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Como Rachel Sennott, criadora de ‘I Love LA’, está carregando a bandeira da Geração Z

Sua comédia da HBO está sendo elogiada — e às vezes criticada — como a próxima Girls. Mas a roteirista e atriz entregou uma obra ousada que é inteiramente dela

ROLLING STONE EUA

Rachel Sennott (Foto: Amy Sussman/Getty Images)
Rachel Sennott (Foto: Amy Sussman/Getty Images)

Toda geração ganha seus próprios “hangout shows”, de Cheers a Friends e How I Met Your Mother. Mas havia um vazio notável para a Geração Z — até a chegada, no mês passado, de I Love LA. Criada, escrita e coestrelada por Rachel Sennott, a série da HBO acompanha quatro jovens entre 27 e 29 anos tentando se virar na cidade-título: trabalhando (mais ou menos), festejando, se ferrando e simplesmente transando. As duas que têm empregos “de verdade” trabalham como agente de talentos e stylist de celebridades. As outras duas são uma influenciadora cuja vida implodiu e uma nepo baby profissional. As pessoas falam em astrologia e usam a palavra “cunt” como adjetivo. Elas fumam vape, usam muita cocaína e cetamina, e dão muitos gritinhos. E, se tudo isso soa meio desagradável, talvez essa seja, em parte, a intenção. I Love LA pode não ser para todos — que obra é? — mas é tão vivido e tão afiado que parece uma injeção de adrenalina no coração de um cenário pós-Peak TV cheio de séries sem ponto de vista.

Sennott, 30, surgiu na cena de comédia da NYU ao lado de Ayo Edebiri, ganhou destaque como estrela de Shiva Baby (2020) e levou seu humor ousado para Bottoms, comédia adolescente sexual e sem pudores, onde foi corroteirista e protagonista. Mas I Love LA salta aos olhos como uma declaração de, sim, uma voz de geração. Assim como Girls, esta é uma série que sabe que suas personagens são ridículas, ingênuas e autocentradas — e tanto as celebra quanto as satiriza com delicadeza. A perspectiva nasce da empatia. Como Sennott disse ao Deadline: “Eu queria que a gente não se levasse tão a sério”. Mas, acrescentou, citando Covid, o mercado de trabalho, nosso clima político polarizado e a prisão das redes sociais, o mundo no qual jovens adultos foram empurrados não é exatamente acolhedor: “É simplesmente difícil. Não conseguimos conquistar as mesmas coisas que nossos pais na mesma idade. Parece que nada do que você faz é suficiente.”

Não surpreende que, assim como Girls, o discurso online em torno de I Love LA seja polarizado e muitas vezes sarcástico. (Sennott disse que, na verdade, modelou a série mais em Entourage, embora esse fato provavelmente não vá deter os sarcásticos de plantão.) Alguns chamam as personagens de superficiais (vide: Entourage). Outros de irritantes (vide: Girls ou Entourage). Um grupo previsível de rabugentos reclama que a série não reflete a Los Angeles deles (vide: uma cidade com 4 milhões de pessoas e cerca de 1.300 km²). Mas talvez não precise ser tão profundo assim. No centro, I Love LA é uma chance de passar tempo com um elenco de personagens — e atores — selecionado segundo o gosto de Sennott. Ou seja, um grupo de estrelas em ascensão que, individual e coletivamente, captura algo inapreensível sobre o agora.

Odessa A’zion (filha da atriz e criadora de Better Things, Pamela Adlon) está elétrica como a influenciadora Tallulah, uma agente do caos narcisista que, ainda assim, revela lampejos de carinho e humanidade. Jordan Firstman, que surgiu fazendo impressões de humor conceitual no Instagram durante a pandemia, traz o equilíbrio perfeito entre vaidade e insegurança ao stylist Charlie. True Whitaker, filha de Forest, abraça a ironia meta de interpretar a intelectualmente vazia Alani, que ganha um emprego de fachada com um cargo pomposo na produtora do pai vencedor do Oscar. Josh Hutcherson, o “everyguy” da Gen Z, é o perfeito “homem comum” no meio de tudo isso como Dylan, o doce professor e namorado da aspirante a agente Maia, personagem neurótica de Sennott.

 

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Como qualquer bom técnico, Sennott montou um time de jogadores talentosos e os colocou na melhor posição para brilhar. Eles parecem amigos de verdade, que realmente vivem na cidade que estão retratando, que de fato passaram pelos altos e baixos da vida aos vinte e poucos, quando você não está onde queria estar — e nem tem certeza do porquê queria estar lá em primeiro lugar. As especificidades de I Love LA podem não ser as suas. Mas a história pertence a todos nós.

*Esta matéria foi escrita por Maria Fontoura e publicada na Rolling Stone em 20 de novembro de 2025. Leia aqui.

+++LEIA MAIS: ‘I Love LA’, série de comédia da HBO estrelada pela Geração Z, é renovada para 2ª temporada

TAGS: geração z, hbo, I Love LA, Rachel Sennott