CRÍTICA RS

Wet Leg troca vestidos por armadura no feroz e apaixonado moisturizer

Banda britânica volta mais afiada e emotiva em disco que mistura riffs dançantes, letras de amor confuso e uma nova estética cheia de atitude

Daniela Swidrak (@newtango)

Wet Leg
Wet Leg - Alice Backham

Elas surgiram como duas garotas em vestidos longos de fazendeira, cabelos trançados com fitas fofas e guitarras afiadas que falavam sobre dates fracassados, caras esquisitos e o prazer de zombar das relações modernas sob a ótica feminina. Uma versão contemporânea de algo que sempre nos foi negado: indie feito por mulheres que não pedem licença pra rir, gritar, chutar ou terminar antes mesmo de começar. No disco de estreia, a Wet Leg soava como um alívio: finalmente alguém dizendo tudo aquilo que a gente sempre pensou.

Mas agora a coisa evoluiu. Os laços foram desfeitos, as saias camponesas ficaram no passado, e deram lugar a uma versão levemente esportiva, a micro shorts e looks modernosos da Miu Miu, cabelo rosa, sobrancelha descolorida e uma presença de palco mais feroz do que nunca. Rhian Teasdale assume de vez o controle da narrativa com uma postura empoderada, intensa e teatral, enquanto Hester Chambers — sempre mais reservada — recua elegantemente, abrindo espaço para que os músicos da turnê (e agora da formação oficial) brilhem como nunca. Henry Holmes (bateria), Ellis Durand (baixo) e Joshua Mobaraki (sintetizadores e guitarras) ajudam a moldar um som mais coeso, encorpado e com cara de banda real.

Wet Leg – Alice Backham

 

moisturizer, o segundo álbum, que chega nesta sexta-feira (11), não apenas mantém os riffs grudentos e o sarcasmo afiado, ele adiciona camadas emocionais inesperadas. O disco fala de amor, mas de um jeito que não soa piegas nem ingênuo. Em “CPR”, Rhian berra “I… I’M IN LOVE!” como se fosse um pedido de socorro, e talvez seja mesmo, seria normal sentir isso? Preciso de ajuda? Já em “catch these fists”, ela rebate a cultura do macho moderno com uma ironia certeira: ele bebe cidra de frutas vermelhas, sem chance! Algo parecido acontece em “mangetout”, quando ela pergunta: “você me acha bonita? Quer trepar comigo? Porque a maioria quer” e na sequência é algo na linha de “dá o fora, some daqui”.

A faixa “pillow talk” é um dos pontos altos: os vocais flutuam sobre um instrumental distorcido que remete ao Sonic Youth, com arranjos mais complexos e um senso de tensão quase sensual. É uma canção que parece estar sempre prestes a implodir, e é aí que mora sua beleza. Já “pokemon” e “davina mccall” trazem a leveza pop e as referências culturais divertidas que ainda marcam a identidade da banda. A balada “11:21” mostra um lado mais etéreo e vulnerável, enquanto “u and me at home” encerra o disco com uma nota agridoce, quase nostálgica: o que acontece depois que a piada dá certo? A piada no caso, era começar essa banda.

A capa do disco resume bem esse novo momento: versões caricatas, ferozes e um tanto monstruosas das duas vocalistas, como se elas mesmas estivessem zombando da própria ascensão meteórica. É bonito? Talvez não da forma convencional. Mas é forte, provocativo, moderno e cheio de propósito.

moisturizer exala confiança. É um passo à frente elegante, sem perder a mordacidade do debut. Um disco que dança entre sarcasmo e sinceridade, desejo e raiva, com firmeza e muita atitude. 

O segundo disco da Wet Leg, moisturizer, estará disponível em todas as plataformas a partir de sexta-feira, 11 de julho.

Capa de Moisturizer, segundo disco do grupo britânico Wet Leg

 

Tracklist:

1. CPR

2. liquidize

3. catch these fists

4. davina mccall

5. jennifer’s body

6. mangetout

7. pond song

8. pokemon

9. pillow talk

10. don’t speak

11. 11:21

12. u and me at home

 

Nascida na Argentina mas radicada no Brasil há mais de 15 anos, Daniela achou na música sua linguagem universal. Formada em radialismo pela UNESP, virou pesquisadora criativa e firmou seu pé no jornalismo musical no portal Popload. Gateira, durante a semana procura a sua próxima banda favorita e aos finais de semana sempre acha um bom show para assistir.
TAGS: Ellis Durand, Henry Holmes, Hester Chambers, Joshua Mobaraki, Moisturizer, Rhian Teasdale, wet leg