Hungria dá um ‘reset’ na vida e na carreira em nova EP
Novo projeto marca retorno às origens e um recomeço artístico e pessoal para o rapper, que se recupera de um grave problema de saúde
Kadu Soares (@soareskaa)
Quem nunca pensou em apertar o botão de “reset” na vida? Seja por estar insatisfeito com o trabalho, relacionamento ou só querer refazer algo de que não gosta. O rapper Hungria não só pensou, mas viveu esse processo — no corpo, na música e na alma. Em meio a uma recuperação delicada após uma internação que o tirou dos palcos e o fez repensar prioridades, o artista brasiliense lançou Reset (2025), novo EP dividido em duas partes que atualiza sua estética, além de servir como reconexão com suas raízes no rap de Brasília.
O projeto conta com seis faixas, participação da Tribo da Periferia e clipes gravados em ritmo acelerado, todos dirigidos por Mateus Rigola. “As gravações tiveram que ser feitas num tempo recorde, porque conciliar as agendas de todos é um grande desafio”, explica Hungria em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil. Com o objetivo de lançar tudo ainda em 2025, a equipe correu contra o tempo, mas manteve o compromisso sem perder a essência: “Mesmo assim, deixando que a música falasse mais alto e que a simplicidade do ambiente reforçasse a verdade do projeto”.
Mais do que um lançamento musical, Reset simboliza um ponto de virada. “Aprendi que a gente precisa desacelerar às vezes, respirar e lembrar de onde veio”, diz ele, refletindo sobre os acontecimentos recentes na sua vida. “A internação me trouxe uma vontade ainda maior de fazer o bem, de ser justo, de ajudar o próximo e de aproveitar mais momentos com minha família”.
O episódio que motivou esse novo ciclo teve início com um susto: Hungria foi internado após uma suspeita de intoxicação por metanol, substância altamente tóxica. O diagnóstico ainda é envolto em investigação, mas o impacto físico e emocional foi profundo. “Foi um susto pra mim e pra minha família. Estar debilitado traz muita reflexão, e eu sempre falo sobre aproveitar a vida, as pessoas e cada segundo. Durante os dias de hospital e da recuperação, as manifestações de apoio foram diversas e intensas, essenciais pra minha melhora. Em nenhum momento me senti sozinho”, explicou.
De volta ao começo e com o coração na Ceilândia
O novo projeto marca também uma espécie de reencontro com as origens musicais. A parceria com Duckjay, da Tribo da Periferia, reforça o vínculo com o som das ruas e o perfil característico do rap do Distrito Federal. “Há um tempo eu sentia a necessidade de esquentar a cena de Brasília, e acho que o nosso público também merecia isso”, afirma. Essa conexão também é estética, cultural e afetiva: “Perceber que preservo minhas raízes, que elas continuam muito vivas”.
A Ceilândia, bairro onde cresceu, continua sendo bússola. “De tantos aprendizados que a Ceilândia me proporcionou, sem dúvida, a forma como as pessoas vivem é o que mais me inspira e segue pulsando forte em mim”, afirma. Ao lado da referência sonora, ele também valoriza a singularidade local, misturando referências e tendências que, segundo ele, “fica nítido quando o som é de Brasília, tem um detalhe, uma característica própria que se destaca e não passa despercebida”.
Musicalmente, o EP é um retrato fiel da vida do artista e de quem o acompanha. São temas universais, como amor, superação, festa, caos, tratados com autenticidade. “Não tem narrativa melhor do que conectar as pessoas com suas próprias verdades”, explica.
Essa intenção de conexão também passa pelo clipe mais emocional da série. “Menino de Papel“, música que integra a trilha sonora da novela “Três Graças“, foi selecionada com um propósito claro: “Ela tem uma missão linda: levar uma mensagem de fé, de confiança, de dias melhores, porque Deus está à frente de tudo”.
Uma estrada de novos recomeços

Hungria não esconde que ainda há muito a realizar. “Não sou um artista pronto, não me sinto completo”, afirma. “Sinto que posso aprender mais e contribuir ainda mais com minha música na vida das pessoas.” E esse desejo de seguir evoluindo caminha junto com a consciência de quem passou por momentos difíceis e sobreviveu. “Eu já me considerava grato, mas com certeza saí dessa experiência ainda mais consciente dos privilégios de estar saudável novamente.”
Mesmo diante de um cronograma apertado, ele preferiu dividir o EP em dois momentos. “Foi uma forma de mostrar que preparamos um projeto especial, com carinho, e apresentar em dois momentos foi o jeito que encontramos de fazer o público degustar com calma e ficar com gostinho de quero mais.”
Hoje, o “reset” da Hungria não é só metáfora. É um capítulo vivido — e agora, cantado.