DISS-MISSAL

Gravadora de Drake quer rejeição da nova versão do processo sobre ‘Not Like Us’

‘Alegações de Drake são impressionantes’, diz novo pedido da Universal Music Group para encerrar ação movida pelo rapper

Aline Carlin Cordaro (@linecarlin)

Cole Burston/Getty Images; Michael Owens/Getty Images
Cole Burston/Getty Images; Michael Owens/Getty Images

A própria gravadora de Drake voltou a criticá-lo, afirmando que a nova versão do processo por difamação movido pelo rapper por causa da música “Not Like Us”, de Kendrick Lamar, é tão infundada que chega a ser “impressionante”.

Na nova moção para rejeitar a queixa emendada recentemente apresentada por Drake, a Universal Music Group (UMG) ironiza o argumento do rapper de que a decisão da NFL de censurar a palavra “pedófilo” durante a apresentação de Kendrick Lamar no Super Bowl comprova que “Not Like Us” é difamatória.

“As novas alegações de Drake são impressionantes,” diz a moção apresentada pela UMG na noite de quarta-feira.

“O foco das alegações de Drake — de que ‘o maior público da história de um show do intervalo do Super Bowl’ não ouviu Lamar chamar Drake ou sua equipe de pedófilos — revela o que realmente está em jogo: o ataque de Drake ao sucesso comercial e criativo do artista que o derrotou, e não ao conteúdo das letras de Lamar.”

O texto ainda ironiza Drake e a recente onda de ações judiciais movidas por ele, sugerindo que a censura da música em 9 de fevereiro de 2025 (três semanas após o rapper ter processado a UMG) pode ter sido motivada por ameaças de litígios adicionais.

“Drake alega que a decisão de não incluir a palavra ‘pedófilos’ (como usada na expressão ‘pedófilos certificados’) na apresentação de Lamar no Super Bowl só pode indicar que a linguagem é difamatória, mas isso ignora uma série de outras explicações — como ameaças de Drake de novos processos infundados,” afirma a petição de 33 páginas obtida pela Rolling Stone.

“Essas alegações, que visam restringir expressões artísticas legítimas protegidas pela Primeira Emenda e pela legislação de Nova York… são infundadas.”

Um porta-voz da UMG enviou uma declaração adicional na noite de quarta-feira, logo após a apresentação do novo pedido de rejeição:

“Em nenhuma parte das mais de cem páginas de ‘discurso jurídico’ escritas pelos advogados de Drake eles se dão ao trabalho de reconhecer que o próprio Drake escreveu e cantou músicas de enorme sucesso contendo provocações igualmente fortes contra outros artistas. Também não mencionam que foi Drake quem iniciou essa troca em particular,” disse o porta-voz à Rolling Stone.

“Aparentemente, os advogados de Drake acreditam que, ao participar voluntariamente de uma batalha de rap performática, ele pode ser ‘difamado’ mesmo fazendo uso do mesmo tipo de expressão criativa.”

A UMG pede que o juiz federal que supervisiona o caso em Manhattan rejeite a nova queixa de 107 páginas por ausência de alegações juridicamente viáveis. Os advogados de Drake não responderam imediatamente ao pedido de comentário feito pela Rolling Stone.

A batalha de rap de nove faixas que está no centro da disputa jurídica ganhou as manchetes em abril de 2024. Ela explodiu quando Drake lançou “Family Matters” em 3 de maio de 2024, insinuando que Lamar teria traído sua noiva e sido fisicamente violento. Kendrick respondeu com “Meet the Grahams” e “Not Like Us” — sendo esta última responsável pelo refrão viral “Certified Lover Boy, certified pedophile”.

Kendrick foi amplamente considerado vencedor na opinião pública. Drake, então, acionou sua equipe jurídica e levou a disputa para a esfera civil. Em novembro, ele entrou com petições preliminares para obter registros da UMG, iHeartMedia e Spotify, acusando as empresas de inflar artificialmente o sucesso de “Not Like Us”.

Em 15 de janeiro, Drake apresentou seu processo inicial de 81 páginas acusando a UMG de difamação e assédio. Ele colocou toda a responsabilidade na gravadora, afirmando que ela — e não Lamar — lançou e promoveu a música, devendo, portanto, ser responsabilizada pelos danos. O rapper alega que seus advogados enviaram à UMG, em julho do ano passado, uma carta informando que ele estava sofrendo “danos concretos e substanciais”. A carta fazia referência direta ao tiroteio em 7 de maio de 2024, em frente à casa de Drake, em Toronto, que deixou um segurança ferido. Segundo ele, o atentado foi consequência da reação provocada por “Not Like Us”.

No processo, Drake afirma que a UMG usou “todas as armas do seu arsenal” para transformar a música em um sucesso estrondoso às suas custas. Ele argumenta que a faixa foi “intencionalmente criada para transmitir a acusação específica, inequívoca e falsa de que Drake é um pedófilo criminoso” e que a gravadora priorizou “a ganância corporativa em detrimento da segurança e do bem-estar de seus artistas.”

Na declaração enviada na quarta-feira, a UMG conclui:

“Drake e seus advogados podem continuar tentando ‘descobrir’ evidências de conspirações absurdas para justificar por que uma música que o incomodou teve apelo global, mas não há nada a descobrir.”
“O segredo do sucesso da música é que a UMG trabalha incansavelmente em parceria com seus artistas para alcançar sucesso global.”

“Nossa parceria contínua com Drake e seu sucesso duradouro são um exemplo claro disso. Apesar das tentativas dos advogados de Drake de silenciar outros artistas e ameaçar as empresas que trabalham com eles, seguimos comprometidos com a carreira de Drake, ao mesmo tempo em que mantemos nosso apoio incondicional à liberdade criativa de todos os nossos artistas — incluindo ele.”

Em uma moção anterior para rejeitar o processo original, a UMG escreveu:

“O autor, um dos artistas mais bem-sucedidos de todos os tempos, perdeu uma batalha de rap que ele mesmo provocou e da qual participou voluntariamente. Em vez de aceitar a derrota como o artista confiante que diz ser, ele processou sua própria gravadora numa tentativa equivocada de aliviar o próprio ego.”

A gravadora argumenta ainda que nenhum ouvinte “razoável” acreditaria de fato que Drake seja um “pedófilo certificado”.

Especialistas jurídicos ouvidos pela Rolling Stone dizem que Drake enfrenta um alto grau de dificuldade para vencer esse processo. Segundo eles, a música — especialmente o battle rap — é uma forma artística em que insultos são considerados hipérboles retóricas protegidas pela Primeira Emenda.

“Not Like Us” foi a gravação de rap mais vendida de 2024 e venceu o Grammy de Música do Ano. Kendrick Lamar apresentou a canção no intervalo do Super Bowl de 2025 para um público recorde.


Essa matéria é uma tradução da Rolling Stone americana, escrita por Nancy Dillon e publicada em 7 de maio de 2025. Leia a versão original aqui.

Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero, Aline Carlin Cordaro é interessada por moda, cinema, música, política internacional, beleza e viagens. Com passagem na redação do Grupo Bandeirantes de Comunicação e no TCESP, Aline já comandou seu próprio podcast e atuou como fotógrafa. Atualmente, é mãe de pets e redatora da Rolling Stone em tempo integral.

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