Sem inovações, O Esquema Fenício é o Wes Anderson de sempre — e tudo bem!
Protagonizado por Benicio del Toro, novidade chega aos cinemas a partir desta quinta-feira, 29, e acompanha a história de um negócio familiar
Angelo Cordeiro (@angelocordeirosilva)
O Esquema Fenício é um filme de família — e familiar. Não que ele seja voltado para a família, mas por contar a história de uma família e seus negócios, e familiar por ser mais voltado àqueles que já estão acostumados com o estilo de Wes Anderson, com imagens bonitas e simétricas, personagens estranhos e um humor bem particular.
Desta vez, Wes entrega uma história mais simples e linear, sem as surpresas ou a complexidade de outros filmes seus. A trama acompanha Zsa-Zsa Korda (Benicio del Toro, A Crônica Francesa), um magnata que sobrevive a uma tentativa de assassinato e tenta se reaproximar da filha, Liesl (Mia Threapleton, Os Bucaneiros), uma noviça.
Ele a convida para ser sua herdeira e ajudá-lo num grande esquema financeiro internacional, mas ela aceita com a condição de se vingar do tio (Benedict Cumberbatch, A Incrível História de Henry Sugar), responsável pela morte da mãe. Assim, pai e filha embarcam numa jornada entre negócios, traições e tentativas de reconciliação, misturando relações familiares e interesses econômicos.
Visualmente, O Esquema Fenício segue a já conhecida assinatura de Wes, sem a ousadia de outrora. Falta aquele frescor e inspiração visual marcante que brilhou em Asteroid City (2023), no qual toda uma cidade foi criada, ou como em A Crônica Francesa (2021), no qual fomos jogados dentro de uma redação de jornal. O diretor parece no piloto automático, repetindo fórmulas conhecidas, sem se arriscar a inovar. Mesmo as cenas de ação e aventura, novidade para o cineasta, são tratadas com seu ritmo calmo e controlado, sem a adrenalina que poderiam trazer.
Um aspecto interessante é como Wes parece proteger seus personagens, que carregam cicatrizes e marcas profundas. Essa proteção faz com que a estética do filme, mesmo que nem esteja tão forte e deslumbrante aqui, pareça mais importante que o conteúdo da trama, fazendo com que os personagens careçam de desenvolvimento. Será culpa da história, escrita em conjunto com seu parceiro de longa data, Roman Coppola, ou é uma escolha consciente do próprio Wes, que cria seus personagens com tanto carinho que tem medo de afastá-los do público?
É praticamente impossível julgá-los e acompanhar suas jornadas é prazeroso, mas esse tom ameno nos limita de vê-los como seres tridimensionais. No final, a emoção parece não chegar completamente, mesmo que haja interesse em acompanhar os desdobramentos desses estranhos laços familiares.
Como era de se esperar, Wes continua a reunir personagens excêntricos, diferentes e, ao mesmo tempo, convivendo num universo próprio. Aqui, há adições interessantes. Riz Ahmed (O Som do Metal) e Michael Cera (Juno), ambos fazendo suas estreias sob a direção de Wes, parecem ter nascidos para fazer parte do universo do diretor. O mesmo pode ser dito de Mia Threapleton, filha de Kate Winslet (Titanic), que rouba a cena em diversos momentos.
Ainda assim, eles acabam presos aos estereótipos que o diretor já construiu ao longo da carreira, o que limita a profundidade deles e da história. Tom Hanks, Bryan Cranston, Jeffrey Wright e Scarlett Johansson repetem a parceria com Wes após Asteroid City, e cada um brilha em seu momento, com destaque para uma hilária sequência de disputa de basquete.
Por fim, O Esquema Fenício não surpreende, embora o estilo marcante de Wes Anderson deva agradar a quem já gosta do diretor. Por outro lado, a novidade deixa a desejar no que tange à emoção e ao fator surpresa, sendo mais um capítulo da filmografia do simétrico diretor, reafirmando sua identidade sem grande brilho, mas mostrando que, mesmo no piloto automático, ele ainda é capaz de gerar histórias agradáveis de serem vistas, ainda que esteja aquém de suas melhores obras. E tudo bem!
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