Ryan Coogler explica por que disse ‘não’ à Academia: ‘Não sou bom em julgar filmes’
Diretor de Pecadores (2025) diz que decisão histórica se baseou também em sobrecarga e honestidade criativa, não em ressentimento
Kadu Soares (@soareskaa)
Ryan Coogler, um dos cineastas mais influentes da atualidade, revelou por que recusou um convite para integrar a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a mesma instituição responsável pelo Oscar. Em conversa recente com o The New York Times, o diretor deixou claro que sua escolha não foi motivada por animosidade, mas por prioridades pessoais e um senso profundo de honestidade sobre seu papel dentro da indústria cinematográfica.
O convite para se juntar à Academia teria acontecido em 2016, ainda no início de sua ascensão meteórica, quando Coogler já acumulava atenção em torno de filmes como Fruitvale Station: A Última Parada (2013), Creed: Nascido para Lutar (2015) e, futuramente, Pantera Negra (2018). Mesmo na época, ele já estava comprometido com sua escola de cinema e com atividades sindicais, e recusou por sentir que não estava preparado para o tipo de responsabilidade que acompanha decisões de votação e julgamento de obras de colegas. “Não sou bom em julgar coisas, cara. O ato de ‘Ei, escolha a melhor coisa’ é muito estressante para mim, mesmo quando não há nada em jogo”, disse ele.
Coogler explicou que sua relação com o cinema sempre foi mais artesanal do que institucional. Para ele, o foco está em fazer o trabalho duro, nos bastidores, ao lado das equipes que tornam os filmes possíveis, e não em ocupar posições de destaque em assembleias ou conselhos administrativos. “As pessoas veem o smoking, veem o tapete vermelho, mas são as pessoas comuns da classe trabalhadora que fazem esses filmes acontecerem”, afirmou, ressaltando sua preferência por estar vestido de “macacão e uniforme da Columbia” em vez de formalidades públicas.
Essa resistência ao glamour institucional reflete o modo como Coogler aborda o próprio processo criativo. Seu mais recente filme, Pecadores (2025), não se apoia em franquias estabelecidas ou histórias de heróis de quadrinhos, ao contrário, é uma narrativa profundamente pessoal sobre dois irmãos que abrem um bar de música country no sul dos Estados Unidos durante a era Jim Crow. A produção exigiu dele uma vulnerabilidade e intimidade que reforçaram sua ideia de que fazer cinema é um ato de mergulho na experiência humana, não de competição por prêmios ou honrarias.
Mesmo Pecadores sendo um dos filmes originais de maior bilheteria em mais de uma década e acumulando elogios da crítica, Coogler segue focado no trabalho à frente, demonstrando que sua recusa ao convite da Academia foi uma escolha deliberada, alinhada ao seu compromisso com a arte e com o ofício de contar histórias — mais do que com formalismos hierárquicos.
Coogler segue em frente com grandes projetos
Enquanto continua a promover Pecadores, Coogler já está imerso no desenvolvimento do terceiro filme de Pantera Negra, que deverá contar com a participação de Denzel Washington, um projeto que amplia ainda mais sua ambição criativa e sua estatura no cinema global.
Além disso, ele prepara uma série de iniciativas pela Proximity Media, sua produtora, incluindo um revival planejado de Arquivo X e outros projetos com potencial para explorar narrativas ousadas e contar histórias que desafiam gêneros.
Quanto ao futuro além de Pantera Negra 3, Coogler permanece pragmático: “Veremos o que acontece”.
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