LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Hollywood se mobiliza: Billie Eilish e mais de 550 artistas ressuscitam comitê histórico contra censura governamental

Grupo criado na era McCarthy volta à ativa após suspensão de Jimmy Kimmel por pressão da administração Trump

Daniela Swidrak (@newtango)

Billie Eilish (Foto: Kevin Mazur/Getty Images for iHeartRadio); Jane Fonda (Foto: Arnold Jerocki/Getty Images)
Billie Eilish (Foto: Kevin Mazur/Getty Images for iHeartRadio); Jane Fonda (Foto: Arnold Jerocki/Getty Images)

A história está se repetindo em Hollywood, mas desta vez a indústria do entretenimento decidiu agir mais rápido. Mais de 550 artistas — entre eles Billie Eilish, Gracie Abrams, Janelle Monáe, Pedro Pascal, Spike Lee e Jane Fonda — anunciaram o relançamento do Committee For The First Amendment, um grupo que não via ação desde o fim dos anos 1940.

O gatilho foi a suspensão do programa Jimmy Kimmel Live! pela rede ABC em 17 de setembro, após a FCC (Federal Communications Commission) ameaçar o canal por causa de comentários do apresentador sobre o assassinato de Charlie Kirk. Seis dias depois, Kimmel voltou ao ar. Quando retornou, deixou claro que não pediria desculpas, mas também mirou suas críticas diretamente em Donald Trump, acusando o presidente de querer destruir sua carreira e a de centenas de funcionários do programa.

A pressão governamental sobre um talk show noturno soou alarmes imediatos na indústria. Sindicatos e figuras do entretenimento classificaram o episódio como censura explícita. E foi Jane Fonda quem decidiu resgatar o mesmo comitê que seu pai, Henry Fonda, ajudou a fundar em 1947, durante a Era McCarthy, quando artistas, políticos e intelectuais foram perseguidos, incluídos em listas negras e até presos sob acusações de comunismo.

O comunicado do comitê revivido é direto: o governo federal americano está repetindo o passado. “Essas forças retornaram”, afirma o texto, que acusa a atual administração de conduzir uma “campanha coordenada para silenciar críticos no governo, na mídia, no judiciário, na academia e na indústria do entretenimento”.

O grupo deixa claro que não se trata de polarização política, mas de princípios constitucionais. “A capacidade de criticar, questionar, protestar e até zombar daqueles no poder é fundamental para o que a América sempre aspirou ser”, diz o documento, que convoca americanos de todas as correntes ideológicas a se unirem pela Primeira Emenda, a base legal da liberdade de expressão nos Estados Unidos.

Há também um recado afiado para empresas que cedem à pressão governamental: “Para aqueles que lucram com nosso trabalho enquanto se curvam à censura governamental e se acovardam à intimidação bruta: nós vemos vocês e a história não esquecerá”.

A Disney sentiu o impacto na pele. Segundo a newsletter The Handbasket, a empresa perdeu 1,7 milhão de assinantes em suas plataformas de streaming — Disney+, Hulu e ESPN — após a suspensão de Kimmel. O número sugere que o público também não aceitou passivamente a intervenção governamental.

A ressurreição do Committee For The First Amendment marca um ponto de inflexão. Pela primeira vez em décadas, Hollywood está formalmente organizado contra o que considera uma ameaça institucional à liberdade de expressão. A pergunta que fica é: esse movimento terá força suficiente para ir além das declarações e efetivamente conter a escalada repressiva que muitos acreditam estar em curso?

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Nascida na Argentina mas radicada no Brasil há mais de 15 anos, Daniela achou na música sua linguagem universal. Formada em radialismo pela UNESP, virou pesquisadora criativa e firmou seu pé no jornalismo musical no portal Popload. Gateira, durante a semana procura a sua próxima banda favorita e aos finais de semana sempre acha um bom show para assistir.
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