Mostra Nossa Terra, Nossa Voz estreia no Spcine Play com filmes sobre lutas de povos originários
Mostra gratuita traz treze filmes de diferentes partes do mundo, com estilos e formatos variados
Angelo Cordeiro (@angelocordeirosilva)
A Mostra Nossa Terra, Nossa Voz, com curadoria de Carol Almeida e Kênia Freitas, chega ao catálogo da Spcine Play para todo Brasil, de forma gratuita, trazendo 13 filmes de diferentes partes do mundo, com estilos e formatos variados e um objetivo em comum: mapear e aproximar histórias de luta de povos espalhados por nosso planeta pelo direito à terra.
Produzida pela empresa carioca Caprisciana Produções, a Mostra é formada por 5 longas e 8 curtas-metragens de diferentes países, obras em que, nas palavras das curadoras, “a demanda pela terra e a afirmação da própria voz unem-se de forma inseparável em reivindicações políticas e estéticas”. São documentários, ficções, filmes experimentais e animações que vão além da denúncia: reforçam as identidades de cada comunidade.
“A colonização, a globalização, o capitalismo financeiro se baseiam no sequestro de territórios e na despossessão dos povos. Um processo em construção por alguns séculos. Nosso desejo nessa curadoria era unir as lutas mais diversas de povos por suas terras, em filmes que apostam nas consequências políticas e estéticas dessas reivindicações”, explica a curadora Kênia Freitas.
As obras selecionadas defendem de formas poéticas o direito à terra por meio de suas narrativas visuais e criações artísticas. Da Palestina aos Andes colombiano, passando pelo território Maxakali (entre os hoje denominados estados de Minas Gerais e Bahia, no Brasil); do México à zona da mata pernambucana, passando Favela da Prainha, no Guarujá/SP; do mar haitiano aos campos agrícolas do Mali, passando pela luta do Movimento Sem Terra, no sul de Goiás.
O Brasil aparece em filmes que mapeiam lutas de populações nativas na zona da mata de Pernambuco (Acercadacana, de Felipe Peres Calheiros), no litoral paulista (Estamos Todos Aqui, de Chica Andrade e Rafael Mellim) e no sul de Goiás (Chão, de Camila Freitas), que a mostra relaciona com outras vivências.
“Outra intenção em nosso gesto curatorial foi tentar pensar essas expressões políticas e estéticas do cinema a partir de territórios que, em comum, têm uma longa relação com violências coloniais. Quais as respostas em linguagem fílmica que diretoras e diretores da Palestina, da Colômbia, do Mali e de aldeias aborígenes na Austrália e aldeias indígenas no Brasil estão produzindo?”, completa Carol Almeida.
Com olhar atento ao público infantil, dois filmes integram a seleção: a animação brasileira Mãtãnãg, a Encantada (2019), de Shawara Maxakali e Charles Bicalho, que busca a ancestralidade em mitos e narrativas que estão na fundação do povo Maxakali e o palestino Um Filme Curto Sobre Crianças (2023), de Ibrahim Handal, que usa a imaginação infantil para desafiar fronteiras.
Entre as reflexões engajadas e/ou poéticas propostas sobre comunidades que tiveram seus territórios ancestrais invadidos ou que foram expulsas deles em processos colonizatórios ostensivos, a população palestina ganhou atenção especial. Além do curta de Ibrahim Handal, cabe destacar Ouroboros (2017), de Basma Alsharif, que usa a montagem reversa para produzir a sensação de “eterno retorno” e Seu Pai Nasceu com 100 Anos, assim como o Nakba (2017), curta experimental de Razan Al Salah, que reconstrói mapas de uma história com a ajuda de arquivos e da tecnologia.
Os filmes da Mostra ficarão disponíveis durante um ano no catálogo da Spcine Play. Confira a programação clicando aqui.
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