CASO P. DIDDY

Ex-namorada de Diddy deixa tribunal aos prantos após relatar ‘freak off robótico’ em aniversário

Suposta vítima de tráfico sexual, identificada como Jane, contou que uma vez disse ao empresário que os freak-offs a faziam “se sentir enojada consigo mesma”. Ele respondeu: “Garota, para com isso”

Aline Carlin Cordaro (@linecarlin)

Sean Combs foi preso pela polícia de Nova York em dezembro de 1999 e acusado de porte ilegal de arma de fogo após um tiroteio em uma boate em Manhattan | Foto: GettyImages
Sean Combs foi preso pela polícia de Nova York em dezembro de 1999 e acusado de porte ilegal de arma de fogo após um tiroteio em uma boate em Manhattan | Foto: GettyImages

Uma das ex-namoradas de Sean ‘Diddy’ Combs deixou o banco das testemunhas em lágrimas nesta sexta-feira (6) após relatar que o artista armou um “freak-off” aparentemente interminável durante o que deveria ser uma comemoração romântica e íntima de aniversário.

A mulher, identificada pelo pseudônimo Jane e listada como Vítima-2 na acusação criminal, contou que estava jantando com Combs no Nobu, em Miami, em 2023, quando ele comentou que um acompanhante masculino se juntaria a eles naquela noite.

“Eu só engoli seco”, disse Jane em seu segundo dia de depoimento, tendo dito anteriormente ao júri que já havia tentado se opor à ideia dos freak-offs, mas era ignorada por Combs. “Eu só aceitei.”

Ao voltarem para o quarto do hotel, Combs presenteou Jane com um colar. Em seguida, um homem que ela nunca tinha visto entrou no quarto. Jane contou que ficou como um “robô”, ativando uma rotina que já conhecia bem desde seu primeiro freak-off com Combs, em maio de 2021 — vestir lingerie, puxar conversa e flertar com o acompanhante.

Entre fortes soluços, Jane declarou no tribunal: “Eu só começo. Coloco meus pensamentos de lado. Me transformo em outra pessoa.”

Tentando acelerar a noite, Jane disse que começou a pedir ao homem que usasse proteção antes de terem relação sexual, o que provocou uma reação irritada de Combs. “Ele me olhava com desprezo”, contou. Ela se lembrou de ele ter dito: “É melhor você não pedir porra de camisinha nenhuma.”

Combs acabou cedendo, mas “odiou” o que aconteceu a seguir, segundo Jane. Ele teria ficado “desinteressado e muito decepcionado com o que estava acontecendo”, andando de um lado para o outro no quarto.

Depois que o homem foi embora, Combs supostamente mudou o casal de quarto, levando-os para uma suíte maior decorada para o aniversário de Jane, com flores, balões e um bolo. “Ele mudou de energia”, lembrou Jane, descrevendo Combs como positivo e carinhoso.

Os dois estavam tendo um “raro momento a sós” quando ouviram uma batida na porta. Outro acompanhante havia chegado. Jane disse que houve “horas e horas” de atividade sexual com esse segundo homem. Ela contou que não sabia exatamente quando ele foi embora, mas se lembrava de que o sol já havia nascido. Então, um terceiro homem chegou.

“Parecia ainda mais um momento abusivo porque era meu aniversário, e eu não queria fazer isso no meu aniversário”, disse Jane, chorando, afirmando que “odiava” os freak-offs, mas aceitava porque “amava meu parceiro”.

Jane namorou Diddy de janeiro de 2021 até a prisão dele, em setembro de 2024. Durante seu primeiro dia de depoimento, na quinta-feira, ela contou ao tribunal que “se apaixonou perdidamente” por Combs em um romance intenso e avassalador, até que ele introduziu os freak-offs na relação e abriu “uma caixa de Pandora no relacionamento”.

No depoimento de sexta-feira, Jane falou sobre a experiência angustiante de participar dos encontros sexuais altamente coreografados e impulsionados por drogas — também conhecidos como “noites de hotel” — que Combs supostamente organizava com acompanhantes masculinos (chamados de “entretenedores”).

Mais cedo, Jane descreveu outro freak-off em Miami, no qual estava tão drogada que desmaiava repetidamente. No chuveiro com o rapper depois do encontro, ela contou que começou a chorar. Segundo seu relato, Combs respondeu: “Não faz essa porra agora. Tô chapado e não consigo ver isso, tô muito chapado.”

Jane disse também que teve um colapso após um freak-off nos primeiros tempos do relacionamento, quando achava que teria um encontro a dois com Combs — mas acabou participando de um encontro sexual com um acompanhante que durou 18 horas. Quando terminou, Diddy disse que precisava sair, e ela começou a chorar.

“Ele disse: ‘Você tá chorando?’”, lembrou Jane, sobre Combs. “E só olhou, com nojo da minha cara.”

Dois anos após o início do relacionamento, Jane finalmente confrontou Diddy sobre os freak-offs e disse que não queria mais participar. Ela leu uma mensagem enviada a ele em setembro de 2023, na qual escreveu: “Isso está me machucando”; “É sombrio, nojento e me faz sentir enojada comigo mesma”; “Não quero mais interpretar esse papel. Eu sou muito mais do que isso”; e “Sinto que essa é a única razão pela qual você me mantém por perto e paga a casa.”

Combs supostamente respondeu: “Garota, para com isso.”

Em um momento do mesmo ano, Jane contou que ficou preocupada com a saúde de Combs e o incentivou a ficar um mês longe das drogas. Ele teria aceitado com a condição de que fizessem uma “festa da sobriedade” em um hotel em Beverly Hills. Jane disse que participou do freak-off sem usar drogas, e teve dificuldades ao longo do encontro, que durou entre 12 e 18 horas. Apesar de ser uma “festa da sobriedade”, segundo ela, Combs usou ecstasy e cocaína.

Depois de fazer sexo com dois acompanhantes, Jane contou que começou a vomitar. “Sean entrou e eu disse que tinha acabado de vomitar”, relatou Jane no tribunal. “E ele disse: ‘Isso é bom, você vai se sentir melhor. Vamos lá, o terceiro cara chegou.’”

Jane conteve as lágrimas durante grande parte de seu depoimento emocional, enquanto a promotora Maurene Comey parecia se posicionar de forma a bloquear a visão de Combs no tribunal. Combs, por sua vez, ficou recostado e aparentemente impassível. Ocasionalmente, lançava olhares rápidos ao júri — algo que o juiz Arun Subramanian o advertiu a não fazer durante a sessão anterior.

O depoimento de Jane nesta sexta-feira também marcou a primeira vez que o tribunal e o júri ouviram uma gravação feita durante um freak-off. Várias vítimas de Combs, incluindo Casandra “Cassie” Ventura, já testemunharam que ele frequentemente gravava esses encontros — e, às vezes, ameaçava divulgar os vídeos como forma de chantagem.

A gravação apresentada ao tribunal continha apenas áudio, incluindo uma conversa entre Jane, Combs e um homem chamado Don, enquanto uma música sensual tocava ao fundo. No áudio, Jane é ouvida pedindo que Don usasse camisinha — ele concorda, mas Combs entra no quarto e intervém.

Jane contou que costumava pedir aos acompanhantes que usassem camisinha, mas acabou parando porque Combs não gostava. “Ele não queria ver uma camisinha enquanto assistia”, afirmou, segundo relatos.

Em determinado momento, a promotora Comey perguntou por que Jane precisava da permissão de Combs para que um parceiro sexual usasse camisinha. Ela respondeu que ainda estava “tentando processar isso”.

Ao longo de seu depoimento, Jane descreveu as diversas formas como Combs e sua equipe supostamente a coagiram ou forçaram a fazer coisas com as quais não se sentia confortável — uma dinâmica que está no centro da acusação feita pelo Ministério Público. Além dos freak-offs, isso também incluía, segundo Jane, episódios em que foi instruída a transportar drogas para Combs.

Ela alegou, por exemplo, que Combs pediu que ela levasse um pacote com drogas de Los Angeles até Miami para encontrá-lo. Jane disse que perguntou à ex-chefe de gabinete de Combs, Kristina Khorram, se aquilo era “seguro e permitido”, ao que Khorram supostamente respondeu, de acordo com relatos: “Tá tudo bem, eu faço isso o tempo todo, é só colocar na sua bagagem despachada.”

Embora Jane tenha dito que seu primeiro freak-off com Combs, em maio de 2021, foi um encontro sexual espontâneo e divertido que a deixou “eufórica”, acreditava que seria uma experiência única e proibida. Mas, segundo ela, a partir daquele momento, 90% dos encontros sexuais com Combs passaram a envolver a presença de outro homem fazendo sexo com ela na frente dele.

“Senti, de verdade, que naquela noite se abriu uma espécie de caixa de Pandora na nossa relação. Isso estabeleceu totalmente o tom do nosso relacionamento dali pra frente”, disse Jane em seu primeiro dia no tribunal. “Foi como se uma porta tivesse se aberto — e eu não consegui mais fechá-la até o fim do relacionamento.”

Promotores já haviam afirmado que a manipulação de Jane por parte de Combs ia além do controle financeiro, incluindo ameaças e violência física. Segundo a acusação, Combs já teria arrombado portas para alcançá-la, arrastado-a pelos cabelos e a chutado enquanto ela estava encolhida no chão. (Cassie, ou Casandra Ventura, também testemunhou anteriormente que Combs usava ameaças e agressões físicas para forçá-la a participar de centenas de freak-offs durante os 11 anos em que ficaram juntos, até o fim do relacionamento em 2018.)

“O réu continuava pedindo que Jane participasse dos freak-offs, prometendo que, se ela fizesse, eles teriam momentos de qualidade juntos, sairiam para encontros, fariam viagens”, afirmou a promotora assistente Emily Johnson no primeiro dia do julgamento, no mês passado.

“Era isso que Jane mais queria: um relacionamento de verdade… Mas, embora o réu prometesse esses momentos e viagens, ele nunca cumpriu. Eram apenas mentiras que ele contava para conseguir mais noites em quartos escuros de hotel com acompanhantes.”

Os promotores informaram que só começaram a conversar com Jane em janeiro, depois de descobrirem mensagens de texto que ela enviou a Combs dias após o processo movido por Ventura em novembro de 2023. “Me dá enjoo como três páginas inteiras, palavra por palavra, descrevem exatamente minhas experiências e meu sofrimento”, escreveu Jane a Combs. Segundo a acusação, Combs teria reagido distorcendo a realidade e fazendo uma menção vaga ao apoio financeiro que dava a ela — e, por isso, o relacionamento entre eles continuou até 2024.

Na declaração inicial da defesa, a advogada de Combs, Teny Geragos, tentou diferenciar Jane de Ventura. Ela disse ao júri que, quando começou a se envolver com Jane, “Combs era mais transparente sobre sua vida amorosa”, inclusive o fato de que namorava várias mulheres. Geragos afirmou ainda que Jane era mais velha e madura do que Ventura, “vivendo sua própria vida em outro estado e criando um filho”. Segundo a defesa, depois da primeira experiência com um freak-off, “Jane começou a fazer tudo que podia para tornar essas noites incríveis para Combs”. Geragos sugeriu que Jane “fez essa escolha” por “amor”.

Mais de duas dezenas de testemunhas já depuseram no julgamento de Combs, que agora entra na quarta semana. Os promotores chamaram ex-assistentes, supostos acompanhantes masculinos e até o músico e ator Scott Mescudi, conhecido como Kid Cudi, para reforçar as acusações de que Combs usava sua riqueza, influência e círculo íntimo para cometer crimes com o objetivo de satisfazer seus desejos sexuais e proteger sua reputação.

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Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero, Aline Carlin Cordaro é interessada por moda, cinema, música, política internacional, beleza e viagens. Com passagem na redação do Grupo Bandeirantes de Comunicação e no TCESP, Aline já comandou seu próprio podcast e atuou como fotógrafa. Atualmente, é mãe de pets e redatora da Rolling Stone em tempo integral.

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