ENTREVISTA RS

Nilüfer Yanya fala à RS sobre show no Brasil, novo EP e turnê com Alex G e Lorde

Em entrevista exclusiva, a cantora britânica revela expectativas para estreia no Cine Joia e reflete sobre criação artística

Daniela Swidrak (@newtango)

Nilüfer Yanya (Foto: Divulgação)
Nilüfer Yanya (Foto: Divulgação)

Descansando no Havaí após uma extensa turnê pelos Estados Unidos, Nilüfer Yanya se prepara para pisar pela primeira vez em solo brasileiro no dia 12 de novembro, no Cine Joia, em São Paulo. A artista britânica, que conquistou reconhecimento internacional com sua habilidade em mesclar indie rock, R&B e elementos lo-fi, está prestes a realizar um sonho antigo.

Logo nos primeiros riffs de guitarra de suas composições, percebe-se uma mescla entre o nostálgico e o contemporâneo que transformou Nilüfer em uma das vozes mais notáveis da cena alternativa britânica. Seus três álbuns de estúdio ostentam o cobiçado selo de Best New Music da Pitchfork, e músicas como “Like I Say (I runaway)” figuram entre as melhores do ano segundo a NME.

A conversa acontece em um momento de transição para a artista. Ela acaba de concluir a abertura da turnê de Alex G e está prestes a iniciar outra jornada com Lorde, além de lançar recentemente o EP Dancing Shoes, com quatro faixas que incluem “Kneel”, que já alcançou quase 2 milhões de plays no Spotify. “O público do Alex G era muito energético e vidrado nele. Sempre havia muitas pessoas no show porque queriam chegar cedo. Alex e sua equipe eram muito legais, a banda, todo mundo era muito receptivo”, relembra sobre a experiência recente.

Quando questionada sobre suas expectativas para a primeira apresentação no Brasil, Nilüfer admite um misto de empolgação e nervosismo. “Eu realmente não tenho ideia. Então estou muito animada. Talvez um pouco nervosa também, porque é algo diferente. Mas eu sempre quis ir ao Brasil e sempre quis tocar em um show no Brasil. Então quando a oportunidade veio, eu definitivamente quis fazer isso”.

O recém-lançado Dancing Shoes nasceu de ideias deixadas para trás durante as sessões de My Method Actor (2024), somadas a novas composições. “Havia algumas ideias que foram deixadas para depois, que nós pegamos e usamos no Dancing Shoes. Mas também havia novas ideias que aconteceram depois”, explica. Para ela, o formato de EP trouxe uma liberdade criativa diferente da pressão de um álbum completo.

“Quando você está fazendo um álbum, está pensando como isso vai funcionar, como vai ser traduzido ao vivo. No EP, você não tem essas obrigações, então pode ser um pouco mais livre.”

O título do EP, curiosamente, não faz referência a músicas dançantes no sentido tradicional. Nilüfer, que admite não ser exatamente uma dançarina e certamente não dança no palco, encontra no conceito uma metáfora mais profunda. “Para mim, é como uma metáfora para como podemos nos mover, como somos capazes de nos mover através de nossas vidas, e os movimentos que fazemos, que talvez não seja um tipo de dança tradicional, mas a linguagem do corpo, a nossa capacidade de ser humano e de processar coisas”.

A reflexão se aprofunda quando ela explora a contradição entre movimento físico e mental. “É como se a mente estivesse dançando quando não é capaz de ficar em um lugar. Talvez estar presente no corpo não seja tão importante quanto pensamos. Talvez estar presente no corpo seja mais importante. Não sei”. A hesitação final revela uma artista confortável com as ambiguidades e mistérios da existência.

Essa busca por respostas permeia seu trabalho desde My Method Actor, álbum que questiona as motivações da criação artística. “Definitivamente não descobri uma resposta, mas acho que a resolução que tive naquela época era que talvez nunca haja uma resposta, mas você pode se aproximar de saber por que, se continuar no caminho, continuar fazendo música, continuar criando”, reflete. Para ela, a criação vai além da música. “Gosto de fazer muitas coisas, de usar minhas mãos e minha mente criativa. Então, enquanto estou ocupada desse jeito, me sinto mais perto de saber quem sou”.

A busca por identidade também se manifesta em sua jornada para reconectar com suas raízes turcas. Adulta, Nilüfer começou a estudar a língua turca, embora admita que o progresso não seja o esperado. “Duolingo não está feliz comigo no momento. Eu tive algumas boas aulas, e definitivamente acho que preciso ir para a Turquia e ter mais tempo com a língua e falar com as pessoas e com a minha família, a razão pela qual eu quis me tornar fluente. Acho que essa é a única forma que vou aprender”.

Para o público brasileiro que a verá pela primeira vez, Nilüfer deixa uma mensagem direta e sincera. “Estou muito animada de ir ao Brasil e estou animada por conhecer todo mundo. Espero que as pessoas venham ao show, e a todos que compraram ingressos, obrigada. Eu só espero que seja um show bom e que possamos performar de uma forma que se conecte com todos”.

A apresentação no Cine Joia marca mais uma etapa na trajetória de uma artista que transformou a fluidez entre gêneros e a honestidade lírica brutal em sua assinatura. Com ingressos à venda desde o final de setembro, o show faz parte do projeto ÍNDIGO, label curatorial da 30e que aposta em reunir comunidades ao redor de projetos musicais alternativos. Para Nilüfer Yanya, será a oportunidade de finalmente pisar em um país que sempre desejou conhecer. Para o público brasileiro, a chance de testemunhar ao vivo a magia de uma das vozes mais originais da música alternativa contemporânea.


SERVIÇO

NILÜFER YANYA

Quando: quarta-feira, 12 de novembro de 2025
Onde: CINE JOIA | Praça Carlos Gomes, 82 – Liberdade, São Paulo–SP, 01501-040
Classificação etária: Entrada e permanência de crianças/adolescentes de 05 a 15 anos, acompanhados dos pais ou responsáveis, e de 16 a 17 anos, desacompanhados dos pais ou responsáveis legais
Ingressos online: aqui

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Nascida na Argentina mas radicada no Brasil há mais de 15 anos, Daniela achou na música sua linguagem universal. Formada em radialismo pela UNESP, virou pesquisadora criativa e firmou seu pé no jornalismo musical no portal Popload. Gateira, durante a semana procura a sua próxima banda favorita e aos finais de semana sempre acha um bom show para assistir.
TAGS: 30e, indigo, Nilüfer Yanya