CURIOSIDADE

O que a tartaruga significa no universo de ‘It: A Coisa’

Você viu os Easter eggs nos filmes, mas os livros revelam: Pennywise não é a única entidade cósmica na história. Existe outra, e ela é a chave de tudo

Giulia Cardoso (@agiuliacardoso)

O que a tartaruga significa no universo de 'It A Coisa'
O que a tartaruga significa no universo de 'It A Coisa' - Crédito: Reprodução

Se você assistiu apenas aos filmes de It: A Coisa, provavelmente notou as referências: uma tartaruga de LEGO no quarto de Georgie, uma tartaruga nadando na pedreira onde o Clube dos Perdedores se banha. Para quem não leu a obra de Stephen King, parecem apenas detalhes aleatórios, talvez simbolizando a infância ou a lentidão do mal em Derry. Mas a verdade é muito mais complexa.

Nos livros, a Tartaruga não é um Easter egg; ela é uma das peças centrais de todo o universo de Stephen King e a chave para entender como Pennywise pode ser derrotado. Longe de ser um réptil comum, ela é uma divindade cósmica. Explicamos quem é essa entidade e por que ela é tão importante para a saga abaixo.

Quem é Maturin, a Tartaruga?

Nos livros, a Tartaruga tem um nome: Maturin, um ser ancestral e divino que existe fora do nosso universo, em um plano chamado Macroverso (o mesmo lugar de onde A Coisa veio). Ele é, literalmente, um Deus-Tartaruga.

Segundo a mitologia de King, Maturin é o criador do nosso universo. A história conta que ele teve uma dor de estômago cósmica e vomitou a nossa realidade. Por ser o criador, Maturin representa a Ordem, a Criação e a Vida. Ele é uma força benevolente, mas também é descrito como incrivelmente antigo, lento e, na maior parte do tempo, adormecido e indiferente aos dramas do universo que criou.

O inimigo natural de Pennywise

A Coisa (Pennywise) também é uma entidade do Macroverso, tão antiga quanto Maturin. No entanto, eles são opostos e inimigos naturais:

  • Maturin (A Tartaruga): É a Criação e a Ordem.
  • “A Coisa” (Pennywise): É o Caos e o Consumo. É um parasita louco que só sabe destruir e se alimentar do medo.

No livro, A Coisa despreza Maturin, considerando-o um ser velho e estúpido. Maturin, por sua vez, vê A Coisa como um inseto perigoso e insano. A batalha em Derry não é apenas sobre crianças contra um monstro; é o reflexo terreno de uma guerra cósmica entre duas divindades.

Como a Tartaruga ajuda o Clube dos Perdedores (no livro)

Nos filmes, o poder de derrotar Pennywise vem da amizade e da crença mútua dos Perdedores. No livro, essa crença tem uma “fonte” cósmica: Maturin.

A Tartaruga não aparece em Derry para lutar por eles. Ela age indiretamente. Durante o Ritual de Chüd (uma batalha psíquica de vontades que foi muito simplificada nos filmes), a consciência de Bill Denbrough viaja pelo Macroverso e encontra Maturin.

A Tartaruga, que geralmente está dormindo, desperta o suficiente para dar a Bill o conselho crucial: eles só podem vencer A Coisa se agirem com fé infantil, crença inabalável e união. Maturin lhes dá o conhecimento para lutar. A fé dos Perdedores (que faz Pennywise assumir a forma de monstros como o Lobisomem ou a Múmia) só funciona porque a crença em si é uma força cósmica, um poder que emana do Criador (Maturin).

Por que a Tartaruga (quase) não aparece nos filmes?

O diretor Andy Muschietti optou por remover essa mitologia complexa. A decisão foi focar o poder de derrotar A Coisa inteiramente na força humana dos Perdedores: a amizade, a lealdade e a coragem deles.

Nos filmes, a função de Maturin foi transferida diretamente para as crianças. Elas não precisam de um deus-tartaruga lhes dizendo para acreditar; a própria crença e união delas se torna a arma mágica.

Por isso, a Tartaruga foi rebaixada a Easter eggs: as aparições (em LEGO, na pedreira, num aquário) são um aceno respeitoso de Muschietti aos fãs dos livros, reconhecendo a importância da mitologia original, mesmo que ela não tenha sido usada na tela. Inclusive, na série prequel It: Bem-vindos a Derry já tem vários momentos que vemos tartarugas espalhadas pela cidade de Derry, continuando essa tradição.

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Jornalista em formação pela Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo, Giulia Cardoso começou em 2020 como voluntária em portais de cinema. Já foi estagiária na Perifacon e agora trabalha no núcleo de cinema da Editora Perfil, que inclui CineBuzz, Rolling Stone Brasil e Contigo.
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