REAL OU SIMULAÇÃO?

A banda que levantou suspeitas de ser IA e acumula mais de 400 mil ouvintes

Com dois álbuns lançados em junho, fotos suspeitas e nenhuma presença real, o grupo já ultrapassa 400 mil ouvintes mensais nas plataformas

Daniela Swidrak (@newtango)

Foto ilustração do Spotify (Cheng Xin/Getty Images)
Foto ilustração do Spotify (Cheng Xin/Getty Images)

Em menos de um mês de “existência”, a Velvet Sundown já soma mais de 400 mil ouvintes mensais no Spotify. A suposta banda de psicodelia suave e estética retrô lançou dois álbuns em junho e, mesmo com um histórico praticamente inexistente fora das plataformas de streaming, conseguiu furar o algoritmo e chamar atenção, não só pelo som, mas pela dúvida: quem (ou o quê) está por trás disso?

Com nomes inventivos como Gabe Farrow, Lennie West e Orion “Rio” Del Mar, o quarteto se apresenta como um grupo que mescla “alt-pop cinematográfico e soul analógico dos sonhos”. A descrição, por si só, já carrega aquele perfume de coisa gerada por IA tentando parecer artística. Mas o alerta ficou ainda mais evidente quando internautas notaram que não há nenhuma presença concreta da banda fora do universo digital, exceto um perfil no Instagram recém-criado, recheado de fotos que parecem renderizadas por inteligência artificial.

 
 
 
 
 
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A desconfiança cresceu depois que fãs mais atentos descobriram que até a suposta citação da Billboard no perfil do Spotify (“a memória de algo que você nunca viveu, e ainda assim parece real”) jamais foi publicada pela revista. Em outras palavras: tudo indica que estamos diante de mais um projeto musical construído do zero com ferramentas generativas e aparentemente, funcionando bem.

Velvet Sundown também está presente em outras plataformas, como Deezer e Apple Music. E foi na Deezer que veio a confirmação mais próxima de uma revelação: uma notinha discreta nos álbuns diz que “algumas faixas podem ter sido criadas usando inteligência artificial”.

A ascensão da banda levanta discussões mais sérias sobre o futuro da música. Segundo um estudo recente, profissionais da indústria musical podem perder até 25% de sua renda nos próximos quatro anos por causa da automação e do uso de IA. A Deezer, por exemplo, já afirmou que cerca de 10% das faixas que recebe diariamente são geradas por algoritmos, cerca de 10 mil músicas por dia.

Enquanto artistas como Nick Cave e Paul McCartney alertam sobre os perigos do uso indiscriminado de IA na música, a Velvet Sundown talvez seja apenas o sintoma mais recente de um cenário em rápida transformação. O que resta é a pergunta: estamos ouvindo arte ou apenas dados bem organizados?

 
 
 
 
 
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Nascida na Argentina mas radicada no Brasil há mais de 15 anos, Daniela achou na música sua linguagem universal. Formada em radialismo pela UNESP, virou pesquisadora criativa e firmou seu pé no jornalismo musical no portal Popload. Gateira, durante a semana procura a sua próxima banda favorita e aos finais de semana sempre acha um bom show para assistir.
TAGS: IA, Velvet Sundown