A inusitada banda pop/rock que Axl Rose fez questão de ver todos os shows
Grupo irlandês promoveu revolucionária turnê com várias apresentações acompanhadas pelo vocalista do Guns N’ Roses no início da década de 1990
Igor Miranda (@igormirandasite)
Ao longo de seu processo de construção de referências, o Guns N’ Roses acabou influenciado não apenas pelo hard rock em voga na década de 1980, como, também, por outros artistas e bandas que fogem de tal estética ou de outras épocas. É de conhecimento geral, por exemplo, que o vocalista Axl Rose se inspirou bastante por nomes como Elton John e Queen, notórios pelo som mais melodioso, além de Sex Pistols, ícone do punk rock setentista.
Entretanto, ainda surpreende que o U2 tenha servido de base para o trabalho de Rose. O cantor americano gostava tanto do grupo irlandês — fundado em 1976, mas estourado no mundo todo na década de 1980 — que chegou a acompanhar uma turnê praticamente inteira deles.
Em entrevista de 1993 à Hit Parader (via Far Out), Axl foi perguntado a respeito de seu gosto musical naquele momento. Após destacar o recém-encerrado Jane’s Addiction, o artista mencionou sua predileção pelo U2, em especial pela fase daquele momento, que englobava o álbum Achtung Baby (1991) e a revolucionária turnê Zoo TV.
“Jane’s Addiction era minha banda favorita, mas eles se separaram. Normalmente não consigo ver shows, pois o ambiente é muito agitado, mas gosto muito do U2 e curtia muito os shows deles em estádios. Fui a todos os shows deles que pude. Estive ouvindo Mr. Bungle, e mesmo tendo uma relação de amor e ódio com o Faith No More, gosto muito desse álbum. Também tenho ouvido muitas coisas bizarras: Roger Waters, Jimmy Scott, Lyle Lovett, Nine Inch Nails, Alice in Chains – meu gosto abrange uma gama bem ampla.”

Relatos de bastidores apontam que Axl ficou impressionado com o aspecto tecnológico empregado pelo U2 na Zoo TV. À época, o grupo formado por Bono (voz), The Edge (guitarra), Adam Clayton (baixo) e Larry Mullen Jr. (bateria) adotou uma produção de palco bem elaborada com telões enormes que exibiam desde videoclipes sampleados até registros de TV ao vivo, sistema de iluminação robusto e um conceito teatral que envolvia exibição de canais de televisão ao vivo, dança do ventre e uma série de personagens adotados por Bono.
Tudo foi pensado como forma de criticar a “sobrecarga sensorial” que a mídia de massa provocava na sociedade naqueles tempos. Uma das inspirações foi a cobertura jornalística da Guerra do Golfo pelos canais americanos — não à toa, uma das inserções de telão mostrava registros ao vivo da cidade de Sarajevo devastada pelo conflito armado.
Para Rose, ficou um pouco mais fácil acompanhar uma parte da turnê porque a agenda do U2 coincidia com a do Guns N’ Roses em muitos momentos. No meio de 1992, por exemplo, ambas as bandas excursionavam pela Europa e passavam pelos mesmos países. Chegou ao ponto de Axl conseguir participar de um show do grupo irlandês, em Viena, na Áustria, cantando “Knockin’ on Heaven’s Door”, composição original de Bob Dylan regravada pelo Guns N’ Roses.
Troca de gentilezas entre Axl Rose e U2
Em uma entrevista da época, Bono brincou sobre — e depois explicou — a proximidade com Axl e o Guns, com direito a permitir que os colegas americanos compartilhassem de seu avião particular. Ele disse:
“Sabe como é: você tem que dar uma chance a essas bandas jovens. É tipo: quer pegar uma carona na minha bicicleta? Falando sério, Axl Rose realmente tem algo. Há algo nele que soa verdadeiro para mim. […] Ele tem uma habilidade de gritar muito interessante. Acho que ele tem passado por muita coisa, e ele tem muita coragem, assim como sua banda. Não estou familiarizado com a linguagem do hard rock o suficiente para conhecer e entender tudo o que eles fazem, mas uma música como ‘November Rain’ conecta comigo.”
À biografia U2 at the End of the World, Axl Rose explicou a situação pela qual ele passava no período: sua tumultuada separação de Erin Everly. Neste período, o cantor se identificou com a obra do U2, a ponto de declarar:
“Acho que ‘One’ é uma das melhores músicas já criadas. Eu coloco para tocar e já começo a chorar. Muito impactante. Muito boa para mim. Eu estava realmente chateado por conta da minha ex-mulher e nunca tivemos uma chance, por conta dos estragos em nossas vidas [antes de nos conhecermos]. Não aceitei isso completamente. Essa música me ajudou a enxergar isso. Eu só queria escrever uma carta para Bono dizendo: ‘seu disco fez muito por mim’.”
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