Duo Setor Norte denuncia violência e desigualdade em novo videoclipe de ‘Herói’

Nesta quinta-feira, 30, o duo carioca Setor Norte, formado por Pedro Yuka e Rômulo Catharino, lançou o videoclipe de “Herói”. A faixa, que chegou às plataformas digitais em 25 de setembro, é o segundo single da dupla.

Setor Norte estreou sua carreira com “Até o Fim”, em 11 de julho de 2025, e mistura estilos de música urbana para falar sobre as dores individuais e coletivas da população brasileira.

A nova canção denuncia a violência policial no Rio de Janeiro e constrói um retrato obscuro da realidade das favelas cariocas. “Vai ver se no Leblon tem invasão? / Vai ver se no Leblon tem Caveirão? / Vai ver quem ganha com essa armação? / Fuzil na mão / Corpos no chão”, cantam.

A letra ainda ressalta a desigualdade no tratamento e nas oportunidades oferecidas aos moradores da favela e aos habitantes dos bairros nobres.“Todo dia morre mais um que poderia ser MC ou B-boy / Baleado porque não tinha a cara dos Backstreet Boys / Enquanto o avião da FAB carrega a farinha dos super-heróis”, continuam.

O videoclipe dirigido por Ronald Land — que já trabalhou com nomes como Planet Hemp, BK’ e L7nnon — mistura imagens do duo, trechos de um show privado e cenas de confronto entre a polícia e manifestantes.

A música também carrega um significado pessoal para os artistas. Após a morte do irmão, Marcelo Yuka, ex-integrante do Rappa, Pedro uniu seus talentos ao de Rômulo, que já trabalhava no estúdio de Marcelo, para manter o projeto vivo. Após produzir músicas para vários artistas, o duo começou a fazer algumas faixas próprias.

Apesar de ser especializado em música e técnica dos estúdios, Pedro não se via como um cantor, mas passou a estudar canto para assumir o papel de vocalista e compositor. “Herói” foi a música que o fez enxergar o potencial deste trabalho.

“Foi um período de luto para mim, e o Rômulo acompanhou isso tudo também. Então a faixa carrega sentimentos ligados a essa reflexão, mas o projeto inteiro tem um contexto social, que é uma coisa nossa de enxergar a música como uma ferramenta. E essas veias individuais, que são bonitas também, não invalidam o resto do trabalho, porque a gente consegue costurar isso bem dentro da nossa perspectiva”, diz Pedro.

Para ele, a arte precisa ser uma forma de posicionamento político. “Não é a primeira nem a última letra em que vou falar sobre isso”, lamenta. “Meu irmão falava sobre isso 30 anos atrás, e eu infelizmente tô falando sobre isso agora de novo. E o que mudou no Rio de Janeiro?” desabafa o artista, referindo-se ao irmão Marcelo.

Em uma visão distópica, o eu lírico de “Herói” imagina: “Nos palcos da periferia brasileira / Vi Spice Girls no passinho de funk / Bruno Mars cantando na igreja / Ronaldinho desistindo do futebol para ganhar uma merreca no plantão / Enquanto Gisele Bündchen corre com os filhos na mão”.

“Herói” fará parte do álbum Palavras inteiras, com lançamento previsto ainda para este ano. Confira o videoclipe:

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