caetano.”
Gil tenta manter sempre o mesmo bom humor e a felicidade que são associados a ele, reiterando que essa é sua natureza; para ele, é impossível compor uma canção mais melancólica. “Não sei nem como começar a compor uma música triste. Eu sou assim desde menino: sempre ligado à alegria. Sou mais alegre do que triste. ‘É melhor ser alegre do que triste, a alegria é a melhor coisa que existe’, já dizia o grande poeta Vinicius [de Moraes].” E parar com a música não está nos planos imediatos do autor de clássicos como “Aquele Abraço” e “Domingo no Parque”. “Quero gravar um outro disco de inéditas assim que possível”, diz. “Quero que seja lançado no ano que vem.”
Matéria publicada originalmente na edição 68 da Rolling Stone Brasil