Entrevista

Com canções em português, Sofi Tukker quer fazer ‘músicas que queremos ouvir e que sentimos que não estão sendo feitas’

Duo de eletrônica formado por Sophie Hawley-Weld e Tucker Halpern, Sofi Tukker lançou o single ‘Veneno’ nesta sexta, 10

Felipe Grutter (@felipegrutter)

Tucker Halpern e Sophie Hawley-Weld formam Sofi Tukker (Foto: Arturo Holmes/Getty Images for Coachella)
Tucker Halpern e Sophie Hawley-Weld formam Sofi Tukker (Foto: Arturo Holmes/Getty Images for Coachella)

De certa forma, é um tanto quanto irônico o quanto duas pessoas completamente diferentes, seja de gostos pessoais ou musicais, conseguem se unir para fazer algo e se sair muito bem. Esse é o caso de Sofi Tukker, duo de eletrônica gringo que faz músicas com letras e português.

Responsáveis pela criação da banda, o estadunidense Tucker Halpern e alemã Sophie Hawley-Weld se conheceram em 2014, quando estavam na faculdade. Ele jogava basquete e era apaixonado por música eletrônica e dance music. Ela morou em diversos países e estudava músicas mais “tradicionais,” como a brasileira. Após se conhecerem, os dois começaram essa empreitada e lançaram hits como “Drinkee,” “Purple Hat,” “Original Sin” e “Summer In New York.”

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Sofi Tukker lança ‘Veneno’ oficialmente

O mais novo lançamento da dupla é “Veneno,” que chegou nas plataformas de streaming nesta sexta, 10, e nasceu de uma brincadeira no TikTok. Há alguns meses, as artistas independentes Mari Merenda e Sophia Ardessore publicaram um vídeo com cover “Rodopiado,” de Ronaldo Silva, apenas com voz – e Mari tocava um instrumento chamado asalato.

O vídeo das duas brasileiras foi bastante compartilhado para Tucker Halpern e Sophie Hawley-Weld, que aproveitaram para fazer um remix com uma pegada eletrônica do cover. Por conta disso, diversos fãs começaram a pedir que eles lançassem essa versão oficialmente. Ou seja, eles não planejavam lançar “Veneno” originalmente, mas o clamor público trouxe esse desafio.

@sofitukker #stitch with @ @marimerenda should we finish it? 😝 #producer #remix #getcultured #musicalatina ♬ original sound – SOFI TUKKER

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“Então fomos para o estúdio e escrevemos uma parte em inglês, fizemos tipo um drop em outra seção da música,” explicou Sophie durante entrevista à Rolling Stone Brasil. Em seguida, Tucker revelou como eles nunca fizeram uma música tão rápido do início ao fim e lançamento.

Foi realmente empolgante… o mundo estava nos dizendo para agirmos rápido, e o mundo estava nos dizendo para terminar. E nós amamos isso. Então ficamos entusiasmados com isso o tempo todo. É uma daquelas músicas que fica melhor quanto mais você ouve. Eu a amo cada dia mais e mais.

Como os artistas comentaram na conversa, as participações de Silva, Merenda e Ardessore na faixa não chegou na parte de produção. Ronaldo Silva permitiu a utilização de uma obra dele no remix (com créditos de escrita, claro) e Mari Merenda e Sophia Ardessore deixaram que Sofi Tukker usasse as respectivas vozes delas. Todo esse processo foi bastante orgânico.

Sofi Tukker
Sophie Hawley-Weld e Tucker Halpern formam Sofi Tukker (Foto: Shervin Lainez)

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Algo legal de se destacar foi a amizade que surgiu nesse encontro virtual e despretensioso. Silva e a esposa dele sempre conversam com a dupla e até mandaram fazer um vestido de Carimbó, ritmo presente em “Rodopiado,” para Sophie. Além disso, o duo também chegou a encontrar e dar o famoso rolê com Mari e Sophia após a viralização no TikTok.

É algo emocionante e um uso muito legal da internet, como nos conectamos, como agora somos amigos, como estamos colaborando em uma música. […] E até Ronaldo poderia ter dito ‘não.’ Parece que tudo está conectado na hora e no momento certo. Algo está nos dizendo: ‘A música é especial,’” disse Tucker.

Como em todos os outros projetos de Sofi Tukker, especialmente quando falamos de remixes, eles não planejam simplesmente reproduzir um gênero musical ou tipo de dança e som – eles querem misturar diversas influências para ter o melhor resultado possível.

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Segundo Sophie, “há muitas coisas diferentes ao mesmo tempo, e adoramos uma mistura onde você ouve e pensa: ‘Nunca ouvi nada assim antes. Eu não, nem sei o que é. Como você chama essa coisa?’” Tucker complementou a fala da colega de banda e comentou como essa sempre foi a ideia do duo.

“Porque a Sophie era musicista de jazz e tocava Bossa Nova e eu era um DJ de house music,” relembrou. “Quando nos reunimos, tentamos com “Drinkee”, nossa primeira música, fazer algo que nunca tinha sido feito antes, usando gêneros diferentes e apenas os moldando juntos,” e foi exatamente isso que aconteceu em “Veneno.”

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‘Inspiração é a forma como a música e a cultura viajam e as pessoas podem inspirar’

Uma das coisas mais comuns no meio da música eletrônica é ver a realização de remixes, seja de outras músicas, instrumentais ou até mesmo de diálogos e falas. Nisso, existe uma troca e interação, por mais que indiretas, entre artistas. Inclusive, meu primeiro contato com Sofi Tukker foi durante a faculdade, quando escutei “Rave dos Bailes – DRINKEE,” do DJ GBR.

Quando ouviram que existe um remix de “Drinkee” de funk, tanto Tucker quanto Sophie ficaram bastante surpresos e ansiosos para escutar essa versão (quando a entrevista acabou, mostrei para os dois, que mostraram o desejo de “tornar oficial,” visto que “Rave dos Bailes – DRINKEE” está apenas no YouTube, fora das plataformas de streaming, mas isso ainda é uma incerteza!)

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Para Sophie, o fato dos artistas realizarem remixes de outras obras “é a coisa mais linda”: “Inspiração é tudo. E a forma como a música e a cultura viajam e as pessoas podem inspirar… é assim que criamos coisas novas. É assim que a sociedade evolui.”

“E eu simplesmente acho que é realmente empolgante estar nesta época, honestamente, onde você tem acesso a tantos estilos diferentes de música, e as pessoas estão cada vez mais abertas a diferentes linguagens, diferentes ritmos, diferentes tudo,” complementou.

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Além disso, os dois artistas notaram como todo tipo de música tem uma influência, como a brasileira tem da africana, por exemplo. Sophie afirmou como é desnecessário ser “purista sobre um gênero,” no que Tucker adicionou:

Na verdade, não é muito criativo quando isso acontece. Apenas deixar algo viver e ter sua própria vida, como ‘Drinkee‘ já teve vida própria e tantos remixes, encontra-se em tantos lugares diferentes. Isso nos leva a diferentes partes do mundo constantemente.

Um tipo de som bastante diferente

Não apenas com algumas letras em português, mas o jeito que Sofi Tukker faz música é bastante diferente, especialmente em relação ao cenário de música eletrônica. Boa parte disso, segundo Sophie, é o fato de todo processo criativo da banda ser orgânico.

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“É o encontro dos nossos cérebros, que são muito diferentes. E quando os misturamos, é algo único,” disse. Tucker também aproveitou para mostrar o ponto de vista dele. “Ela não ouvia música eletrônica e dance music antes de começarmos a banda. Isso é muito benéfico para nós porque ela não se prende aos subgêneros e ao que outros DJs fazem na época e outras coisas.”

Apenas fazemos músicas que queremos ouvir e que sentimos que não estão sendo feitas. Você sabe, acho que é mais importante para nós que não soe como outras coisas, em vez de soar.

A próxima era de Sofi Tukker está mais próxima do que você imagina

Em 2023, Sofi Tukker fez dois shows no Brasil: no Lollapalooza (25 de março) e no GPWeek (5 de novembro). No mais recente, Tucker e Sophie ficaram alguns dias a mais no Brasil para acertar alguns detalhes do terceiro disco de estúdio deles como dupla.

Sofi Tukker no Lollapalooza Brasil 2018
Sofi Tukker no Lollapalooza Brasil 2018 (Foto: Alexandre Schneider/Getty Images)

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Como Sophie adiantou para a Rolling Stone Brasil, o novo álbum do duo (ainda sem nome ou data de estreia definidos) ganhará uma segunda versão em MPB, com versões acústicas feitas por produtores, compositores e artistas brasileiros. A próxima vinda deles ao país deve acontecer após o lançamento do disco, na era pós-Wet Tennis (2022).

Wet Tennis foi feito durante a pandemia, então a dupla pensou em músicas para serem escutadas em casa – e diversas delas ficam fora dos setlists de festivais para “manter a energia” alta, mas ele é bastante apresentado nas performances solo.

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“Provavelmente haverá mais energia neste próximo álbum, o que será melhor para os shows ao vivo. Mas, sabe, acho que sempre será um pouco de tudo,” disse Tucker.

Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, gosta de ver filmes e séries e ficar com as duas calopsitas de estimação no tempo livre. Na carreira, tem passagem por Rádio Gazeta AM, Exitoína, CineBuzz e Showmetech.
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