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"Tim Maia sempre será lembrado como o soulman da música brasileira", diz Michael Sullivan

Parceiro musical do cantor, Sullivan escreveu depoimento sobre Tim a pedido da Rolling Stone Brasil

Michael Sullivan Publicado em 29/09/2012, às 12h00 - Atualizado às 12h17

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Tim Maia - Reprodução/Site Oficial
Tim Maia - Reprodução/Site Oficial

Tim Maia teve a importância de ser um grande cantor, o primeiro blues shouter brasileiro e bem-sucedido criador. Foi enraizado pelo som de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro com a Motown e expôs essa simbiose através da sua música soul made in Brasil. Tim sempre será lembrado como o soulman da música brasileira com timbre de voz especial e único. Esse título sempre será dele, por toda posteridade. Ele significa um segmento e estilo musical no nosso país. Os cantores de blues e soul brasileiros são como Tim Maia. Eles cantam Tim Maia... Não é cantor de soul: ele é o próprio estilo. Quem compõe soul, compõe para o Tim e não para o soul.

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Eu, com 16 anos, recém-chegado no Rio, vindo de Pernambuco, estava na Tijuca ensaiando com minha banda, Os Nucleares, que tinha o saxofonista Tinho como arranjador de metal. Nós gravamos pela antiga RCA Victor e, então, o Tim nos procurou para ensaiar algumas músicas dele, que tinha composto com Cassiano, e outras só da autoria dele, para tentar mostrar numa gravadora, pois ninguém conseguia entender o trabalho dele. Foi aí que ele me ensinou a soul music de fato, a levada toda, os acordes para composição, e me presenteou com meu primeiro instrumento musical – um violão, com o qual componho até hoje. Um ano depois, nessa banda entrou o Hyldon e viramos Os Selvagens.

Quem conversou por minutos com Tim Maia tem várias histórias... Mas a que todas as pessoas me perguntam, que está no livro do Nelson Motta (Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia) e foi encenada no programa Por Toda Minha Vida, da Globo, é a de quando o Tim estava sem gravar há um tempo e precisava se mexer na vida financeira e se tranquilizar também, além de fazer um novo som. Eu, como sempre fã dele, fui até a gravadora BMG (RCA, na época) e disse que me responsabilizava pela entrega do disco no prazo e sem problemas, pois as gravadoras estavam com receio de fechar contrato com ele, que sempre dava trabalho. Assinei, começamos o disco e fomos gravando. Estava indo legal, o som, a gravadora gostando e ele feliz comigo por ter feito um bom contrato para ele. Um dia cheguei e o Tim estava levando as fitas para casa. Disse que não ia entregar o disco e que queria reformular o contrato, justamente na hora de colocar a voz para finalizar. Eu fiquei furioso, pois meu nome estava em jogo, e corri atrás dele para pegar as fitas. Ele correu e se trancou no carro. Eu disse que se ele não entregasse, iria na casa dele com cachorro e que não tinha medo de bicho algum, ele que ia ter medo de mim. Uma hora depois, ele me ligou: “Ivanilton, você é meu filho musical. Você queria me bater? Queria me matar? Que é isso? Eu só estava deixando as fitas em segurança. Passa aqui em casa. Comprei um Eskibon. Pode pegar as fitas". Ele dizia que era feliz, pois tinha alguém da música mais gordo que ele. Nós nunca brigamos. Éramos amigos na vida, de acordes e estômago, e isso sempre foi mais forte que tudo.

Das minhas músicas que ele gravou, a de maior importância foi um dueto histórico na música brasileira, como Elis Regina e Tom Jobim, Elis e Jair Rodrigues, Toquinho e Vinicius: Tim com Gal Costa, na música composta especialmente para eles, "Um Dia de Domingo". Mas a que mais gosto é "Me Dê Motivo", porque só ele poderia gravar.

Se ele estivesse vivo hoje, aos 70 anos, seria mais polêmico que nunca. Ainda mais sem travas na língua ainda. E cantando muito, como sempre! Seria muito amado, mas temido pelas novas gerações de pouca voz e no tom da moda.