POLÊMICA

A pior época do System of a Down, segundo Serj Tankian

Vocalista conta que carta aberta escrita por ele em 2001 colocou a banda em meio a um fogo cruzado envolvendo geopolítica e terrorismo

Igor Miranda (@igormirandasite)

Serj Tankian, do System of a Down, em 2001
Serj Tankian, do System of a Down, em 2001 - Foto: L. Cohen / WireImage

Desde o início de seu trajetória, o System of a Down se caracterizou pelo posicionamento crítico e progressista em relação a temas sócio-políticos. Num dos momentos em que o vocalista Serj Tankian fez uso dessa prerrogativa, porém, a banda se viu no que o próprio frontman considera como “o período mais louco e estressante” da história do SOAD.

Trata-se do episódio em que Tankian publicou uma carta aberta pouco após o lançamento do álbum Toxicity (2001) e dos ataques terroristas de 11 de setembro, em Nova York. No texto, ele buscou explicar que o Oriente Médio também era alvo de bombardeios e apontar que a solução para o conflito deveria ser a diplomacia.

Todavia, em meio ao sucesso de seu segundo álbum de estúdio, a banda também passou a ser criticada por conservadores que acusavam Serj de defender os atos terroristas.

Serj Tankian, do System of a Down, em 2005
Serj Tankian, do System of a Down, em 2005 – Foto: J. Kempin / FilmMagic

 

Em entrevista ao podcast de Christina Rowatt (via TMDQA), o frontman do SOAD relembrou:

“Aquele foi provavelmente o período mais louco e estressante das nossas vidas enquanto banda. Tinha gente me chamando de traidor por causa das minhas posições. Eu publiquei aquele texto como uma forma de entender o ataque terrorista e a contribuição de 50 anos de política externa norte-americana, porque estávamos todos desacreditados e com medo. Tudo enquanto estávamos em turnê, então foi… sabe, foi interessante. [Risos]”

Toxicity, que se tornaria o disco de maior sucesso do System of a Down, havia acabado de sair. A Clear Channel, empresa que gerenciava mais de 100 rádios nos Estados Unidos, pediu que mais de 150 músicas fossem retiradas do ar por quaisquer tipo de referências a aviões, acidentes e afins. E o grupo de Tankian entrou na lista com a música “Chop Suey!”.

Nem isso foi o suficiente para frear o sucesso do grupo. Hoje, Toxicity contabiliza mais de 6 milhões de cópias vendidas somente nos Estados Unidos, país onde atingiria o topo da parada.

A carta de Serj Tankian que colocou o System of a Down em apuros

O título da carta aberta era “Understanding Oil” (“compreendendo o petróleo”, em português. Nela, Serj Tankian pondera sobre a posição dos Estados Unidos na ordem mundial e sobre como o país muitas vezes também contribuiu para a escalada de violência no planeta.

Leia um trecho do texto:

“Nem sempre as pessoas na Sérvia, Líbano, Iraque, Sudão e Afeganistão veem bombas caindo em alvos militares. Elas veem também a morte de civis inocentes, como nos ocorridos de ontem em Nova York. As assumidas guerras travadas pelo nosso governo aterrissaram bem no meio da nossa sala de estar.”

Na ocasião, o artista fez um apelo para que os EUA não optassem pelo caminho do revanchismo bélico e político, mas procurasse o diálogo:

“Iniciando um processo de paz, já abalaríamos as estruturas das bases de suporte a Bin Laden, e/ou todos aqueles que patrocinam atividades como as que vimos ontem, quebrando a fortaleza de extremistas no mundo do Islã. Por outro lado, se carregarmos bombas para o Afeganistão ou qualquer outro lugar para matar a sede (de sangue) do público, e com certeza matar civis inocentes no caminho, estaremos criando vários mártires de encontro à morte em retaliação contra a retaliação. Como foi visto nesses recentes eventos, você não pode parar uma pessoa que está pronta para morrer.”

O pedido, como sabemos, não foi aceito. No mesmo ano, 2001, os Estados Unidos deram início a uma nova Guerra do Afeganistão com o objetivo de destruir a Al-Qaeda e seu principal líder, Osama bin Laden, morto por tropas americanas em 2011.

Serj Tankian, que nasceu no Líbano e tem ascendência armênia, continuou abordando temas ligados à geopolítica em trabalhos futuros do System of a Down, como os álbuns Mezmerize e Hypnotize, ambos lançados em 2005.

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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Começou em 2007 a escrever sobre música, com foco em rock e heavy metal. É colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022 e mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, revista Roadie Crew, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram e outras redes: @igormirandasite.
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