CRÍTICA

‘Juntos’ tenta ser desconfortável, mas é horror corporal tímido e decepcionante

Em cartaz nos cinemas brasileiros, o filme conta com Dave Franco e Alison Brie vivendo um casal tendo que lidar com dificuldades na relação

Angelo Cordeiro (@angelocordeirosilva)

Juntos tenta ser desconfortável, mas é horror corporal tímido e decepcionante; leia a crítica
Juntos tenta ser desconfortável, mas é horror corporal tímido e decepcionante; leia a crítica - Divulgação/Diamond Films

Desde os primeiros materiais de divulgação, Juntos parecia destinado a ser um dos filmes mais desconfortáveis do ano, trazendo um casal em crise — vivido por Alison Brie (A Comédia dos Pecados) e Dave Franco (The Rental) — cujo relacionamento é posto à prova após uma ida ao campo e um encontro com o sobrenatural.

No entanto, a execução do diretor e roteirista Michael Shanks é tímida demais para um filme de horror corporal que tinha tudo para apostar na intimidade do casal protagonista — casados na vida real. Embora Brie e Franco já tenham contracenado juntos antes, é curioso ver essa relação transposta para um body horror, subgênero que poderia potencializar suas conexões, mas que aqui fica aquém do esperado.

O grande problema de Juntos, que chega aos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira, dia 14 de agosto, está justamente em não apostar naquilo que o subgênero mais se destaca: a exposição do corpo como fonte de desconforto e medo.

No filme, essa exposição é escassa e pouco explorada, e as poucas cenas em que os corpos dos personagens sofrem transformações físicas intensas — e nem tão intensas assim — estão, em sua maioria, concentradas no trailer, o que diminui seu impacto na experiência do espectador. Essa timidez em mostrar o corpo em seu estado mais vulnerável e perturbador faz com que o filme falhe em causar o desconforto que o gênero exige.

Além disso, quando Juntos finalmente investe nesses efeitos mais explícitos, eles não conseguem gerar o desconforto necessário. Isso contrasta fortemente com produções recentes como A Substância, de Coralie Fargeat, que sabe exatamente o que e como mostrar para causar incômodo no espectador. A timidez na exposição dos corpos compromete a imersão e o impacto esperado, tornando a experiência menos visceral e memorável do que poderia ser.

David Cronenberg, mestre consagrado do body horror com obras icônicas como Videodrome: A Síndrome do Vídeo (1983), A Mosca (1986) e Crimes do Futuro (2022), sempre foi capaz de chocar pela intensidade da fisicalidade mostrada na tela, ao mesmo tempo em que explora temas profundos e atuais para cada fita: a invasão da tecnologia no corpo e na mente em Videodrome, a fragilidade e deterioração física diante dos avanços científicos em A Mosca, e a constante transformação corporal ligada ao sofrimento, prazer e à evolução em Crimes do Futuro.

Juntos, por outro lado, privilegia uma abordagem mais simbólica e contida, deixando de lado o impacto visceral que o body horror poderia proporcionar. Para um filme que se apresenta como um dos melhores lançamentos do terror no ano, essa escolha resulta em uma experiência aquém do esperado, que desaponta ao não explorar todo seu potencial.

Apesar da química natural entre Dave Franco e Alison Brie conferir veracidade à dinâmica do casal, o longa não se aprofunda na essência do subgênero, permanecendo raso, e desperdiçando a oportunidade de se tornar uma obra realmente marcante e perturbadora.

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Angelo Cordeiro é repórter do núcleo de cinema da Editora Perfil, que inclui CineBuzz, Rolling Stone Brasil e Contigo. Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas, escreve sobre filmes desde 2014. Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Pisciano, mas não acredita em astrologia. São-paulino, pai de pet e cinéfilo obcecado por listas e rankings.
TAGS: Alison Brie, crítica, Dave Franco, juntos, Michael Shanks