As 10 melhores músicas de Frank Ocean, segundo a Rolling Stone
Comemorando 38 anos em 2025, celebramos a genialidade e sensibilidade de um dos principais artistas do século XXI
Kadu Soares (@soareskaa)
Poucos artistas contemporâneos equilibram inovação, emoção e narrativa como Frank Ocean. Desde sua estreia, o cantor se tornou sinônimo de autenticidade e de uma sensibilidade que transcende o R&B. Cada lançamento é um acontecimento — um mergulho emocional que redefine como entendemos música e vulnerabilidade.
Mesmo com uma discografia curta — basicamente nostalgia, ULTRA (2011), Channel ORANGE (2012), o projeto visual Endless (2016) e Blonde (2016) —, o legado de Frank Ocean é imenso. Em poucos discos e singles, ele moldou o som de uma geração, inspirando artistas de estilos distintos — do hip hop ao pop experimental.
Frank Ocean segue sendo um dos maiores enigmas da música moderna. Entre o sagrado e o cotidiano, o digital e o humano, sua obra retrata a vulnerabilidade contemporânea. Poucos artistas conseguem dizer tanto com tão pouco — e talvez seja por isso que, mesmo sem lançar nada há anos, ele continua sendo uma das vozes mais influentes e reverenciadas da música atual.
Por isso, montar uma lista definitiva é quase impossível. Mas, para celebrar seu aniversário nesta terça, 28, a Rolling Stone Brasil elegeu as 10 melhores músicas de Frank Ocean — faixas que condensam sua poesia e seu som etéreo.
Menções honrosas
Antes da lista começar, vale lembrar algumas faixas que ficaram fora:
“Thinking About You”
O primeiro grande sucesso de Frank. Lançada em Channel ORANGE, é uma balada melancólica que combina sintetizadores suaves e falsetes frágeis ao cantar sobre saudade. A canção apresentou o artista ao mundo como um contador de histórias intimistas, distante dos padrões do R&B da época.
“Songs for Women”
Presente na mixtape nostalgia, ULTRA, é uma das faixas que melhor capturam o espírito livre e carismático de Frank Ocean. Com batidas suaves de R&B alternativo e uma produção que mistura sensualidade e melancolia, a música reflete sobre fazer música para conquistar mulheres, mas o tom é ambíguo — entre a autocrítica e o charme.
“Sweet Life”
Com produção de Pharrell Williams — perceptível nas primeiras quatro batidas — e ironia digna de Marvin Gaye, “Sweet Life” é uma crítica elegante ao conforto burguês californiano. Quinta faixa de Channel ORANGE, combina batidas secas, baixo marcante e uma melodia que paira entre o sarcasmo e o desencanto.
“Pink + White”
Terceira faixa de Blonde e uma das produções mais vibrantes do disco, é um sonho em camadas onde Frank lembra as cores do céu no dia em que se apaixonou. Com teclados de Pharrell e vocais de Beyoncé, a música é uma das queridinhas da discografia de Ocean.
“Pink Matter”
Parceria com André 3000, é o momento mais filosófico de Channel ORANGE. A música mistura soul e psicodelia para discutir masculinidade, prazer, existencialismo e espiritualidade — um diálogo entre corpo e mente, a matéria rosa do título — que mostra Frank no auge de sua maturidade lírica.
Abaixo, as 10 melhores músicas de Frank Ocean:
A seleção a seguir não segue ordem cronológica ou de popularidade, mas de impacto emocional e relevância artística. São canções que capturam diferentes facetas de Frank Ocean: o poeta introspectivo, o cronista do amor, o crítico social e o experimentalista sonoro.
10. “Alabama”
Uma das primeiras músicas do projeto Endless, “Alabama” soa como um poema gravado no ar. Com participação de Sampha, é minimalista e quase espiritual, combinando duas vozes contrastantes de forma fascinante. Apesar de curta, prova que Frank pode transformar um esboço em arte.
9. “Nikes”
A faixa de abertura de Blonde marca o momento em que Frank assume de vez sua estética experimental. A voz filtrada e os versos sobre consumismo, luto e amor criam um manifesto geracional. “These b*tches want Nikes / They looking for a check”, canta ele, referenciando o swoosh da marca, cheques monetários e aprovação social — não tinha como ficar fora.
8. “Self Control”
Possivelmente a canção mais dolorosa de Blonde. Construída sobre um dedilhado de guitarra e camadas vocais que se dissolvem no final, “Self Control” é uma elegia sobre amor perdido e maturidade emocional. Vulnerabilidade em estado puro.
7. “Lost”
Um dos maiores hits de Channel ORANGE — e talvez a mais contagiante — fica com a sétima posição. Com produção de Malay, “Lost” é pop tropical sobre fuga, ambição e tráfico de drogas. A ironia: mesmo unindo temas tão antagônicos, Frank consegue contar uma história coesa com refrão chiclete.
6. “Nights”
Dividida em duas partes, “Nights” está exatamente na metade de Blonde. As primeiras músicas representam o dia do álbum, mais claras e animadas. Depois da transição memorável, o projeto muda o tom, o BPM e o sentimento, marcando literalmente a passagem do dia para a noite.
5. “American Wedding”
De nostalgia, ULTRA, Frank pega “Hotel California”, do Eagles, e transforma em uma história tragicômica sobre casamento e desencanto. A coragem de reinventar um clássico — mesmo sem autorização de Glenn Frey — e a sutileza lírica fazem dela um dos momentos mais criativos de sua carreira inicial.
4. “Close to You”
Um interlúdio curto, mas devastador, de Blonde. Inspirado na versão “They Long to Be (Close to You)”, de Stevie Wonder, a faixa sintetiza o Frank intimista: distorcido, confessional e belo em sua imperfeição. Em menos de dois minutos, ele transmite uma vida inteira de desejo ao falar sobre querer estar perto daquela pessoa.
3. “Pyramids”
Entrando no pódio, o épico de nove minutos de Channel ORANGE. Dividida em três atos, a faixa conta a história de três Cleópatras como metáfora da exploração do corpo feminino e do amor capitalizado hoje. Sonoramente tem de tudo: de balada sintetizada a R&B mais tradicional. É a melhor faixa do projeto.
2. “Solo”
A canção que resume a filosofia de Blonde: isolamento, autoaceitação e o poder da solitude. Com um órgão simples e um vocal em levitação, Frank divide o título da canção em dois: “solo”, de sozinho e “so low”, de estar no fundo do poço, ao descrever como se sente após um término.
1. “White Ferrari”
A mais emocional de todas. “White Ferrari” é o ponto mais alto de Blonde e talvez de toda a década de 2010. Inspirada no amor de Frank por automobilismo e em “Here, There and Everywhere”, dos Beatles — com créditos a John Lennon —, é uma canção sobre amor, tempo e transcendência. Minimalista até o silêncio, com uma segunda parte incrível sobre como cada fragmento de um antigo relacionamento o enxerga hoje.