CRÍTICA

Entre o funk dos anos 70 e o soul moderno, Leon Thomas encontra equilíbrio em PHOLKS

Em seu novo trabalho, o artista reafirma sua paixão pelo R&B, pelo funk dos anos 70/80 e pela vida que vive

Kadu Soares (@soareskaa)

Leon Thomas
Com PHOLKS, Leon Thomas entrega sete faixas que mesclam nostalgia funk e soul moderno, consolidando sua identidade no R&B contemporâneo (Foto: Josh Brasted/Getty Images for ESSENCE)

Na última sexta, 24, Leon Thomas — artista, cantor, compositor, produtor, ator, dublador, vencedor do Grammy de Melhor Música de R&B de 2024 e muito mais — lançou a EP PHOLKS (2025). São sete faixas com cerca de 22 minutos que aprofundam sua incursão entre R&B, funk e soul psicodélico. O lançamento sucede seu maior e mais elogiado álbum, MUTT (2024), e a edição deluxe lançada no início deste ano.

Leon Thomas começou cedo, fazendo a voz de Tyrone em Backyardigans (2004). Depois, trabalhou em grandes séries da Nickelodeon como iCarly (2007) e Brilhante Victória (2010), e até na peça da Broadway de O Rei Leão. Adulto, focou na música: lançou alguns trabalhos — como a EP Genesis (2018) e o álbum Electric Dusk (2023). Mas foi quando assinou a coprodução de “Snooze”, da SZA, que o reconhecimento global chegou, com o Grammy. Ele também participou da produção de “Burn”, uma das únicas faixas que funciona em Vultures 1 (2024), de Kanye West.

Agora, em PHOLKS, fica evidente, mais uma vez, seu amor pela música e principalmente pelo gênero. Ele não apenas canta, mas toca, produz e vive a música como um organismo vivo. Segundo o artista em entrevista à rádio WEAA: “Estou dando um toque futurista às minhas épocas favoritas dos anos 70 e 80”.

Seu mais novo projeto

Como ele mesmo disse, o projeto bebe do funk dos anos 70 e 80 — época em que Stevie Wonder, Marvin Gaye e James Brown reinavam — mas com um toque a mais, mudanças que só alguém apaixonado e engajado conseguiria fazer.

O lote inicial — de “Just How You Are” a “Baccarat” — contém a força maior do EP. Em “Just How You Are”, a primeira faixa, Thomas inaugura com batida de discoteca, sintetizadores potentes e um pedido para a outra metade do relacionamento se entregar como ele. Já em “My Muse”, o piano antigo e o baixo funk soam como se tivessem sido extraídos de uma fita de estúdio dos anos 80 e transportados para 2030.

Na terceira faixa, “5MoreMinutes”, vemos um Leon Thomas carismático pedindo para seu motorista esperar mais cinco, 15, 25, 45 minutos enquanto ele fica com uma garota. A faixa traz um riff de guitarra com a mesma quantidade de efeitos em sua voz e é o ponto alto do projeto. Mais à frente, “Trapped” e “Baccarat” jogam com introspecção e risco: a primeira é crua, minimalista até o refrão, quando ganha corpo e conceitos psicodélicos; a segunda, caótica de propósito, com guitarras e bateria que materializam sonoramente a confusão emocional em que ele se encontra.

E embora as últimas duas faixas, “Feel Alive” e “Lone Wolf”, funcionem bem, elas não têm o mesmo impacto. A colaboração com 4Batz é interessante — e, inclusive, bem superior a grande parte das faixas do próprio álbum dele —, porém serve mais como ponte do que como ápice.

Projeto simples: pro bem e pro mal

Aqui, técnica e sonoridade se misturam com domínio. Thomas distribui timbres como poucos: baixos que vibram como cordas de tensão, vozes que oscilam entre o suave e o estridente, arranjos que parecem construídos para palcos maiores. Entretanto, apesar da produção sofisticada e do cuidado no acabamento sonoro, PHOLKS esbarra em letras por vezes rasas, com versos menos profundos do que sua ambição técnica — uma limitação que, no entanto, não compromete a força do conjunto.

Ainda assim, o EP tem a medida exata do que precisa ser. Um álbum maior talvez soasse excessivo; este formato curto cumpre perfeitamente o papel a que se propõe. Leon Thomas entrega uma ideia coesa e bem executada, que empolga e satisfaz, mas não cria nenhuma necessidade de expansão. Diferente de MUTT, que mereceu um complemento e o encontrou no deluxe, PHOLKS é um ciclo fechado — uma narrativa pequena, mas completa, em que cada faixa é um capítulo autossuficiente.

Talvez seja essa brevidade o que torna o projeto tão eficaz. Ele termina deixando o ouvinte em harmonia, não em carência. Tudo o que Leon queria expressar está ali. PHOLKS é o retrato de um artista que entende que, às vezes, a melhor forma de mostrar amor por algo é saber quando parar.

O futuro do R&B está em boas mãos

No fim das contas, PHOLKS é uma obra pequena em tamanho, mas grande em propósito. Leon Thomas reafirma que está em uma fase madura, em que o prazer de criar supera a necessidade de provar. Ele domina o estúdio como poucos e transmite uma sensação de leveza que apenas artistas em pleno controle de sua identidade conseguem alcançar.

Mais do que um simples EP, o projeto funciona como um exercício de estilo, uma síntese de tudo que Thomas tem buscado nos últimos anos — o equilíbrio entre nostalgia e modernidade, técnica e emoção, ego e entrega. PHOLKS é o som de alguém que ama música e se sente em casa dentro dela.

E com seu talento consistente, visão criativa e amor explícito pela música, Leon Thomas pode facilmente dominar o R&B nos próximos anos — não mais como promessa, mas como nome de peso.

Kadu Soares é formando em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, passa o dia consumindo música, esportes, filmes e séries. Possui um perfil no TikTok e um blog no Substack, onde faz reviews de projetos musicais.
TAGS: Leon Thomas