‘Clube da Esquina’, de Lô Borges e Milton Nascimento, foi reconhecido em lista da Rolling Stone EUA
O artista, que faleceu na noite de domingo, é uma das maiores referências da música nacional
Gabriela Nangino (@gabinangino)
Morreu o renomado cantor da música brasileira Lô Borges, aos 73 anos, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Lô estava internado na Unidade Terapia Intensiva (UTI) desde 17 de outubro devido a uma intoxicação por medicamentos. A notícia foi confirmada pela família do artista nesta segunda, 3; segundo a assessoria de comunicação do hospital, a morte ocorreu na noite de domingo (2), às 20h50, devido à falência múltipla de órgãos.
Nascido em Belo Horizonte em 10 de janeiro de 1952, Salmão Borges Filho começou a tocar ainda na adolescência e logo se destacou por seu talento precoce como instrumentista e compositor. Ao lado de Milton Nascimento, ele foi um dos fundadores do Clube da Esquina, aos 20 anos de idade. No mesmo ano do primeiro lançamento do grupo, Lô também lançou seu primeiro álbum solo, Lô Borges (1972).
A discografia de Lô ainda inclui sucessos como A Via-Láctea (1979), Nuvem Cigana (1982) e Um Dia e Meio (2003), nos quais explorou diferentes linguagens musicais — porém sempre fiel à guitarra e à sonoridade mineira, que se consolidaram como sua marca registrada.
Além de sua parceria histórica com Milton Nascimento, Lô trabalhou com artistas como Beto Guedes, Tavito, Toninho Horta e Fernando Brant. Entre suas canções mais conhecidas estão verdadeiros hinos da MPB, como “O Trem Azul”, “Tudo Que Você Podia Ser”, “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo” e “Paisagem da Janela”.
Seu estilo influenciou várias gerações de músicos, como Samuel Rosa, do Skank, e Céu, que frequentemente citam Lô como uma das maiores referências da música nacional, especialmente por sua capacidade original de unir poesia, melodia e experimentação. Nos anos mais recentes, o cantor vinha mantendo uma produção constante, lançando um álbum por ano com diferentes parceiros e músicas inéditas desde 2019.
O Clube da Esquina
O movimento inovador da música nacional surgiu em Belo Horizonte no final da década de 1960 e início dos anos 1970, incorporando elementos do rock, da bossa nova, do jazz e da música clássica aos ritmos regionais.
Originado no período da Ditadura brasileira (1964-1985), as canções do Clube da Esquina carregam mensagens sociais, políticas e existenciais importantes para a formação cultural da nação. Em um período de censura e repressão, o movimento se tornou símbolo de resistência e da busca por liberdade e novas possibilidades artísticas — e marcou profundamente a carreira de Lô.
O álbum homônimo Clube da Esquina (1972) é o trabalho mais emblemático do coletivo. Além de receber grande aclamação crítica no Brasil, ele também é reconhecido internacionalmente. Em 2023, ele foi eleito o 4º melhor álbum de rock latino-americano pela Rolling Stone EUA. Confira o que a Rolling Stone EUA disse:
Há uma quietude sobrenatural nas músicas do Clube da Esquina, pilar da música brasileira do coletivo de Milton Nascimento, Lô Borges e outros compositores com ideias semelhantes. Mais do que um álbum conceitual, Clube da Esquina parece uma experiência religiosa.
No centro deste álbum está a genialidade de Nascimento – a maravilha infantil em sua fusão de nostalgia dos Beatles, folk sagrado afro-brasileiro, um toque de dissonância e peculiaridades de vanguarda. As músicas transbordam de imagens potentes: o sol na cabeça enquanto você anda em um trem azul em “O Trem Azul”, um girassol da cor de seu cabelo na psicodélica “Um Girassol Da Cor Do Seu Cabelo” – ambas de Borges”.
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