O arrependimento que Cazuza revelou a Ney Matogrosso pouco antes de morrer
Cantor falecido em 1990 namorou o ex-vocalista do Secos & Molhados, com quem manteve amizade, e abriu seu coração em alguns momentos
Guilherme Gonçalves (@guiiilherme_agb) com pauta de Igor Miranda
Apesar de terem tido um relacionamento amoroso breve, de cerca de apenas três meses, Ney Matogrosso e Cazuza permaneceram amigos até a morte do ex-vocalista do Barão Vermelho, vítima fatal da aids em 1990.
De acordo com o escritor Julio Maria, biógrafo de Ney, Cazuza revelou ao ex-companheiro um arrependimento que tinha em relação a seu pai. A confissão foi feita pouco antes de falecer.
No livro Ney Matogrosso – A Biografia (2021), Julio relata que Agenor de Miranda Araújo Neto, nome real do artista, lamentou por ter discutido tantas vezes com o pai, João Araújo, dono da Som Livre. E, especialmente: se rebelado contra o dinheiro que seu progenitor ganhava na gravadora.
O autor destaca uma fala de Cazuza (via Metrópoles), que se refere ao período em que fazia tratamentos fora do Brasil na luta contra o vírus HIV:
“Eu falei tão mal do meu pai e agora é o dinheiro dele que está me mantendo vivo.”
O ex-integrante do Barão Vermelho acabou perdendo a batalha contra a aids. Outro parceiro amoroso de Ney Matogrosso, o médico Marco de Maria, também não resistiu à doença.
João Araújo incentivou Cazuza
Apesar dos atritos, Cazuza acabou tendo seu talento reconhecido por João Araújo, falecido em 2013. Quando se deu conta da capacidade do filho, o pai incentivou a carreira tanto com o Barão Vermelho como na fase solo.
No livro Preciso Dizer que Te Amo, publicado em 2001, João relata como se impressionou quando descobriu a vocação de Cazuza para a música:
“Ele costumava se trancar no quarto para trabalhar e escrever letras, e eu respeitava o seu espaço. Por isso, me surpreendi quando o vi cantar num espetáculo. Nunca pensei que ele tivesse esse potencial vocal para cantar. Foi um susto maior para mim. Não sabia que ele tinha um talento, algo mais, um dom.”
O pai acrescenta:
“Quando ele compôs canções como ‘Codinome Beija-Flor’ [já na carreira solo], foi um susto maior para mim. Levei um susto que nunca tive.”
Pai sentiu “uma luz” no filho
Uma postagem do perfil oficial de Cazuza no Instagram, feita em 2023, destaca uma declaração do pai do cantor à revista IstoÉ. Nela, João Araújo relembra a estreia do Barão Vermelho, no início da década de 1980:
“Fui com o Moraes Moreira ver o primeiro show do Barão Vermelho em um cafofo em São Conrado. Os instrumentos, coitadinhos. Mas senti uma luz no Cazuza, cantava de forma diferente. Antes disso, eu nem sabia que ele mexia com música.”
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