“ELE ODIAVA”

As músicas de Slash que Axl Rose se recusou a gravar no Guns N’ Roses

Composições foram aproveitadas em outro projeto do guitarrista, que acusou cantor de “só querer tocar porcarias industriais ou que soassem como Pearl Jam”

Igor Miranda (@igormirandasite)

Guns N' Roses: Axl Rose e Slash no Rock in Rio 1991
Guns N' Roses: Axl Rose e Slash no Rock in Rio 1991 - Foto: Ke.Mazur / WireImage

Em 1995, os fãs do Guns N’ Roses que esperavam um novo álbum de inéditas para suceder a dupla Use Your Illusion (1991) se surpreenderam com uma movimentação de Slash. O guitarrista montou uma banda própria, o Slash’s Snakepit, e lançou o disco It’s Five O’Clock Somewhere.

Outros dois integrantes do projeto vinham do Guns: o baterista Matt Sorum e o guitarrista Gilby Clarke, este já dispensado na época. Completavam a formação o vocalista Eric Dover e o baixista Mike Inez (Alice in Chains, ex-Ozzy Osbourne). Participaram ainda das gravações o tecladista Dizzy Reed (membro do GN’R), o multi-instrumentista Teddy Andreadis (que excursionava com o grupo) e o percussionista brasileiro Paulinho da Costa.

A sonoridade de It’s Five O’Clock Somewhere se inclinava bem mais ao hard rock clássico, baseado em blues, praticado pelo Guns N’ Roses em seus primórdios — bem diferente das baladas épicas ao piano que tomaram parte do repertório de Axl Rose e companhia em Use Your Illusion. Embora não tenha repetido o sucesso da banda principal de Slash, o disco de 1995 vendeu 1 milhão de cópias mundialmente.

O que muitos só descobriram depois é a intenção original das 14 músicas apresentadas pelo Snakepit naquele momento: praticamente todas elas foram apresentadas para — e rejeitadas por — Axl. O vocalista teve acesso a versões iniciais de “Neither Can I”, “Beggars and Hangers-on”, “Good to Be Alive”, “Dime Store Rock”, “Jizz da Pit” (que acabou se tornando instrumental), “Be the Ball”, “Lower”, “What Do You Want to Be”, entre outras. Não gostou de nenhuma.

Guns N’ Roses em 1993 - Foto: KMazur / WireImage / Getty Images
Guns N’ Roses em 1993 – Foto: KMazur / WireImage / Getty Images

 

Entre as 14 faixas presentes no material, apenas uma não deve ter sido mostrada para Rose. Trata-se de “Monkey Chow”, única composição de Gilby Clarke presente no registro. As outras faixas são assinadas por Slash, majoritariamente em parceria com Eric Dover e/ou Matt Sorum.

Em entrevista de 1999 à MTV (via Classic Rock), o próprio cantor — que desde 1996 já não trabalhava mais com Slash — abordou a situação. Ele disse:

“O que as pessoas não sabem é que o álbum do Snakepit é o álbum do Guns N’ Roses. Eu simplesmente não faria aquilo… não acreditava naquilo. Achei que havia riffs, partes e ideias que precisavam ser desenvolvidas.”

À revista Rock Hard, no ano 2000, o guitarrista confirmou o que foi dito por Rose. Ele apontou:

“No primeiro disco do Snakepit, usei algumas ideias que foram planejadas para o próximo disco do GN’R, mas Axl e eu discordamos sobre a direção futura da banda. Mostrei uma demo para Axl com minhas ideias para músicas e tudo o que ele disse foi: ‘não estou com vontade de tocar esse tipo de música’. Eu respondi: ‘mas este pode ser um excelente disco do Guns, 100% no estilo’.”

Slash - Foto: Dave Simpson / WireImage
Slash – Foto: Dave Simpson / WireImage

 

Na ocasião, Slash ainda alfinetou o vocalista pela sonoridade que buscava explorar no período. O músico disse:

“Axl realmente não se importava porque só queria tocar porcarias industriais ou que soassem como Pearl Jam.”

Por fim, o guitarrista apontou uma das músicas que o então ex-colega realmente odiou.

‘Jizz Da Pit’ era um riff que eu carregava e que Axl odiava. Ele chamava esse riff de ‘redneck’. Ele odiava, então nunca fiz nada com ele para o Guns.”

Slash, Snakepit e volta ao Guns N’ Roses

Como citado, Slash deixou o Guns N’ Roses em 1996. Com uma nova formação, o Slash’s Snakepit lançou um novo álbum, Ain’t Life Grand, em 2000. Dois anos depois, encerrou atividades.

A reconciliação com Axl Rose só aconteceria em 2015. No ano seguinte, tanto o guitarrista quanto o baixista Duff McKagan retornaram oficialmente ao GN’R. Apesar disso, o grupo ainda não lançou nenhum álbum com os “velhos novos integrantes”, apenas quatro singles compostos antes da reunião: “Absurd”, “Hard Skool”, “Perhaps” e “The General”.

Todas as faixas de It’s Five O’Clock Somewhere

  1. Neither Can I (composição de Slash e Eric Dover)
  2. Dime Store Rock (Slash, Eric Dover e Gilby Clarke)
  3. Beggars & Hangers-On (Slash, Eric Dover e Duff McKagan)
  4. Good to Be Alive (Slash, Eric Dover e Gilby Clarke)
  5. What Do You Want to Be (Slash, Eric Dover e Matt Sorum)
  6. Monkey Chow (Gilby Clarke)
  7. Soma City Ward (Slash, Eric Dover e Matt Sorum)
  8. Jizz da Pit – instrumental (Slash e Mike Inez)
  9. Lower (Slash, Eric Dover e Matt Sorum)
  10. Take It Away (Slash, Eric Dover e Matt Sorum)
  11. Doin’ Fine (Slash e Eric Dover)
  12. Be the Ball (Slash)
  13. I Hate Everybody (But You) (Slash e Eric Dover)
  14. Back and Forth Again (Slash e Eric Dover)

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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Começou em 2007 a escrever sobre música, com foco em rock e heavy metal. É colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022 e mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, revista Roadie Crew, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram e outras redes: @igormirandasite.
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