10 músicos que seguiram para uma carreira na política, segundo Rolling Stone
Zohran Mamdani está prestes a se tornar o primeiro ex-rapper a ocupar o cargo de prefeito de Nova York — mas muitos outros já transformaram o talento no microfone em uma carreira no governo
ROLLING STONE EUA
A essa altura, o candidato à prefeitura de Nova York Zohran Mamdani é conhecido por muitas coisas além de sua breve fase como rapper, quando usava o nome artístico Mr. Cardamom: suas credenciais como socialista democrata, seu carisma na campanha e sua vitória improvável nas primárias democratas da cidade, no início deste ano. Mas não há como negar que sua história com o microfone — marcada por canções que celebravam sua herança indiana e a cultura de Uganda, onde nasceu — já revelava traços do político “do povo” que ele se tornaria. E, embora nunca tenha lançado uma diss track, seus ataques ao ex-governador de Nova York Andrew Cuomo nos debates foram tão duros quanto qualquer verso de Kendrick Lamar sobre Drake.
Mamdani também não é o primeiro a trocar a música pelo serviço público. Talvez seja a familiaridade com o palco e com o público que leve rappers e roqueiros a tentar essa mudança de carreira — nem sempre com grande sucesso. O ex-American Idol Clay Aiken concorreu duas vezes ao Congresso na Carolina do Norte, vencendo as primárias democratas em 2014, mas perdendo na eleição geral. A lenda do country Kinky Friedman se candidatou a governador do Texas, Justin Jeffre, cantor do 98 Degrees, disputou a prefeitura de Cincinnati e, em 2010, Wyclef Jean fez uma tentativa quixotesca de se eleger presidente do Haiti — embora nenhuma dessas empreitadas tenha dado certo. (Jean nem sequer atendia aos requisitos constitucionais para aparecer na cédula de votação.)
Músicos com ambições políticas mais modestas parecem ter mais chances de encontrar seu espaço. Krist Novoselic, baixista do Nirvana, por exemplo, foi eleito membro do Comitê Estadual Democrata e atuou como presidente do Partido Democrata do Condado de Wahkiakum, em Washington, de 2006 a 2009. Já Max Weinberg, veterano baterista da E Street Band, manteve as coisas ainda mais locais, servindo no conselho de planejamento e zoneamento costeiro de Delray, na Flórida. Ainda assim, não é impossível que estrelas como essas alcancem cargos mais visíveis no governo — é só perguntar a qualquer um desta lista.
Abaixo, relembre 10 músicos que seguiram para uma carreira na política, segundo Rolling Stone.
Jon Fishman
Um dos fundadores da banda de jam rock Phish (batizada em homenagem a ele, segundo conta a história), o baterista Jon Fishman teve uma breve passagem pela política local. Entre endossar Bernie Sanders nas primárias democratas de 2016 e 2020 e se apresentar em eventos de campanha, ele defendeu — com Krist Novoselic, do Nirvana — a adoção do voto por classificação de preferência (ranked-choice voting) em eleições estaduais no Maine, que se tornou o primeiro estado do país a adotar o sistema, em 2018. Em 2017, Fishman conquistou uma vaga no conselho municipal de Lincolnville, pequena cidade costeira do Maine onde morava havia uma década. “Bernie dizia: ‘Olhem todos vocês que se envolveram na campanha do Sanders e se importam com essas questões — vocês deveriam concorrer a cargos locais’”, contou Fishman na época. “Eu poderia ficar sentado sem me envolver, mas temos um interesse pessoal no bem-estar da cidade.” Ele não concorreu à reeleição em 2020, mas, para ser justo, provavelmente era difícil equilibrar as turnês do Phish com reuniões administrativas regulares.
Sonny Bono
Sonny Bono, metade da dupla Sonny & Cher, foi casado com a cantora por uma década. Com sucessos dos anos 1960 como “I Got You Babe” e alguns programas de variedades nos anos 1970, o casal era uma verdadeira realeza da cultura pop. Embora Cher fosse a cantora mais celebrada, Bono se consolidou na televisão como apresentador e convidado em diversas séries. Cansado da burocracia que, segundo ele, o impedia de abrir um restaurante em Palm Springs, Califórnia, Bono se candidatou a prefeito da cidade e serviu de 1988 a 1992, quando tentou, sem sucesso, obter a indicação republicana para uma das cadeiras do Senado do estado. Em 1994, venceu uma eleição para substituir um deputado que se aposentava, representando o 44º distrito da Califórnia, no sul de Los Angeles, e ocupou o cargo até morrer em um acidente de esqui, quatro anos depois. No Congresso, Bono criticou o presidente da Câmara, Newt Gingrich, por sua forma de lidar com a imprensa e defendeu projetos de restauração ambiental na Califórnia. Uma lei que ampliou o prazo dos direitos autorais, aprovada após sua morte, recebeu seu nome, em homenagem à sua autoria de uma versão anterior do projeto. Entre todos que já serviram no Congresso dos EUA, Bono é o único com um single nº 1 nas paradas pop em seu currículo.
John Hall
O vocalista e membro fundador da banda de soft rock Orleans, John Hall, também foi músico de estúdio e compositor para nomes como Janis Joplin, Bonnie Raitt e Jackson Browne. Ele coescreveu os maiores sucessos de sua banda nos anos 1970 — “Dance with Me” e “Still the One” —, esta última usada sem autorização pelas campanhas presidenciais de George W. Bush e John McCain nos anos 2000, para a indignação de Hall. A partir do fim da década de 1970, ele passou a atuar ativamente na política do norte do estado de Nova York, organizando campanhas antinucleares e de proteção ambiental. Entrou para o legislativo do condado de Ulster em 1989 e para o conselho de educação de Saugerties em 1991, mais tarde cumprindo dois mandatos no Congresso como democrata pelo 19º distrito de Nova York, de 2007 a 2011. Em Washington, continuou defendendo causas ambientais e integrou uma subcomissão sobre independência energética e mudanças climáticas. Hall colocou a música em pausa enquanto estava no cargo, mas em 2021 lançou o álbum solo Reclaiming My Time — uma referência à expressão usada nos procedimentos do Congresso.
Martha Reeves
Ícone da Motown e vocalista do grupo Martha & the Vandellas — que nos deu clássicos imortais como “Nowhere to Run” e “Dancing in the Streets” —, Martha Reeves garantiu seu lugar na lista da Rolling Stone das 200 maiores cantoras de todos os tempos. Ela também teve a distinção de ser eleita para o conselho municipal de Detroit, sua cidade natal, exercendo o cargo de 2005 a 2009. Seu mandato, no entanto, teve tropeços, e sua tentativa de reeleição foi marcada por uma gafe embaraçosa: um panfleto de campanha cheio de erros que a identificava como jogadora do time da NFL Detroit Lions. Ainda assim, Reeves encarou sua experiência com serenidade. “Foi uma educação que eu não conseguiria em nenhum outro lugar”, disse ao deixar o cargo, celebrando sua despedida com um pequeno show para amigos e familiares. “Estou feliz que acabou, mas não me arrependo nem um pouco.”
Jimmie Davis
Poucas biografias são tão americanas quanto a de Jimmie Davis. Nascido no início do século XX, filho de meeiros pobres da Louisiana que nem lembravam a data exata de seu nascimento, ele iniciou uma carreira na música country nos anos 1920 e ajudou a popularizar o gênero muito além de suas origens rurais. Também era conhecido por suas canções gospel. Sua gravação de 1940 de “You Are My Sunshine”, cuja autoria original é disputada, virou um fenômeno nacional e inspirou centenas de regravações; décadas depois, foi declarada canção oficial do estado da Louisiana. Davis começou a subir na carreira política no fim dos anos 1930, primeiro como comissário de segurança em Shreveport, depois trabalhando em um órgão regulador de serviços públicos. Em 1944, concorreu a governador da Louisiana como democrata, se apresentando em comícios, e ficou conhecido como o “governador cantor” após assumir o cargo — que, em diversas ocasiões, abandonava temporariamente para se dedicar ao entretenimento, como no filme Louisiana (1947), em que interpretou a si. Mesmo assim, o período ficou marcado por conquistas progressistas em assistência social, educação e saúde pública, e Davis foi o primeiro a tirar uma carteira de motorista no estado, após sancionar a lei que criou o sistema. Ele cumpriu um segundo mandato como governador entre 1960 e 1964, após anos afastado, com uma plataforma de manutenção das políticas segregacionistas. De volta ao governo, adotou medidas para reprimir o movimento pelos direitos civis.
Beto O’Rourke
Assim como Mamdani, Beto O’Rourke chegou ao cenário político nacional e logo viu seus oponentes tentarem atacá-lo devido a seu passado musical. O ex-membro do conselho municipal de El Paso e representante por três mandatos do 16º distrito do Texas deixou sua cadeira na Câmara dos Deputados dos EUA para enfrentar o senador Ted Cruz em uma disputa acirrada em 2018. Naquele verão, o Partido Republicano do Texas publicou no Twitter a capa de The El Paso Pussycats, um EP de 1993 que O’Rourke havia gravado com sua antiga banda de pós-hardcore, Foss, tocando baixo (na foto, ele vestia o vestido floral de sua então namorada). A postagem pretendia zombar do candidato, insinuando que ele teria fugido de debates com Cruz para tocar em shows — mas acabou sendo amplamente ridicularizada e, ao que tudo indica, não ajudou o senador, que venceu por uma margem apertada em novembro. (Os rivais participaram de dois debates; Cruz faltou a um terceiro, em formato de assembleia pública.)
Enquanto isso, O’Rourke foi creditado por impulsionar aliados democratas nas eleições e estabeleceu um recorde de votos para um candidato do partido na história do Texas. Muitos analistas, na verdade, consideraram seu passado punk um ponto positivo de credibilidade. O’Rourke falava com frequência sobre a cena DIY de El Paso nos anos 1990, onde conheceu o baterista e vocalista da Foss, Cedric Bixler-Zavala, que mais tarde ganharia fama como frontman do At the Drive-In e do The Mars Volta. Durante a campanha de 2017, ele contou à Rolling Stone que era fã de The Clash, Minor Threat e Rites of Spring, e que admirava a gravadora independente Dischord Records, de Washington, D.C.
Antonio Delgado
Antonio Delgado representou o 19º distrito de Nova York na Câmara dos Representantes antes de deixar o cargo no meio do segundo mandato para se tornar vice-governador do estado, posição que ocupa atualmente. Antes de entrar na política, Delgado era rapper, lançando versos de cunho social sobre justiça racial, a guerra no Iraque e a necessidade de um sistema de saúde universal, sob o nome artístico AD the Voice. Os republicanos tentaram usar sua carreira musical contra ele na disputa para desbancar o deputado John Faso, chamando-o de “rapper da cidade grande” em anúncios de ataque. A estratégia não funcionou: Delgado derrotou Faso, foi reeleito dois anos depois e hoje atua no governo estadual em Albany.
Bruce Franks Jr.
Bruce Franks Jr. ganhou destaque como líder e mediador dos protestos na região de St. Louis que eclodiram após o assassinato do jovem negro Michael Brown, de 18 anos, por um policial em Ferguson, Missouri, em 2014. Também era conhecido como um battle rapper apaixonado, sob o nome Ooops — sua batalha mais famosa foi contra o rapper californiano Daylyt, em 2015. Franks defendia reformas na justiça criminal e responsabilização policial, participando ativamente do movimento Black Lives Matter, e chegou a ser preso em vários protestos. Em 2016, ele conquistou uma vaga na Câmara dos Representantes do Missouri depois de processar e anular o resultado das primárias democratas, alegando erro na contagem dos votos por correspondência, e vencer a nova votação ordenada pela Justiça.
Embora seu ativismo tenha inspirado muitas pessoas — e até rendido o curta indicado ao Oscar St. Louis Superman —, Franks renunciou ao cargo em 2019, alegando problemas de saúde mental. No mesmo ano, foi multado em mais de US$ 14 mil pela Comissão de Ética do Missouri por violações de financiamento de campanha. Em 2024, foi acusado de furto e falsificação no Arizona por supostamente falsificar documentos de uma empresa gráfica sobre panfletos de campanha que nunca foram enviados. Ele fechou um acordo judicial, admitindo culpa por um dos crimes e recebendo liberdade condicional supervisionada, enquanto nove outras acusações foram retiradas.
Justin Brannan
Justin Brannan, guitarrista de hardcore punk nos anos 1990 e 2000, frequentemente misturava música e política em suas bandas Indecision e Most Precious Blood — esta última, assim como ele, defendia abertamente direitos dos animais, ambientalismo e justiça social, com apelo entre o público straight edge. Antes de ingressar no governo, Brannan trabalhou em finanças, incluindo um cargo no Bear Stearns, banco que colapsou durante a crise de 2008. Depois, tornou-se assessor de comunicação de um vereador de Nova York que representava o 47º distrito, que abrange bairros como Bay Ridge, onde ele cresceu e fundou um clube político democrata.
Brannan assumiu a cadeira do conselho em 2017, foi reeleito em 2021 e conseguiu mantê-la após o redesenho do distrito para as eleições de 2024. Sua candidatura de 2025 para controlador financeiro da cidade de Nova York não teve sucesso, no entanto. Apesar de sua ascensão na política municipal, ele ainda gosta de lembrar de seus dias na estrada, repletos de histórias caóticas e intensas. “A gente pedia especificamente para os agentes nos mandarem para onde as outras bandas não queriam ir”, contou em 2024 ao site de hardcore No Echo. “Às vezes era incrível. Às vezes, a gente acabava sendo revistado.”
Jerry Butler
Jerry Butler, que morreu aos 85 anos em fevereiro, começou como vocalista principal do grupo de R&B The Impressions, que integrou no fim dos anos 1950 ao lado de Curtis Mayfield, após os dois se conhecerem em um coro de igreja em Chicago. Pouco depois, iniciou uma carreira solo de sucesso, lançando clássicos da soul music como “Only the Strong Survive” e “Let It Be Me”. Conhecido pelo estilo frio e elegante que lhe rendeu o apelido “The Iceman”, Butler se tornou comissário do Condado de Cook (Illinois) em 1986, cargo que ocupou até sua aposentadoria, em 2018, e concluiu um mestrado em administração pública em 1993.
Ele era defensor do acesso público à saúde e teve papel crucial na inauguração do Hospital John H. Stroger Jr., em 2002. Após sua morte, colegas o homenagearam como alguém que trabalhou para melhorar os recursos e a infraestrutura comunitária. Ao longo de mais de 30 anos de serviço público, Butler continuou se apresentando nos fins de semana como Jerry “Iceman” Butler.