ENTREVISTA

Auri fala à RS sobre novo álbum ‘Candles & Beginnings’, Nightwish e clima ‘sem egos’

Projeto com dois membros da popular banda finlandesa de metal sinfônico oferece músicas etéreas nascidas de ambiente pacífico de trabalho

Igor Miranda (@igormirandasite)

A banda Auri em 2025
A banda Auri em 2025 - Foto: Pete Voutilainen

“Realmente gosto de trabalhar em um grupo onde não há egos, é tão raro — não acho que eu tenha experimentado isso fora deste reino”, diz Tuomas Holopainen, tecladista mundialmente famoso por seu trabalho no comando do Nightwish, ao falar sobre… o Auri, sua outra banda formada em 2017 e com apenas três álbuns lançados. A declaração do músico, inclusive, encontrou eco em Troy Donockley, multi-instrumentista que também faz parte das duas iniciativas. A cantora Johanna Kurkela, esposa de Holopainen e única sem relação com os baluartes do metal sinfônico, completa a formação.

Durante a entrevista concedida pelo trio à Rolling Stone Brasil, sequer houve clima para abordar questões relacionadas ao Nightwish, desde 2023 em hiato de turnês e dono de uma trajetória recheada de conflitos e mudanças de formação. A vibe do bate-papo sobre Auri era tão boa que todos pareciam interessados apenas em falar a respeito do grupo, o qual seus membros evitam definir como “projeto paralelo”. “No momento, é nossa banda principal, pois nosso maior veículo está em pausa no momento, e nunca foi algo paralelo”, esclarece Holopainen, responsável pelas respostas mais contundentes. Donockley tem abordagem mais reflexiva, enquanto Kurkela, encantadora, exala cuidado e delicadeza em suas manifestações.

A banda Auri em 2025
A banda Auri em 2025 – Foto: Pete Voutilainen

 

O trio, de sonoridade mais etérea e direcionada ao folk progressivo — sem qualquer resquício do metal do Nightwish —, lança nesta sexta-feira, 15, o álbum III — Candles & Beginnings. Musicalmente, tem proposta muito similar à dos discos anteriores, com melodias atmosféricas, experimentos bem característicos do folk da Europa Setentrional e as vocalizações bem pouco ortodoxas de Johanna. As canções “Shieldmaiden” e “Museum of Childhood” saíram como singles e destacam-se ainda faixas como “Blakey Ridge” — “não dá para não dançar ao som dela”, comenta Kurkela — e o encerramento “A Boy Travelling with His Mother”, de longe a faixa mais longa da história do grupo.

 
 
 
 
 
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Todo o processo de composição foi conduzido à distância, entre Finlândia, onde moram Tuomas e Johanna, e Inglaterra, terra natal de Troy. E eles garantem que o hiato do Nightwish em nada influenciou a criação do material. “Já sabíamos dois anos antes de começar a fazer Yesterwynde que haveria uma pausa. E nós sabíamos no Auri, muito antes de começar a trabalhar com esse álbum, que o álbum seria seguido por turnê”, conta Holopainen, mencionando a primeira excursão da carreira do trio, marcada para acontecer pela Europa entre setembro e outubro.

Os membros, aliás, esclarecem que mesmo com uma produtividade interessante para uma banda que não é seu principal trabalho — três álbuns em sete anos é uma média aceitável para os dias de hoje —, quis o destino que as atividades fossem menos intensas. O tecladista conta: “Na época do primeiro álbum [homônimo, 2018], o Nightwish estava muito ocupado e não dava para fazer uma tour após apenas um álbum. Depois a pandemia aconteceu, então não tínhamos chance de fazer uma tour para o segundo [II — Those We Don’t Speak Of, 2021]. E agora, finalmente, após o terceiro álbum, temos o tempo e o material para realizar o sonho de excursionar”.

A banda Auri em 2025
A banda Auri em 2025 – Foto: Pete Voutilainen

 

Além dos três integrantes oficiais, o Auri reúne em III — Candles & Beginnings as contribuições de Frank Van Essen (cordas), Jonas Pap (violoncelo), Juho Kanervo (baixo) e um colega de Nightwish, Kai Hahto (bateria). “Eles sempre serão parte da base da música de Auri. Frank faz todas as cordas através de uma técnica fabulosa de multicamadas. Acaba virando uma orquestra de cordas com um tamanho diferente”, aponta Donockley.

A agenda está praticamente livre para 2026, mas os músicos adiantam que devem realizar uma turnê de festivais no próximo verão europeu, inverno aqui no hemisfério sul. Até o momento, nada de Brasil ou América do Sul no itinerário. “Existe interesse e gostaríamos, mas não acontecerá em breve, infelizmente”, crava Tuomas.

 
 
 
 
 
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Independentemente do que rolar, o clima é ótimo. Chega ao ponto de Johanna pontuar que III — Candles & Beginnings é “nosso melhor álbum até agora”. “Estamos juntos por mais de dez anos e nunca houve um segundo de desconforto dentro desse grupo”, completa Holopainen, talvez recordando-se das demissões de integrantes, especialmente cantoras, de sua outra banda.

Um músico nas palavras dos demais

O que Troy Donockley e Tuomas Holopainen têm a dizer sobre Johanna Kurkela
Troy: “Johanna nunca falha para tocar nossos corações com suas tonalidades e sua expressão linda. Ela sempre nos surpreende e nos inspira também. Gostamos de nos inspirar com nossas direções musicais”.
Tuomas: “Ela também tem uma abordagem inortodoxa com harmonias e criação das melodias e efeitos. Amamos isso, é realmente interessante e único”.

Johanna Kurkela, do Auri
Johanna Kurkela, do Auri – Foto: Pete Voutilainen

 

O que Tuomas Holopainen tem a dizer sobre Troy Donockley
Tuomas: “Ele é ok. [Arranca risos de Troy] É tão harmônico, porque você nunca tem que ter medo do que você recebe dele. É sempre brilhante. Realmente gosto de trabalhar em um grupo onde não há egos. É tão raro. Eu não acho que eu tenha experimentado isso fora deste reino”.

Troy Donockley, do Nightwish e Auri
Troy Donockley, do Nightwish e Auri – Foto: Pete Voutilainen

 

O que Troy Donockley e Johanna Kurkela têm a dizer sobre Tuomas Holopainen
Troy: “Ele realmente acha que ele tocou nesse novo álbum, mas não é verdade! [Risos] Você vê que nosso querido Tuomas aqui realmente não se importa: ele só faz o que ele tem que fazer e é sempre puro e maravilhoso. Ao ouvir os arquivos que eles enviam, reconheço imediatamente quem fez o quê. Isso faz isso ainda mais especial. É incrível que nós conheçamos o estilo da música de cada um, e então nós as unimos e ela se torna nossa. É uma coisa fabulosa”.
Johanna: “As músicas desse álbum são incrivelmente lindas. São músicas que são tão contínuas”.

Tuomas Holopainen, do Nightwish e Auri
Tuomas Holopainen, do Nightwish e Auri – Foto: Pete Voutilainen

 

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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Começou em 2007 a escrever sobre música, com foco em rock e heavy metal. É colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022 e mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, revista Roadie Crew, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram e outras redes: @igormirandasite.
TAGS: Auri, Entrevistas Igor Miranda, Johanna Kurkela, nightwish, Troy Donockley, Tuomas Holopainen