PARCERIA

A homenagem de Milton Nascimento a Lô Borges, que nos deixou

Com uma mensagem emocionada no Instagram, Milton destaca amizade, legado e o vazio que Lô deixa no Brasil

Kadu Soares (@soareskaa)

Milton Nascimento e Lô Borges
Milton Nascimento e Lô Borges, dupla que marcou a história da MPB com o icônico álbum Clube da Esquina, mantiveram parceria por décadas (Fotos: Michael Putland/Getty Images e Reprodução/Instagram)

O cantor e compositor Milton Nascimento publicou uma mensagem emocionante nas redes sociais nesta segunda-feira, três de novembro, em homenagem a Lô Borges, que faleceu no domingo, dois de novembro. Segundo Milton, “Lô Borges foi — e sempre será — uma das pessoas mais importantes da vida e obra de Milton Nascimento”.

“Foram décadas e mais décadas de uma amizade e cumplicidade lindas, que resultaram em um dos álbuns mais reconhecidos da música no mundo: o Clube da Esquina. Lô nos deixará um vazio e uma saudade enormes, e o Brasil perde um de seus artistas mais geniais, inventivos e únicos”, escreveu. “Desejamos muito amor e força à família Borges, a qual acolheu Bituca em sua chegada a Belo Horizonte, lá nos anos 60 e, principalmente, ao seu filho Luca. Descanse em paz, Lô”. Veja a publicação completa abaixo:

Milton Nascimento e Lô Borges mantiveram uma ligação artística que atravessou décadas, solidificada não apenas em amizade, mas em um dos álbuns mais marcantes da música brasileira: Clube da Esquina (1972). O projeto, colaborativo entre eles, resultou em uma obra dupla lançada em março de 1972 que mescla MPB, folk, jazz-pop, rock e psicodelia, e foi gravado em novembro de 1971 na Praia de Piratininga (Niterói) e nos estúdios Odeon, no Rio de Janeiro.

A relação entre os dois ultrapassava o estúdio; ela se enraizava em confiança, aprendizado mútuo e um desejo compartilhado de explorar novos territórios musicais — como descreve o álbum, idealizado em BH na esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro Santa Tereza.

Durante o anúncio da morte do artista, Milton também fez questão de destacar o acolhimento que recebeu da família Borges em sua chegada a Belo Horizonte nos anos 60: “a qual acolheu Bituca em sua chegada a Belo Horizonte, lá nos anos 60, e, principalmente, ao seu filho Luca“. Essas palavras reforçam o caráter de fraternidade e apoio mútuo que esteve presente desde os primeiros encontros e reverberou pela história do álbum.

Vida e carreira de Lô Borges

Salomão Borges Filho, mais conhecido como Lô Borges, nasceu em 10 de janeiro de 1952, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Ainda jovem, aproximou-se de outros músicos que viriam a integrar o coletivo Clube da Esquina, como o próprio Milton Nascimento e Toninho Horta, grupo que se tornaria central para a música popular brasileira. No início da década de 1970, esse movimento trouxe ao país um novo olhar sonoro, misturando MPB, jazz, rock e música mineira. Em 1972, Lô Borges coassinou o álbum Clube da Esquina (1972) e lançou seu primeiro álbum solo, intitulado simplesmente Lô Borges (1972), cuja capa com um par de tênis fez o LP ganhar o apelido de “Disco do Tênis”. Nos anos seguintes, experimentou diferentes linguagens musicais, lançando A Via-Láctea (1979) e Nuvem Cigana (1982), sempre com a marca de sua guitarra, sua voz e sua identidade mineira.

Lô Borges é amplamente reconhecido como um dos compositores mais influentes da música brasileira contemporânea. Suas canções atravessaram gerações: faixas como “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, “O Trem Azul” e “Paisagem da Janela” continuam sendo regravadas e referenciadas por novos artistas. Seu trabalho ajudou a definir a sonoridade sonhadora da “mineiridade” nos anos 70 — uma mistura de MPB, rock e jazz. Sua influência não ficou restrita ao Brasil: músicas e arranjos de foram citados por grupos internacionais, e o “Disco do Tênis” virou cult entre ouvintes que descobriram o álbum décadas depois.

Mesmo depois de mais de cinco décadas de carreira, Lô Borges manteve uma impressionante regularidade de lançamentos. A partir de 2019, lançou álbuns como Rio da Lua (2019), Dínamo (2020), Muito Além do Fim (2021), Chama Viva (2022) e Não Me Espere na Estação (2023). Em 2025, seu álbum Céu de Giz, Lô Borges convida Zeca Baleiro (2025) também apareceu como novidade. Ainda que sua agenda fosse interrompida por questões de saúde, ele seguia se apresentando — como no Festival Estilo Brasil, com a turnê “Esquinas & Canções”. Essa fase final da carreira atestava não só sua longevidade, mas também sua adaptação a diferentes tempos, plataformas e públicos.

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Kadu Soares é formando em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, passa o dia consumindo música, esportes, filmes e séries. Possui um perfil no TikTok e um blog no Substack, onde faz reviews de projetos musicais.
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