“EXATAMENTE O CONTRÁRIO”

O curioso aspecto em que o Led Zeppelin era o oposto dos Beatles

Duas das maiores bandas da história do rock tiveram uma série de similaridades, mas uma diferença se mostrou crucial para seu legado

Igor Miranda (@igormirandasite)

Led Zeppelin
Led Zeppelin - Foto: Arquivos de Michael Ochs

O Led Zeppelin surgiu pouco tempo antes do fim dos Beatles e suas trajetórias guardam algumas similaridades. Ambos os grupos revolucionaram o rock de diferentes formas, obtiveram enorme sucesso comercial, marcaram uma era em específico e chegaram ao fim, após aproximadamente 10 anos de de atividades, justamente em virada de década.

Porém, havia algo muito diferente entre as duas bandas. E nada tem a ver com a música.

O diretor Bernard MacMahon e a roteirista Allison McGourty, do novo documentário Becoming Led Zeppelin, observaram em entrevista à Billboard as distinções nas táticas promocionais de ambos os grupos. Enquanto os Beatles apareceram exaustivamente na mídia, o Zeppelin adotou uma estratégia oposta — que, inclusive, quase prejudicou o filme desenvolvido pela dupla de cineastas.

McMahon, inicialmente, afirmou:

“Os Beatles fizeram uma quantidade insana de aparições publicitárias, o tempo todo. Então, há um suprimento infinito de sessões de fotos e entrevistas de TV [para montar um documentário]. Com o Zeppelin era exatamente o oposto. Há tão pouco.”

Beatles em 1964 - Foto: Fox Photos / Getty Images
Beatles em 1964 – Foto: Fox Photos / Getty Images

 

A decisão de liberar pouquíssimas aparições midiáticas veio de Peter Grant. Conhecido por sua abordagem “linha dura”, o empresário do Zeppelin acreditava que estar ausente da TV, não lançar singles e combater ao máximo a produção de bootlegs (gravações não oficiais dos shows) manteria uma aura em torno da banda, fomentando a venda de ingressos e álbuns — já que estas seriam as únicas formas de ouvi-los. McGourty comentou:

“Se Peter Grant pegasse alguém filmando o show, ele arrancaria o filme, quebraria a câmera e expulsaria ele mesmo, fisicamente, o responsável. Além disso, eles não apareciam na imprensa, na mídia. Temos todos os fragmentos de filmagens dos quais se tem conhecimento.”

Ainda de acordo com Allison, o desenvolvimento de Becoming Led Zeppelin — que chega aos cinemas brasileiros em IMAX no dia 27 de fevereiro — se tornou “muito mais difícil” devido à ausência de filmagens. A roteirista afirma:

“Isso nos forçou a ser criativos. Somos muito inspirados por filmes da Era de Ouro, como Cantando na Chuva, [diretor] Frank Capra. Usamos muitas técnicas de filmes antigos, como trabalho de montagem. Você vê jornais, contratos, ingressos — tínhamos mais de 6 mil artefatos digitalizados. Tudo o que você vê no filme é real.”

Led Zeppelin em 1973
Led Zeppelin em 1973 – Foto: Evening Standard / Hulton Archive / Getty Images

 

A garantia de um bom trabalho

Bernard MacMahon e Allison McGourty suaram a camisa junto da equipe, mas valeu a pena. No fim das contas, eles receberam a validação de que fizeram um bom trabalho com Becoming Led Zeppelin a partir da opinião de duas pessoas que acompanharam de perto a banda. MacMahon pontua:

“Nós o mostramos para Bob Weir e Taj Mahal, que eram os reis da contracultura na Bay Area. Eles estavam lá quando o Zeppelin estourou. Weir foi até mim no final do filme e disse: ‘Sabe, isso é algo que muda o jogo, toda criança deveria assistir para ver o que seus avós fizeram e como fizeram. Sabe o que eu estava pensando enquanto assistia a esses caras? Eles me lembravam do trio de John Coltrane com um cantor. Ou Pharoah Sanders com um cantor’. Isso de Bob Weir. Isso mostra o nível de musicalidade que ele está vendo.”

O elogio de Taj Mahal se provou ainda mais entusiasmado. O lendário músico disse para os cineastas:

“Esse filme reorganizou minhas moléculas.”

MacMahon, então, concluiu:

“Um cara que conhece essa banda há 55 anos teve sua opinião expandida e mudou suas ideias preconcebidas sobre eles.”

Sobre o documentário

Becoming Led Zeppelin, documentário sobre a origem da banda citada no título, chegará aos cinemas brasileiros em 27 de fevereiro. Dirigido por Bernard MacMahon, o longa-metragem estará disponível de forma exclusiva no formato IMAX.

O filme é o primeiro a ser autorizado pelo grupo britânico e já conta com trailer oficial. Em sua estreia nos Estados Unidos, o documentário se tornou o maior fim de semana de abertura para um lançamento musical exclusivo em IMAX.

Assista abaixo à prévia.

Becoming Led Zeppelin explora as origens do grupo icônico e a sua ascensão meteórica em apenas um ano. De acordo com material oficial, o filme “proporciona uma visão sem paralelo de como a banda de rock se formou, enquanto o público testemunha em primeira mão a formação de suas duas primeiras turnês oficiais e a criação dos primeiros álbuns, que fizeram história”.

A obra conta com imagens inéditas de shows e materiais exclusivos sobre a criação dos primeiros álbuns e turnês. Há ainda depoimentos dos membros Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e o saudoso John Bonham.

Becoming Led Zeppelin – ficha técnica

  • Direção: Bernard MacMahon
  • Roteiro: Bernard MacMahon e Allison McGourty
  • Produção: Allison McGourty e Paradise Pictures em associação com Big Beach
  • Produção executiva: Michael B Clark, Alex Turtletaub, Cynthia Heusing, David Kistenbroker, Duke Erikson, Simon Moran e Ged Doherty
  • Edição: Dan Gitlin
  • Supervisão de som: Nick Bergh
  • Restauro de som: Peter Henderson
  • Pesquisa de arquivos: Kate Griffiths e Rich Remsberg

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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Começou em 2007 a escrever sobre música, com foco em rock e heavy metal. É colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022 e mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, revista Roadie Crew, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram e outras redes: @igormirandasite.
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