Mesmo com tubarões à espreita, quem apavora em ‘Animais Perigosos’ é o homem
Na novidade, uma surfista esperta e de espírito livre (Hassie Harrison) é sequestrada por um serial killer obcecado por tubarões (Jai Courtney)
Angelo Cordeiro (@angelocordeirosilva)
Desde Tubarão (1975), de Steven Spielberg, filmes do gênero carregam um peso quase impossível de sustentar: superar aquele que é considerado o primeiro grande blockbuster do cinema e, até hoje, o melhor já feito sobre esses predadores do mar. A maioria se perde nessa tentativa, seja exagerando no espetáculo, seja se contentando com tramas banais e efeitos descartáveis. Ainda assim, de tempos em tempos surgem obras que, sem reinventar nada, funcionam como boas distrações. É o caso de Animais Perigosos, novo trabalho do australiano Sean Byrne (Entes Queridos), que chega aos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira (18) misturando a lógica do sharksploitation com a narrativa de serial killer.
A história parte de uma premissa simples: uma surfista é sequestrada por um assassino obcecado por tubarões e mantida refém em um barco, à mercê de um destino grotesco. O diferencial está justamente na fusão dos dois mundos — o mar como palco de horror e o criminoso como motor da tensão. Porém, apesar do que pode parecer a príncipio, não são os tubarões que ocupam o centro do medo. Eles aparecem em momentos pontuais, quase como acessórios da crueldade do vilão, reforçando que o verdadeiro predador está em terra firme.
Esse papel cabe a Jai Courtney (Esquadrão Suicida), que vive o serial killer com uma presença carismática e ao mesmo tempo repulsiva. Seu vilão tem traços caricatos, mas consegue prender a atenção e dar corpo a um filme que, sem ele, teria bem menos impacto. Do outro lado, Hassie Harrison (Yellowstone) encara o desafio de ser a final girl, e o faz com energia: é resistente, obstinada e capaz de manter o público engajado mesmo nas repetidas tentativas de fuga que, por vezes, fazem a narrativa andar em círculos.
O longa, no entanto, não escapa de suas limitações. O roteiro insiste em soluções óbvias e em reviravoltas previsíveis que reduzem o impacto da premissa, desperdiçando a chance de explorar de forma mais criativa tanto a presença dos tubarões quanto o sadismo do vilão. Byrne compensa parte disso com sua condução, característica de seus trabalhos anteriores, equilibrando momentos de humor sombrio com violência gráfica, sabendo o que mostrar e quando mostrar, fazendo bom uso dos planos mais fechados para afligir o público.
Em suma, o resultado das ações nunca chegam a ser memoráveis, mas Byrne também não deixa o ritmo cair na monotonia. No fim, não é o mar nem os tubarões que ditam a tensão, mas a figura grotesca do assassino. Animais Perigosos não se salva de certa previsibilidade e tampouco traz uma nova visão sobre a relação entre tubarões e o homem. Porém, como passatempo sangrento, encontra seus trunfos no embate entre vítima e vilão e na mistura curiosa de fórmulas que garantem um entretenimento razoavelmente eficaz.
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