4 coisas que aprendemos com ‘Aileen: A História de uma Serial Killer’
Novo documentário da Netflix revela entrevistas no corredor da morte com Aileen Wuornos, uma das serial killers mais famosas dos Estados Unidos
CT Jones
Existe um perfil típico que as pessoas esperam quando pensam em serial killers: astutos, frios — e, acima de tudo, homens. Por isso, quando Aileen Wuornos foi presa em janeiro de 1991 como principal suspeita de uma série de assassinatos a tiros na Flórida, a atenção nacional veio rapidamente. Wuornos era uma trabalhadora sexual itinerante na época dos crimes e confessou quase imediatamente ter matado sete clientes homens a tiros: Richard Mallory, 51; David Spears, 47; Charles Carskaddon, 40; Troy Burress, 50; Charles Humphreys, 56; e Walter Antonio, 62. A imprensa logo a apelidou de “a prostituta do inferno”, e sua história gerou centenas de reportagens, livros, episódios de TV e filmes. (Charlize Theron levou o Oscar de Melhor Atriz ao interpretar Wuornos em Monster – Desejo Assassino — filme de 2003 que dramatiza a vida e os crimes da assassina.)
Desde a execução de Wuornos por injeção letal, em 2002, sua história se tornou tão explorada que ela deixou de ser uma pessoa para se tornar quase um arquétipo nacional. Mas no novo documentário da Netflix, Aileen: A História de uma Serial Killer, a diretora Ellen Turner usa imagens de arquivo, gravações de áudio e entrevistas feitas na prisão com Wuornos e outras pessoas envolvidas no caso para traçar um retrato mais detalhado de sua trajetória e das experiências que a levaram aos assassinatos na Flórida. “Aileen disse: ‘Vou contar a verdade sobre meus crimes’, e, ao assistir a essa entrevista, surge uma versão muito diferente dela”, contou Turner à People. “Contraditória, muito humana e, por vezes, bastante perturbadora.”
Abaixo, veja quatro coisas que aprendemos em Aileen: A História de uma Serial Killer, segundo Rolling Stone.
Wuornos confessou aos assassinatos para proteger sua namorada — uma confissão que mais tarde ela disse ter sido coagida
De acordo com várias entrevistas concedidas a veículos de imprensa nacionais, Aileen Wuornos passou a vida inteira exposta à pobreza e ao abuso. Desde muito jovem, ela era obrigada a procurar comida e abrigo por conta própria. Tornou-se mãe aos 13 anos e colocou o bebê para adoção. Mais tarde, foi adotada pelos avós, mas afirmou que suas experiências de infância — incluindo agressões sexuais — a levaram a se rebelar e, eventualmente, fugir de casa.
Wuornos contou que teve vários relacionamentos com homens — pelo menos um deles abusivo — antes de se apaixonar por sua namorada, Tyria Moore. As duas ficaram juntas por alguns meses, mas, depois que Aileen penhorou um pertence de uma de suas vítimas, a polícia passou a investigar ambas pelos assassinatos. Após a prisão de Wuornos, os investigadores usaram Moore para arrancar uma confissão dela. Em uma ligação gravada pela polícia e reproduzida no julgamento, Moore chorava dizendo ter medo de ser presa por um crime que não cometeu.
“Não vou deixar você ir para a cadeia. Ty, eu te amo”, diz Wuornos no áudio, que aparece no documentário. “Se eu tiver que confessar tudo só para te livrar de problemas, eu vou fazer isso.”
No entanto, depois de presa, Wuornos afirmou que não teria confessado se não estivesse tão preocupada com Moore — uma situação em que, segundo ela, foi coagida pela polícia.
Em seu primeiro julgamento, Wuornos afirmou ter sido estuprada e torturada
Grande parte do conhecimento público sobre Wuornos e seu caso se concentrou em seu histórico como andarilha e trabalhadora sexual. Na época do julgamento, em 1992, muitos veículos de imprensa alegavam que ela havia matado suas vítimas por ódio aos homens. Mas Wuornos dizia que só comprara uma arma porque muitos dos homens que a contratavam para sexo também ameaçavam sua vida.
“Eu fazia programa em vários lugares dos Keys. Depois comecei nas rodovias. Já colocaram espingardas de cano duplo na minha cabeça, .357 Magnums na minha cabeça”, diz ela no documentário. “Então, quando um amigo policial me disse para comprar uma arma, foi puramente por proteção. Eu tive que fazer o que precisava fazer.”
Seu primeiro e único julgamento foi pelo assassinato de Richard Mallory, sua primeira vítima. Wuornos se declarou inocente e testemunhou dizendo que havia sido agredida, estuprada e torturada por Mallory durante o encontro, e que atirou apenas para escapar. “A única coisa que eu disse a mim mesma — e não acho que isso tenha sido premeditado de forma alguma — foi: se alguém algum dia tentar me estuprar daquele jeito, vai se arrepender de ter conhecido essa prostituta”, contou Wuornos em outra entrevista feita na prisão.

Na época do julgamento de Aileen, o promotor tinha um histórico de desprezo pelo trabalho sexual
Wuornos foi processada pelo procurador do estado da Flórida, John Tanner, conhecido por sua postura pública contra a pornografia. Segundo Wuornos e seus defensores, Tanner baseou seu caso principalmente no fato de ela ser uma trabalhadora sexual e nas interações que teve com clientes. “Você ofereceu sexo, estava deitada nua de costas. E o homem te pagou”, disse Tanner a Wuornos durante o julgamento. “E você chama de estupro quando ele está te beijando e subindo em você?”
Após ser condenada pelo assassinato de Mallory, Wuornos se declarou no contest (não contestar) nas outras seis acusações de assassinato em primeiro grau. Mesmo após jornalistas descobrirem que Mallory — sua primeira vítima — tinha histórico de agressão sexual, Tanner continuou acreditando que Wuornos era culpada.
Quando Aileen morreu, outras presas do corredor da morte acreditavam que ela não estava bem mentalmente
Após sua prisão, Wuornos se converteu ao cristianismo — uma transformação que aconteceu depois que ela conheceu Arlene Pralle, uma mulher da Flórida nascida de novo na fé. Depois de ler a história de Wuornos, Pralle começou a se corresponder com ela por cartas e acabou persuadindo-a a aceitar ser adotada por ela. Durante toda a relação, Pralle afirmava que as experiências de vida de Wuornos haviam causado danos profundos à sua saúde mental e emocional.
Os advogados de Wuornos tentaram alegar sofrimento emocional em seu primeiro julgamento, mas o argumento não foi aceito.
Entrevistadores e outras presas do corredor da morte que falaram com Wuornos nos meses anteriores à execução relataram que ela apresentava sinais claros de instabilidade mental. Diziam que ela era paranoica, acreditava estar sendo ouvida e vivia em constante ansiedade. Mas, segundo uma entrevista de arquivo da ex-presa Deirdre Hunt, Wuornos pediu às colegas que mantivessem suas suspeitas em segredo — e afirmava estar pronta para morrer. “Aileen não estava bem mentalmente, pela minha experiência”, diz Hunt no documentário. “Foi muito emocional. É difícil imaginar matar alguém inocente ou alguém que não estava plenamente ali. Ela não estava ali.”
Wuornos foi executada por injeção letal em 9 de outubro de 2002, tornando-se a terceira mulher a ser executada na Flórida. Suas últimas palavras foram que estava indo ficar com Jesus. “A verdadeira Aileen Wuornos não é uma serial killer”, diz ela no documentário. “Eu estava tão bêbada, tão perdida, tão ferrada da cabeça que acabei virando uma. Mas meu verdadeiro eu não é isso.”
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