CLÁSSICO DO ROCK

‘Definitely Maybe’ mostra um Oasis faminto e poderoso [RESENHA]

Carregando influências que vão de Beatles a shoegaze, álbum estreia do Oasis devolveu orgulho à música do Reino Unido na década de 1990

Daniela Swidrak (@newtango)

Definitely Maybe (Foto: Divulgação)
Definitely Maybe (Foto: Divulgação)

Em agosto de 1994, poucos meses após a morte de Kurt Cobain e do colapso do grunge, Oasis lançou Definitely Maybe. A virada foi brutal: enquanto o título de trabalho de Cobain para o último álbum do Nirvana — que viria a ser In Utero — era “I Hate Myself and I Want to Die” (“Eu Me Odeio e Quero Morrer”), o maior hino dos Gallagher gritava o oposto: “Live Forever” (“Viver Eternamente”). Era como se, de repente, o rock tivesse trocado o peso da desesperança pela arrogância como combustível.

O disco surgiu em um Reino Unido entediado com guitarras tímidas e bandas indecisas. O público queria atitude, e o Oasis apareceu cuspindo confiança e cerveja morna, com refrãos que pareciam querer dominar o planeta. Em 30 de agosto de 1994, Definitely Maybe chegou às lojas após os singles “Supersonic”, “Shakermaker” e “Live Forever” e foi direto ao topo das paradas britânicas, tornando-se o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido até então. Era o início oficial do Britpop como movimento e da era em que os Gallagher falariam mais alto que qualquer um.

O jornal The Guardian cravou que o disco era “pop de guitarra destilado em sua forma mais simples e infecciosa” e estava certo. Era uma coleção de faixas que soavam familiares e novas ao mesmo tempo, tipo Beatles com ressaca e atitude de Sex Pistols. O álbum tinha fome, insolência e um otimismo quase ingênuo.

Galeria - Oasis - Definitely Maybe
Oasis – ‘Definitely Maybe’ – Foto: reprodução

A criação do disco foi caótica, sem um produtor fixo e com gravações recomeçadas mais de uma vez. Só quando o engenheiro Owen Morris entrou em cena é que as coisas se encaixaram, ou, melhor, explodiram. Ele limpou o excesso de guitarras de Noel, cortou trechos inteiros e deu ao som um empurrão de pura urgência. O resultado foi um álbum que soava maior do que o próprio estúdio: denso, sujo, glorioso.

Parte dessa textura também veio da engenheira de som Anjali Dutt, que havia trabalhado em Loveless (1991), do My Bloody Valentine. Sua experiência trouxe ao disco uma camada quase shoegaze de densidade e ambiência. E as referências não param por ali, o álbum também carrega ecos do A Storm in Heaven, do The Verve, lançado um ano antes. Durante a turnê conjunta das duas bandas, no fim de 1993, Noel “pegou emprestado” o título “Slide Away” e algumas ideias de textura de guitarra encharcadas de eco. Essas influências moldaram o som expansivo e quase espiritual que o Oasis transformou em pura ambição de estádio.

Apesar de todo o caos que se seguiria (brigas, manchetes e egos fora de controle), Definitely Maybe segue como um retrato limpo de uma banda faminta e em formação. Antes da superexposição, antes do Blur, antes das quedas de braço e dos voos privados, havia só o desejo brutal de ser ouvido. Noel Gallagher resumiu: “Eu basicamente disse tudo o que queria em ‘Rock ’N’ Roll Star’, ‘Live Forever’ e ‘Cigarettes & Alcohol’. Depois disso, só me repeti, mas de formas mais caras”.

Três décadas depois, Definitely Maybe segue atual, insolente e imortal. Foi o disco que devolveu o orgulho a um país e o brilho às guitarras. Um grito de juventude, um manifesto de quem se recusa a ser pequeno, encapsulando a ambição desmedida de uma geração que acreditava que podia, sim, ter tudo. Não era imaginação, eles encontraram algo pelo qual valia a pena viver.

Rolling Stone Brasil: Edição de Colecionador — Oasis

Rolling Stone Brasil, edição de colecionador, Oasis
Rolling Stone Brasil, edição de colecionador, Oasis

Rolling Stone Brasil – Edição de colecionador. O sonho do retorno do Oasis com Noel e Liam Gallagher na formação parecia impossível. Não é mais. A dupla, cheia de atitude, deixou sua marca no rock mundial logo nos dois primeiros discos de estúdio, Definitely Maybe (1994) e (What’s the Story) Morning Glory? (1995), cujas músicas ressoam com os antigos e novos fãs.

Os Gallagher sobreviveram ao teste do tempo e estão melhores do que nunca, seja tecnicamente ou pela relação interna. Neste especial, a Rolling Stone Brasil resgata as brigas, disseca o estilo inconfundível dos irmãos de Manchester e faz uma análise aprofundada da discografia, lados B e melhores músicas da banda. À venda no site Loja Perfil.

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Nascida na Argentina mas radicada no Brasil há mais de 15 anos, Daniela achou na música sua linguagem universal. Formada em radialismo pela UNESP, virou pesquisadora criativa e firmou seu pé no jornalismo musical no portal Popload. Gateira, durante a semana procura a sua próxima banda favorita e aos finais de semana sempre acha um bom show para assistir.
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