FECHOU O TEMPO

A polêmica em torno da Dogma: substituição de integrantes e revelação de identidades

Banda misteriosa que veio ao Brasil no primeiro semestre passa por turbulência após apresentações adiadas, troca de três musicistas e crítica à gestão do empresário

Guilherme Gonçalves

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A banda Dogma (Foto: Ellen Artie @ellenartie)

A banda Dogma, que se notabilizou pelo fato de se apresentar com trajes de freiras góticas e decotadas, entrou em processo de implosão nos últimos dias. Os episódios envolvem a substitiução de três integrantes, a revelação de suas identidades e críticas direcionadas ao empresário.

O tempo fechou após o grupo, cuja origem é desconhecida, ter shows adiados nos Estados Unidos sem qualquer explicação. Pouco depois, veio o anúncio da saída de três integrantes: Lilith (voz), Lamia (guitarra) e Rusalka (guitarra).

Até esse momento, elas eram conhecidas apenas pelos pseudônimos. Com a saída da banda, as três revelaram oficialmente suas respectivas identidades: Grace Jane, Amber Maldonado e Patri Grief.

Dogma no Bangers Open Air 2025 - Foto: Marcos Hermes
A vocalista Lilith, da banda Dogma, no festival paulistano Bangers Open Air 2025 – Foto: Marcos Hermes

Além disso, as musicistas saíram atirando contra a gestão da Dogma. Elas acusam o empresário de “manipulação, maus-tratos e mentiras”. Rusalka, em comunicado posterior, chegou a dizer que foi substituída porque acabou detida na imigração americana devido a um visto não adequado fornecido pelo manager.

Veja o que diz o comunicado, assinado por Lilith, Lamia e Rusalka (via site Igor Miranda):

“Éramos parte da Dogma. Amamos esse projeto, mas o que está sendo vendido hoje não é a Dogma. Durante as turnês, vimos decisões unilaterais, promessas quebradas, manipulação, maus-tratos e mentiras aos fãs. A pessoa que agora controla o projeto é uma ameaça ao futuro da Dogma e não é um artista nem um músico. Ele transformou uma banda em uma marca e as pessoas em peças descartáveis. Traiu as artistas, seus parceiros e os fãs. A Dogma nasceu da conexão, da música, das histórias que compartilhamos com vocês. Substituir pessoas sem honestidade não é quem somos. A Dogma foi criado para defender os ideais de liberdade e libertação — nenhum dos dois pode existir sem integridade e sinceridade com os fãs e com todos os envolvidos no projeto. Não queremos ver mais fãs sendo enganados, gastando seu dinheiro e devoção em algo vazio. A verdadeira Dogma está aqui, com aqueles que criaram essa conexão de verdade. Mas o poder não está em nossas mãos. Está nas suas. Sempre esteve. Vocês decidem quem merece manter a música viva. Nenhum empresário pode controlar isso. Façam suas vozes serem ouvidas. Não apoiem uma mentira. As redes sociais com o nome ‘Official Dogma’ não representam mais a verdadeira banda nem aquilo que defendemos. Exijam transparência. Peçam reembolso se não receberam o que lhes foi prometido. Não deixem ninguém manipulá-los. E mais: chega de máscaras. As máscaras foram feitas para proteger identidades, não para substituir pessoas. O único que precisa tirar a máscara é ele. O poder de mudar essa história começa com o apoio de vocês. Nós continuaremos. A música, a criatividade e a verdade estão do nosso lado. Colocamos nossas almas nesse projeto e é por isso que vocês conseguiram se conectar com a gente. Nenhum empresário deveria ter o poder de tirar isso de nós.”

Com as alterações, permaneceram na Dogma apenas Nixe (baixo) e Abrahel (bateria). As outras três foram substituídas por mulheres cujas identidades, obviamente, não foram reveladas.

Em resposta ao comunicado das integrantes que saíram, a banda postou em sua conta oficial no Instagram (via site Igor Miranda):

“Estamos cientes de declarações online recentes de algumas ex-integrantes não originais do Dogma. Embora respeitemos todas que contribuíram para nossa jornada, queremos deixar claro que Dogma sempre foi e continuará sendo muito maior do que qualquer indivíduo. Dogma foi fundado com base na criatividade, colaboração e evolução. Como qualquer projeto artístico, a mudança faz parte do nosso crescimento. Cada membro, do passado e do presente, deixou uma marca que ajudou a moldar quem somos hoje, mas a visão e a música da Dogma continuam a avançar por meio da dedicação da equipe atual e do apoio de nossos fãs. Somos gratos pelo tempo, energia e momentos que cada membro compartilhou com a Dogma. Cada contribuição, grande ou pequena, tornou-se parte dessa jornada e sempre será apreciada e valorizada. Continuamos totalmente comprometidos com os valores que definem o Dogma: autenticidade, liberdade de expressão e conexão por meio da arte. Nosso foco é e sempre será na música, na mensagem e na comunidade que tornaram este projeto o que ele é. Obrigado a todos que continuam acreditando na Dogma e no que defendemos, porque Dogma nunca foi sobre quem somos, mas sim sobre o que VOCÊ escolhe se tornar…”

Sobre a Dogma

Até então, o que se sabe da Dogma é apenas que a banda foi fundada em 2023. O local de origem é desconhecido.

No mesmo ano, o grupo lançou o álbum de estreia homônimo. Em 2025, a Dogma se apresentou no Bangers Open Air, em São Paulo, e depois fez uma turnê pelo Brasil como atração de abertura de Fabio Lione, cantor do Angra.

Em texto para a Rolling Stone Brasil sobre a participação no Bangers, o jornalista Igor Miranda comentou:

Apesar de suspeitas de uma origem latina — possivelmente mexicana —, sabe-se praticamente nada a respeito da misteriosa banda composta por cinco mulheres jovens que sempre sobem ao palco vestidas de freiras. Aliás, não só isso: as madres adotam um figurino com vestido decotado, tanto na região dos seios quanto nas pernas, e maquiagem corpse paint, típica do metal extremo. Se é blasfêmia ou apenas um Halloween estendido para o resto da vida, a interpretação cabe ao leitor/ouvinte.

Fato é que, de extremo, o som não tem nada. As mulheres que adotam os pseudônimos Lilith (voz), Lamia (guitarra), Rusalka (guitarra), Nixe (baixo) e Abrahel (bateria) executam um hard rock bem formatado, com atenção às melodias. Não é pesado o suficiente para ser chamado de heavy metal, tampouco sombrio para ganhar alguma definição do subgênero gótico para além do visual. No fim das contas, soa bem, especialmente para os incautos que calham de conhecer a banda por acaso num festival — como o que está acontecendo no Memorial da América Latina. E a estética definitivamente gera curiosidade, a ponto de circular um vídeo de um funcionário da limpeza do evento ter parado sua atividade perto do palco para filmar as “irmãs”.

As controvérsias parecem estar, mesmo, em questões extramusicais, como o visual, o mistério, a mensagem das letras — basicamente de libertação, inclusive sexual — e a lista de princípios que o grupo faz questão de estampar em seu site oficial. Há itens como “Pratique o que prega”“Fanatismo é proibido”“Siga as leis da terra onde vive” e “Aja agora, pois o tempo é a coisa mais valiosa da vida e a única coisa que nunca poderemos recuperar”, que não geram polêmica, misturados a alguns que podem gerar discussão, a exemplo de “Separe sexo de sentimento; faça sexo com quem quiser, desde que seja consensual, sem rótulos ou preconceitos de qualquer tipo” e “Religião é incompatível com a razão. Você é seu próprio deus”. Mais uma vez, o julgamento cabe ao leitor/ouvinte.

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Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room, Rock Brigade e Guitarload. Atualmente, é redator em IgorMiranda.com.br, revisa livros das editoras Belas Letras e Estética Torta e edita o Morbus Zine, dedicado a resenhas de death metal e grindcore.
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