23 ANOS DEPOIS

A música que Cazuza guardou após compor e nunca cantou — mas Ney Matogrosso gravou

Canção nasceu como uma poesia do artista para sua avó paterna na década de 1970 e permaneceu guardada até ser musicada por Frejat

Guilherme Gonçalves (@guiiilherme_agb)

Cazuza e Ney Matogrosso na década de 1980
Cazuza e Ney Matogrosso na década de 1980 - Fotos: reprodução / YouTube

Dentre as poesias criadas por Cazuza, muitas viraram músicas que ele mesmo viria a cantar, seja no Barão Vermelho ou em carreira solo. No entanto, uma delas permaneceu guardada por décadas e nunca foi gravada pelo chamado Poeta do Rock — apenas por Ney Matogrosso, 23 anos depois.

Essa é a história de “Poema”, lançada em 1999. A faixa, inclusive, se tornou a canção mais tocada de Ney em todos os tempos, segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad).

A letra de “Poema”, como o título aponta, é realmente uma poesia. Ela foi escrita por Cazuza para sua avó paterna, Maria José, em meados da década de 1970.

De acordo com Lucinha Araújo, mãe do cantor e compositor carioca, o poema foi um presente do filho para a avó, que o guardou até morrer, aos 100 anos.

Em entrevista a Pedro Bial (via Músicas as Melhores), Lucinha contou a história. Inicialmente, ela disse:

“Minha sogra dizia: ‘Cazuza, não espera eu morrer para fazer uma poesia para mim. Faz enquanto eu estiver viva’. Passaram-se os anos e ela me disse que ele já tinha feito a poesia. ‘Está comigo, mas não vou te mostrar’. Eu disse ‘Está bom’.”

Em seguida, complementou:

“Quando minha sogra morreu, minhas cunhadas perguntaram o que eu queria dela. Eu disse que queria as fotos do Cazuza que ela tinha, e os LPs que ele autografou para ela. Quando eu abro a sacolinha, tinha um poema junto. Era o tal poema, 23 anos depois.”

Cazuza
Cazuza – Foto: reprodução / YouTube

 

Convite a Frejat e Ney Matogrosso

De posse do poema, Lucinha Araújo convidou em 1998 Robert Frejat, antigo parceiro de Cazuza no Barão Vermelho, para musicar a letra.

Frejat atendeu ao pedido da mãe de Cazuza e depois ambos chamaram Ney Matogrosso, que havia sido namorado de Cazuza na década de 1980, para cantar.

Quando ficou pronta, “Poema” foi lançada no álbum Olhos de Farol (1999). Ela fez enorme sucesso, como já citado, e virou um dos hits de Ney. No Spotify, ela é a música mais reproduzida do artista, ex-Secos & Molhados.

Ney Matogrosso em 2024
Ney Matogrosso em 2024 – Foto: Wagner Meier / Getty Images

 

Viralização de “Poema”

Por se tratar de uma música bastante emotiva e com letra que demonstra profundo afeto, “Poema” costuma viralizar perto da data 26 de julho, que no Brasil corresponde ao “Dia dos Avós”.

Em 2023, por exemplo, uma trend fez “Poema” bombar nas redes sociais. A música teve cerca de 1,7 mil postagens diárias no TikTok e 27 mil reproduções diárias no Spotify naquele período, o que representou um crescimento de 20% na plataforma de streaming.

A letra de “Poema”, de Cazuza

Veja, abaixo a letra de “Poema”, composição de Cazuza:

“Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás”

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