LISTA RS

Os 25 melhores álbuns brasileiros de 2025, segundo Rolling Stone Brasil

As vozes, batidas e histórias que transformaram 2025 em um dos anos mais vibrantes e plurais da música nacional; veja

Felipe Grutter, Gabriela Nangino, Giovana Laurelli, Henrique Nascimento, Igor Miranda, Kadu Soares e Pedro Hollanda

Os melhores álbuns brasileiros de 2025, segundo Rolling Stone Brasil
Os melhores álbuns brasileiros de 2025, segundo Rolling Stone Brasil (Arte por Felipe Fiuza)

A lista da Rolling Stone Brasil dos melhores discos nacionais de 2025 nasce de um ano especialmente fértil para a música brasileira. Entre dezenas de lançamentos relevantes, o recorte final evidencia um cenário plural, atravessado por diferentes gerações, linguagens e ambições artísticas.

No centro desse panorama está Coisas Naturais, de Marina Sena, um disco que transforma intimidade em linguagem pop sofisticada, equilibrando leveza, sensualidade e ousadia. Em O Mundo Dá Voltas, BaianaSystem reafirma seu papel como uma das forças mais inquietas da música brasileira, unindo discurso político, pulsão coletiva e experimentação sonora em faixas feitas para o corpo e para o pensamento. Urias, por sua vez, entrega em Carranca um trabalho intenso e conceitual, no qual eletrônica, percussões e MPB sustentam reflexões sobre fé, desejo, fama e ancestralidade.

O rap ocupa lugar central na fotografia de 2025. BK’ alcança um de seus momentos mais maduros em Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer, álbum que combina confissão pessoal, olhar social e produção refinada. Já Ebony transforma KM2 em uma retrospectiva de sua vida e vivências, ampliando o alcance estético e narrativo do rap nacional contemporâneo.

Este ano tão multifacetado também abre espaço para menções honrosas: Fleezus se destaca pela vulnerabilidade e escrita afiada de Crônicas; Letícia Fialho costura delicadeza e prosperidade em Revoada Baile Canção; Ajuliacosta consolida sua identidade em Novo Testamento; Walfredo em Busca da Simbiose aprofunda sua pesquisa sonora em Mágico Imagético Circular; e Vera Fischer Era Clubber captura o espírito noturno e performático de 2025 em VERAS I.

A força do ano também se manifesta em discos que apostam na sensibilidade e no encontro entre tradição e contemporaneidade. Em Um Mar Pra Cada Um, Luedji Luna aprofunda sua escrita em um álbum de atmosferas fluidas. Já Dominguinho, assinado por João Gomes, Jota.pê e Mestrinho, celebra a música brasileira a partir do diálogo entre gerações e linguagens, que aproxima o forró, o cancioneiro e o pop em arranjos leves.

Poucos anos recentes conseguiram reunir tanta variedade, personalidade e urgência quanto 2025. Com avaliação de 90 álbuns de estúdios, a seleção dos melhores discos nacionais reflete esse momento expansivo, no qual gêneros se cruzam, cenas se sobrepõem e artistas encontram novas formas de traduzir o país em som.

Abaixo, veja os 25 melhores álbuns brasileiros de 2025, segundo Rolling Stone Brasil:

25º lugar: Serena & Venus, Tasha & Tracie

O duo Tasha & Tracie, formado pelas gêmeas Okereke, tem virado o rap brasileiro de cabeça para baixo. Desde o início da carreira, a dupla acumula sucesso musical e comercial, mas, acima de tudo, construiu uma base artística sólida, marcada por atitude, letras afiadas e posicionamentos firmes.

O começo não foi fácil: os primeiros lançamentos vieram sem grandes recursos. Com o sucesso inevitável e merecido, as irmãs finalmente conseguiram idealizar Serena & Venus, o primeiro álbum de estúdio, um projeto-sonho que reacendeu a paixão delas por fazer música.

“A gente foi vendo nossa capacidade de criar. A gente ama rap, escuta a vida inteira. Quando começamos a ouvir nossas próprias rimas, pensamos: ‘Caramba, consegui alcançar isso que eu queria e entregar no meu álbum’”, contou Tracie à Rolling Stone Brasil.

Ao longo de 21 faixas, iniciadas por um interlúdio narrado por Helen Helene, do quadro “Lá Vem a História”, do Rá-Tim-Bum, as gêmeas revisitam momentos turbulentos da vida pessoal, como o período em que a mãe passou pelo sistema carcerário, e celebram a consolidação de seu império como MPIFs, Mulheres Pretas Independentes de Favela. — Felipe Grutter

Capa de Serena & Venus, de Tasha & Tracie
Capa de Serena & Venus, de Tasha & Tracie (Foto: Divulgação)

+++ASSISTA: TASHA & TRACIE – Rolling Stone Entrevista #75

24º lugar: Novo Mundo, Arnaldo Antunes

As movimentações criativas de atuais e ex-membros dos Titãs estiveram sob forte análise de público e crítica desde o encerramento da turnê Titãs Encontro, em março de 2024. O que fazer após uma das excursões musicais de maior sucesso na história da música brasileira?

Criativamente inquieto e experimental, Arnaldo Antunes ofereceu, como costumeiro, o oposto do que muitos fãs esperariam — e o que vários deles sequer sabiam que poderiam adorar. Novo Mundo tem nada de nostálgico. Reflete o presente e traz um olhar sobre futuro, seja na estética musical ligeiramente dançante e guiada por batidas e ambiências bem sacadas, ou nas letras por vezes distópicas e ácidas, mas sempre transbordando a classe habitual do ex/eterno Titã.

As faixas com participações representam os maiores destaques. David Byrne (Talking Heads) engrandece a dançante “Body Corpo” e a indie “Não Dá Para Ficar Parado Aí Na Porta”, enquanto Marisa Monte oferece delicadeza — e conforta os fãs de Tribalistas — em “Sou Só”. Há ainda Ana Frango Elétrico na pop “Pra Não Falar Mal” e Vandal na cortante faixa-título. — Igor Miranda

Capa de Novo Mundo, de Arnaldo Antunes
Capa de Novo Mundo, de Arnaldo Antunes (Foto: Divulgação)

23º lugar: Contato, Pelados

O terceiro álbum de estúdio da banda paulista Pelados tem um som alienígena. Entre os sintetizadores dos anos oitenta e o indie de 2010, a sonoridade de Contato nos dá a impressão de que chegamos a um novo planeta, completamente desconhecido: a São Paulo de 2025. Com comentários sobre a colonização da rede marciana de minimercados (“Planeta Oxxo”) e a luz que se torna desconhecida na cidade de constantes apagões e intermináveis boletos (“Enel”), fica claro que o quinteto formado por Helena Cruz, Lauiz, Manu Julian, Theo Cecato e Vicente Tassara tem um caso sério de não se levar a sério. E ainda bem!

A leveza com o qual as letras satíricas surgem e a liberdade temática, que amplia a gama de emoções retratadas no álbum, só poderiam ser alcançadas por meio dessa noção que a banda felizmente encontrou tão cedo. O disco já abre com o verso “vamos acabar com a MPB”, posicionando a banda de um modo muito diferente de outras bandas e artistas do Sudeste, que parecem querer se tornar os novos ídolos da chamada Nova MPB. Ao negarem que fazem parte da mais conceituada forma de produção musical do país, os integrantes se libertam para falar da vida urbana, tecnologia, frustrações e erros amorosos e até mesmo da MPB, homenageando o ícone Gilberto Gil em “Instruções para Descongelar Gilberto Gil no Espaco”. Ao não tentarem replicar ninguém, criaram algo novo.

Os Pelados já dão a dica: a música pop não precisa ser levada tão a sério por quem a faz, e apenas assim ela tem uma boa chance de ser levada a sério por quem a escuta. — Giovana Laurelli

Capa de Contato, de Pelados (Foto: Divulgação)
Capa de Contato, de Pelados (Foto: Divulgação)

22º lugar: Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto, Djonga

Quem mais teria coragem de juntar Milton Nascimento (com Auto-Tune), Samuel Rosa, referências a Kanye West e Taylor Swift e aos irmãos João e Maria num mesmo disco? Só Djonga.

Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto (2025), oitavo álbum de sua carreira, posiciona o rapper como um dos artistas mais audaciosos da música brasileira, demolindo fronteiras entre gerações, gêneros e expectativas.

O título é uma metáfora que atravessa todas as 12 faixas: a fome insaciável por evolução, por contar novas histórias, por provocar reflexões profundas. Produzido por Coyote Beatz e Rapaz do Dread e mixado por Arthur Luna, o disco transita entre dor e resiliência, entre referências pop globais e a ancestralidade mineira, entre a complexidade lírica que sempre marcou Djonga e uma sofisticação musical que poucos rappers brasileiros ousam buscar.

Demoro a Dormir“, com Milton Nascimento, é o momento histórico do disco. “João e Maria” reinventa a fábula clássica com um coral infantil arrebatador. E “Melhor que Ontem“, com o sample de Los Hermanos, exemplifica o cuidado estético do álbum.

É visceral, multifacetado e incapaz de se preocupar em agradar. É rap como crônica social, como manifesto político, como arte que nasce na periferia e ecoa pelo mundo. — Kadu Soares

Capa de Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto, de Djonga
Capa de Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto, de Djonga (Foto: Divulgação)

21º lugar: Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?, Rubel

Com tino para emocionar, Rubel lançou, em 2025, o seu quarto álbum de estúdio, Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?, um registro bastante pessoal do artista carioca, que se recuperava de uma cirurgia do coração quando compôs faixas inéditas do disco. Com uma instrumentalização simplificada, baseada no violão e complementada por pianos e arranjos de cordas e sopros, o álbum é um retorno de Rubel às suas origens depois do álbum As Palavras (2023), que mostrou uma nova face do artista. “O movimento mais oposto possível [ao feito no álbum anterior] seria voltar para o meu quarto e para o meu violão”, explicou à Rolling Stone Brasil. As letras intimistas e quase confessionais, falam sobre o amor, a vida e os seus aprendizados, com destaque para “Carta de Maria“, que chegou a ganhar uma versão com Marina Sena. De quebra, Rubel ainda nos presenteia com uma interpretação única de “Reckoner“, do Radiohead, que encerra o disco. — Henrique Nascimento

Capa de Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?, de Rubel
Capa de Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?, de Rubel (Foto: Divulgação)

+++ASSISTA: RUBEL – Rolling Stone Entrevista #10

20º lugar: Assaltos e Batidas, FBC

Fazendo jus ao título, Assaltos e Batidas, do rapper mineiro FBC, chega rápido e direto, com um boom bap perigoso, sustentado por um discurso político e social contundente. O álbum marca o “retorno” ao rap após o sucesso de Baile (2021) e O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta (2023), influenciados pela disco music, soul e funk dos anos 1990.

Aqui, FBC faz referências aos grupos Racionais MC’s, Facção Central e BaianaSystem para entregar um trabalho abertamente político, com críticas à violência policial, ao capitalismo e uma reafirmação clara de seu posicionamento socialista e comunista.

Embora a sonoridade remeta ao boom bap noventista, as letras são absolutamente contemporâneas, comentando desde consumo desenfreado até dinheiro e poder. Em um cenário em que muitos artistas evitam se posicionar por medo de represálias, FBC não hesita: levanta o dedo do meio e grita “f*da-se!”.

“Eu acho que o rap precisa de um álbum sem love song”, disse à Rolling Stone Brasil. “E dessa vez eu fiz exatamente o que eu queria, sem nenhuma preocupação.” — F.G.

Capa de Assaltos e Batidas, de FBC
Capa de Assaltos e Batidas, de FBC (Foto: Divulgação)

+++LEIA: FBC retorna com álbum de rap clássico sobre desigualdade e consumo: ‘Se ninguém faz, eu faço’

19º lugar: As Cores, As Curvas e as Dores do Mundo, Lagum

Escutar As Cores, As Curvas e as Dores do Mundo é como olhar o mundo através das lentes do Lagum — uma busca constante pelo extraordinário nas coisas simples.

Em seu quinto álbum de estúdio, a banda mineira se mantém fiel à mistura de pop-rock, indie e reggae que marcou sua trajetória. Entretanto, o disco simboliza um novo momento de carreira: este é o primeiro lançamento do grupo após o fim da parceria com a Sony Music, marcando um retorno ao modelo independente de Seja o Que Eu Quiser (2016).

Segundo os artistas, o processo criativo foi marcado por profunda contemplação e conexão com o mundo. Refletindo sobre experiências do cotidiano em meio à correria urbana, é possível escutar o afeto genuíno (seja por lugares, pessoas ou memórias) que permeia as dez faixas. Gravar no próprio estúdio, sob o selo de Ilha Records, permitiu ao Lagum trabalhar com mais tranquilidade e liberdade criativa do que nunca antes.

Na capa do disco, Pedro Calais (vocal), Zani (guitarra), Jorge (guitarro) e Chico (baixo) aparecem no topo de um prédio no coração de Belo Horizonte, e a perspectiva “de cima” não foi por acaso. “Quando você está no meio da loucura ali, do tiroteio que é a vida, você não percebe as coisas que você está passando. Quando você sobe no prédio, você vê tudo”, explicou Calais em entrevista à Rolling Stone Brasil. Segundo ele, essa é a energia que As Cores, As Curvas e as Dores do Mundo transmite: “As coisas têm menos volume, tem mais calma para você observar e absorver”. — Gabriela Nangino

Capa de As Cores, As Curvas e as Dores do Mundo, do Lagum
Capa de As Cores, As Curvas e as Dores do Mundo, do Lagum (Foto: Divulgação)

+++ASSISTA: LAGUM – Rolling Stone Entrevista #08

18º lugar: Afim, Zé Ibarra

Antes de alcançar seu auge artístico com Afim, Zé Ibarra construiu uma trajetória sólida na música brasileira. Integrante das bandas Dônica e Bala Desejo, participou da turnê de despedida de Milton Nascimento e venceu o Grammy Latino 2022 de Melhor Álbum Pop em Língua Portuguesa por Sim Sim Sim, do Bala Desejo.

Lançado em junho de 2025, seu mais recente álbum de estúdio reúne composições autorais e regravações, consolidando Ibarra como um dos principais nomes da nova MPB. Em Afim, o artista assina diversos arranjos, participa da direção artística e da produção musical ao lado do coprodutor Lucas Nunes.

O resultado é um disco íntimo e confessional, que se aproxima do ouvinte ao expor vulnerabilidade e desejo na mesma medida. “Eu tento sempre escolher canções que comuniquem. Não gosto de fazer música estranha que ninguém entende”, disse à Rolling Stone Brasil. “Busco a canção com melodia impactante, única e bonita. A partir disso, uso tudo o que sei de música para colorir com as paisagens que desejo.” — F.G.

Capa de Afim, de Zé Ibarra
Capa de Afim, de Zé Ibarra (Foto: Divulgação)

+++ASSISTA: ZÉ IBARRA – Rolling Stone Entrevista #54

17º lugar: Maravilhosamente Bem, Julia Mestre

O problema de usar nostalgia como ferramenta musical é que, se as composições não estiverem no nível adequado, esse recurso se torna uma âncora ao redor do pescoço do artista. Em Maravilhosamente Bem, Julia Mestre evita essa armadilha com a melhor coleção de canções de sua carreira até agora.

A cantora e compositora carioca, ex-integrante do Bala Desejo, evoca a música que gerações cresceram escutando em rádios como Antena 1, a Light FM. Os anos 1980 são uma influência estética fortíssima nesse álbum.

Entretanto, faixas como “Maravilhosamente Bem”, “Sou Fera” e “Veneno da Serpente” mostram sua capacidade de pegar essas influências para criar algo próprio, que aponta os caminhos ainda não explorados dessa estética. Os ganchos melódicos são inegáveis, cheios de brincadeira e sensualidade.

E o álbum ainda reserva para o final um momento de encontro com uma de suas principais inspirações. “Marinou, Limou” conta com a participação de, óbvio, Marina Lima. O dueto funciona porque Julia vai além da reverência pelo som feito famoso pela cantora. Ela demonstra maestria. — Pedro Hollanda

Capa de Maravilhosamente Bem, de Julia Mestre
Capa de Maravilhosamente Bem, de Julia Mestre (Foto: Divulgação)

16º lugar: Rock Doido, Gaby Amarantos

Com Rock Doido, Gaby Amarantos não apenas lança um álbum — ela codifica um gênero. O quinto disco de estúdio da diva amazônica funciona como um set de DJ ininterrupto de tecnobrega, brega-funk, carimbó e ritmos latinos.

O álbum é tanto celebração quanto manifesto: Gaby prova que a cultura periférica não precisa de validação, só de amplificação. Gravado de forma inovadora, com um curta-metragem em plano-sequência filmado com smartphone nas ruas do bairro do Condor, em Belém, o projeto captura a energia vibrante e coletiva das festas de aparelhagem.

Foguinho” é o grande momento do disco — uma reapropriação cultural do sample de Luiz Bonfá usado por Gotye em “Somebody That I Used To Know“. Gaby inverte a narrativa e reclama a herança brasileira saqueada pela música internacional. “Te Amo F*dido“, com Viviane Batidão, sintetiza a força do álbum, enquanto “Tumbalatum“, com Gang do Eletro, reinterpreta a cantiga infantil com batida latina incendiária.

Rock Doido é ousado, frenético e gloriosamente periférico. É cerveja voadora, brilho, suor e a confirmação de que Gaby nunca precisou fazer concessões para se tornar uma das maiores forças da música brasileira. — K.S.

Capa de Rock Doido, de Gaby Amarantos
Capa de Rock Doido, de Gaby Amarantos (Foto: Divulgação)

15º lugar: Antes Que a Terra Acabe, Luedji Luna

O ótimo Um Mar Para Cada Um mal havia saído do forno e Luedji Luna já nos presenteava, de surpresa, com mais uma leva de excelência com Antes Que a Terra Acabe, lançado menos de vinte após o anterior. “Apocalipse“, colaboração com Seu Jorge, abre o álbum e dá o seu tom: as músicas narram uma urgência de viver o amor antes que o mundo acabe. E a narrativa combina com o momento, afinal, é o encerramento de uma era para a artista baiana, a chamada Trilogia das Águas, iniciada em 2020, com o lançamento de Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água. E o disco brilha, não só com a potência de Luedji, uma das maiores artistas da nova MPB, mas com as colaborações: ela também troca com a rapper MC Luanna (em “Pavão“); o parceiro de vida Zudizilla (em “Requinte“); e as lendas da música brasileira Alaíde Costa, pioneira da bossa nova no país, em “Bonita” e Milton Nascimento, que dispensa apresentações, na belíssima “Mara“. — H.N.

Capa de Antes Que a Terra Acabe, de Luedji Luna
Capa de Antes Que a Terra Acabe, de Luedji Luna (Foto: Divulgação)

+++ASSISTA: LUEDJI LUNA – Rolling Stone Entrevista #31

14º lugar: Caro Vapor II – qual a forma de pagamento?, Don L

“Nenhuma batida gringa no disco”. Este foi o mantra de Don L, ou O Último Bom Malandro, durante a produção de CARO Vapor II – qual a forma de pagamento?, seu quarto álbum solo de estúdio e um dos lançamentos obrigatórios de 2025 para qualquer amante de música.

Com colaborações de Giovani Cidreira, Anelis Assumpção, Alice Caymmi e Iuri Rio Branco, o ex-integrante do Costa a Costa analisa as falsas promessas do consumo desenfreado, a hiperconectividade das redes sociais, o capitalismo tardio, as bets, os algoritmos, os influencers, as big techs e ainda escancara a ideia de que reality shows são ficções sem atores. São muitos temas, sim, mas Don L articula tudo com lucidez e contundência, entregando uma mensagem necessária e extremamente atual.

“As pessoas estão tentando viver uma vida que não existe, que é a vida que um influencer vende. E elas sabem que aquela vida não existe. Existe uma aceitação de que o importante é o que vai ser filmado”, comentou à Rolling Stone Brasil.

Curiosamente, Don L costuma respeitar um intervalo de quatro anos entre lançamentos, mas já avisou que não pretende manter essa lógica. “O próximo tem que ser muito mais rápido”, disse. Vida longa ao Seu Chapa. — F.G.

Capa de Caro Vapor II - qual a forma de pagamento?, de Don L
Capa de Caro Vapor II – qual a forma de pagamento?, de Don L (Foto: Divulgação)

+++ASSISTA: DON L – Rolling Stone Entrevista #42

13º lugar: Divina Casca, Rachel Reis

Apresentada ao Brasil na trilha sonora do remake de Renascer, de 2024, Rachel Reis ainda não é uma das vozes mais comentadas da nova música popular brasileira — mas deveria. Em 2025, a baiana de 28 anos lançou o seu segundo álbum de estúdio, Divina Casca, um mix brasileiríssimo de ritmos, que conversa com pop, jazz, samba, MPB, arrocha e até pagode. Canções como “Casca“, que abre o disco, “Noite Adentro“, “Jorge Ben” e “Aquele Beijo” atestam não só o talento de Rachel como vocalista, mas também como compositora, com um refinamento que poucos teriam em tão tenra idade. Não fazem mal as participações de nomes como BaianaSystem, Don L e Rincon Sapiência, além da deliciosa reinterpretação de “Sexy Yemanjá“, de Pepeu Gomes, que também estão no disco. Porém, a verdade é que Rachel Reis, por si só, já é um furacão — e é bom se preparar para o impacto, como ela avisa na ótima “Ensolarada“: “Quando eu me espalhar, ninguém junta mais.” — H.N.

Capa de Divina Casca, de Rachel Reis
Capa de Divina Casca, de Rachel Reis (Foto: Divulgação)

+++ASSISTA: RACHEL REIS – Rolling Stone Entrevista #33

12º lugar: Nenhuma Estrela, Terno Rei

Em Nenhuma Estrela, primeiro álbum de inéditas desde Gêmeos (2022), Terno Rei reuniu 13 faixas que exploram sentimentos de melancolia e nostalgia no trabalho mais maduro da carreira do grupo.

“A gente já se conhece há muito tempo, toca há muito tempo junto, então todo mundo já sabe seus vícios. Isso ajuda a fluir de uma maneira melhor, porque são quatro pessoas, quatro opiniões, produtor”, comentou o guitarrista Bruno Paschoal em entrevista à Rolling Stone Brasil. “A maturidade ajuda a fazer as coisas serem leves”.

O som da banda — formada por Ale Sater (vocal e baixo), Bruno (guitarra) e Greg Maya (guitarra) e Luis Cardoso (bateria) — transita entre o dream pop e o indie-rock. Nenhuma Estrela se inspira em referências das décadas de 80 e 90 para transportar o ouvinte a um ambiente reflexivo e sonhador, mas sem soar dramático ou exagerado.

O disco inclui participações especiais de Lô Borges e Clara Borges (Paira). Com sensibilidade na letra e na voz e potência nos refrões, Terno Rei deixa a assinatura que consolida sua obra na cena alternativa brasileira há mais de uma década. — G.N.

Capa de Nenhuma Estrela, do Terno Rei
Capa de Nenhuma Estrela, do Terno Rei (Foto: Divulgação)

+++ASSISTA: TERNO REI – Rolling Stone Entrevista #20

11º lugar: Big Buraco, Jadsa

Após a complexidade experimental de Olho de Vidro (2021), Jadsa retorna com um disco que é, simultaneamente, salto e aterrissagem. Em Big Buraco, a artista baiana troca as camadas densas por canções mais diretas, mas sem perder o veneno nas entrelinhas.

Gravado em apenas sete dias no Estúdio Wolf, no Rio de Janeiro, o disco é uma farsa consciente: Jadsa interpreta a cantora pop de um Brasil improvável, mas real, sorrindo enquanto canta sobre amor e mar, até cair no buraco da faixa-título, onde escancara o abismo de um país que finge festa, mas vive à beira do colapso. O resultado é uma obra que flerta com MPB, neo-soul, samba e reggae, mas mantém a identidade única de Jadsa.

Tremedêra” apresenta um blues circular que vai se ajustando ao longo da faixa de forma hipnótica. “Sol na Pele“, com versos descritivos e musicalidade baiana, acena para Olodum e Caetano Veloso enquanto Jadsa se entrega ao amor. Mas é na faixa-título “Big Buraco” que o disco revela sua verdadeira face e questiona, com letra levemente ácida, se caímos no buraco ou sempre estivemos nele.

Aqui, Jadsa prova que pode transitar entre experimentação e canção popular sem perder a força artística. — K.S.

Capa de Big Buraco, de Jadsa
Capa de Big Buraco, de Jadsa (Foto: Divulgação)

10º lugar: Baile à la Baiana, Seu Jorge

Com seu clássico bom humor e alto astral, Seu Jorge produziu um novo álbum de pura felicidade. O primeiro de canções inéditas do artista em 10 anos, Baile à la Baiana mistura ritmos cariocas e baianos, criando músicas que são tão a cara do Seu Jorge que parece que já conhecemos elas de outros churrascos e carnavais. A mistura da black music americana (com o funk, soul e Motown evidentemente influenciando a criação) e da música negra brasileira, o artista encontra com facilidade um Afropop único. O título da quinta faixa, “Gente Boa se Atrai”, resume o intuito do projeto de se tornar a trilha sonora de bons momentos com boa companhia. É impossível escutar as canções solo e aquelas em colaboração com grandes musicistas do samba como Adriano Trindade, Sidão, Danilo Andrade, Rodrigo Tavares, Fernando Vidal, Ivan Sacerdote, Peu Meurray e Magary Lord e não sentir, no mínimo, vontade de dançar. — G.L.

Capa de Baile à la Baiana, de Seu Jorge
Capa de Baile à la Baiana, de Seu Jorge (Foto: Divulgação)

9º lugar: Improviso, Djavan

Aos 75 anos e comemorando cinco décadas de carreira, Djavan prova que a maestria não envelhece. Improviso, seu 26º álbum de estúdio, é construído em torno dos movimentos não programados que permeiam as relações de amor — ou, como diz o verso de “Um Brinde“: “Ir atrás do amor é um jazz”.

O álbum reflete os caminhos imprevisíveis do amor que todos enfrentamos ao longo da vida. “Estamos fazendo um lançamento que demanda cada vez mais trabalho, porque, com a internet, tudo se triplicou. A divulgação é extensíssima, são várias plataformas e veículos para acessar, e você precisa corresponder à demanda de todos. O trabalho é cada vez maior — e eu cada vez mais cansado”, explica à Rolling Stone Brasil.

No meio das 12 canções autorais (11 inéditas), “Pra Sempre” guarda uma história curiosa: a melodia foi composta em 1987, quando Quincy Jones convidou Djavan a escrever para o álbum Bad, de Michael Jackson. Inseguro, nunca enviou. Quase 40 anos depois, decidiu finalizá-la como homenagem ao Rei do Pop. “O Vento“, parceria com Ronaldo Bastos eternizada por Gal Costa, ganha aqui a voz do próprio compositor. E “Um Brinde“, com seu soul-jazz à la Stevie Wonder, amarra o conceito do álbum: o improviso — o jazz — que é correr atrás do amor.

Improviso é Djavan fazendo o que sempre fez melhor: navegar pelo oceano do amor com águas sempre novas, misturando R&B, samba, samba-canção e jazz em harmonias sofisticadas que atravessam gerações. — K.S.

Capa de Improviso, de Djavan
Capa de Improviso, de Djavan (Foto: Divulgação)

+++LEIA: Djavan lança álbum com música que era para Michael Jackson: ‘Resolvi fazer a letra e gravei’

8º lugar: Caminhos Selvagens, Catto

Com uma pegada totalmente oposta de Belezas São Coisas Acesas por Dentro (2023), no qual regravou músicas marcantes de Gal Costa, Catto abraçou de vez seu lado rock and roll em Caminhos Selvagens. Sete anos após seu último projeto autoral, a artista retornou com suas faixas mais pessoais até agora. Escrito durante sua transição de gênero, o novo álbum de Catto é o trabalho definitivo de uma vocalista potente em encontro com seus sentimentos.

Em entrevista exclusiva nos estúdios da Rolling Stone Brasil, Catto explicou: “Gente, esse é um disco extremamente íntimo. É o trabalho mais íntimo que eu poderia fazer na minha vida.” Em uma nova fase da carreira, mais loira e mais livre, a artista entendeu que seu público gosta de seu trabalho por gostar do mesmo tipo de música que ela gosta. Assim, começou a implementar referências sonoras e temáticas que sempre teve, mas ainda não tinha aproveitado em seus trabalhos.

“Eu sempre fui muito atraída por esse tipo de abordagem poética, porque eu fui salva por vários artistas que entregaram sua intimidade na sua obra,” afirma Catto. Nas oito faixas do disco, o ouvinte se aproxima de uma cantora fã de PJ Harvey e Fiona Apple, acompanhada de guitarras dramáticas e vocais poderosos, mas que também ama Marília Mendonça e fala sobre amores e desilusões: “O maior aprendizado que eu tive foi me lembrar de que eu sou uma garota punk da zona norte que veio de Porto Alegre, que colava cartaz, que nunca ninguém pode me impedir de fazer nada, entendeu? Porque se eu tô aqui foi porque eu desobedeci ao que todo mundo tentou me enquadrar, e isso é uma coisa que me dá muito orgulho.” — G.L.

Capa de Caminhos Selvagens, de Catto
Capa de Caminhos Selvagens, de Catto (Foto: Divulgação)

+++ASSISTA: CATTO DETALHA ‘CAMINHOS SELVAGENS’, PARCERIAS E INFLUÊNCIAS DO NOVO ÁLBUM

7º lugar: KM2, Ebony

Ao invés de seguir a fórmula temática de Terapia (2023), último álbum da rapper que estourou nas redes, Ebony decidiu deixar as letras picantes e provocativas de lado e criar seu projeto mais íntimo até agora. Sigla para a cidade de Queimados, na Baixada Fluminense, KM2 explora as dificuldades e alegrias de Milena Pinto de Oliveira, a pessoa por trás da persona Ebony. Sonoramente afiada como sempre, os beats e rimas da rapper são coesos e completos, e até as letras mais tristes são sempre enfrentadas pela cantora com a cabeça erguida. À Rolling Stone Brasil, Ebony explicou que a produção do álbum foi um momento de resgate de memórias de sua infância. “Foi um processo até um pouco doloroso. Tiveram algumas músicas que eu, de fato, escrevi chorando sem perceber, porque revisitei muitas coisas que ninguém deveria ter passado. Foi muito desgastante, senti que expurguei algo de mim, ao ponto de que parecia que tinha saído um peso quando o álbum lançou.”

Em faixas como “Não Lembro Da Minha Infância” e “KM2”, é possível ter um vislumbre da infância da rapper, com os percalços e dificuldades de Queimados. Ao mesmo tempo, “Extraordinária” e “KIA” são exemplos da autoconfiança de Ebony, uma mulher que aprendeu seu valor e já se consolidou como um dos maiores nomes na cena. A Ebony forte e vulnerável de KM2 não existiria sem a Ebony sensual e atrevida de Terapia.

Terapia foi uma fase de me mostrar fisicamente. KM2 é uma fase de me mostrar artística e emocionalmente”, conta a rapper. — G.L.

Capa de KM2, de Ebony
Capa de KM2, de Ebony (Foto: Divulgação)

+++LEIA: Ebony disseca jornada introspectiva de ‘KM2’: ‘Me mostrar artística e emocionalmente’

6º lugar: Um Mar Pra Cada Um, Luedji Luna

Analisar os trabalhos de Luedji Luna é sempre uma aventura. Em uma carreira marcada pela sensibilidade e profundidade, a cantora e compositora se tornou uma verdadeira estudiosa do amor — e uma das artistas que melhor conseguem traduzi-lo em música. Em 2025, ela lançou dois grandes álbuns, reafirmando essa vocação.

Um Mar Pra Cada Um, o primeiro deles, marca o começo do fim da Trilogia das Águas da artista, iniciada em Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água (2020). Influenciado por A Love Supreme (1965), de John Coltrane, o disco apresenta uma perspectiva voltada ao autoamor.

“Eu reconheço, ao longo do álbum, que eu sou um ser divino e digno de ser amado”, disse Luedji à Rolling Stone Brasil. Ao longo das 11 faixas, ela busca traduzir o amor divino por meio do sopro da vida, que se manifesta logo na abertura com “Gênesis”, instrumental de mais de quatro minutos.

A partir daí, Luedji disseca sua noção de amor: viaja ao Japão, se encontra e se desencontra, reconhece limites e revisita sua cidade natal por meio da conexão com o mar. É um percurso envolvente e sensorial. — F.G.

Capa de Um Mar Pra Cada Um, de Luedji Luna
Capa de Um Mar Pra Cada Um, de Luedji Luna (Foto: Divulgação)

5º lugar: Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer, BK’

Em 2025, BK’ estourou definitivamente fora da bolha do rap. Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer consolidou sua posição como um dos nomes mais importantes do rap brasileiro contemporâneo e o levou para espaços onde poucos rappers chegam: playlists mainstream, shows esgotados pelo Brasil, reconhecimento de público que nunca tinha ouvido falar de Castelos & Ruínas (2016).

O álbum, melhor de rap do ano, é tanto retrato da riqueza da música brasileira quanto jornada pessoal de desapego — reconhecer que soltar algumas coisas do passado é doloroso, mas necessário para seguir em frente. Com 16 faixas e samples cirurgicamente escolhidos da MPB, BK’ construiu pontes entre o rap e o pop sem abrir mão da identidade. As letras mantêm a profundidade e a introspecção características do rapper, mas ganham camadas de desapego e melodias mais acessíveis.

Só Eu Sei” traz o sample de “Esquinas“, de Djavan — o próprio ídolo celebrou: “BK’ é um cronista da realidade brasileira e conecta ‘Esquinas‘ a sua escrita sempre precisa e autêntica”. “Da Madrugada“, com Fat Family, imprime a marca vocal inconfundível do grupo sobre um beat que flerta com R&B. E “Não Adianta Chorar“, com Pretinho da Serrinha, adiciona nuances do samba à narrativa intensa.

Em DRLE, BK’ encontrou o equilíbrio raro entre relevância artística e sucesso comercial, entre manter a base fiel e conquistar novos ouvintes. É o álbum que todo rapper underground sonha fazer quando decide alçar voos maiores — e poucos conseguem entregar com tamanha qualidade. Já pode chamar de clássico? Se sim, acompanha Castelos & Ruínas, Gigantes (2018), Icarus (2022) e se torna mais um na carreira do artista. — K.S.

Capa de Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer, de BK’
Capa de Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer, de BK’ (Foto: Divulgação)

4º lugar: Dominguinho, João Gomes, Jota.pê e Mestrinho

Uma das maiores surpresas do ano, Dominguinho chegou discreto, como uma mera reunião entre artistas, e acabou se tornando um fenômeno a partir de uma mistura bem acertada dos talentos de João Gomes, Jota.pê e Mestrinho que, inspirados pela obra de Dominguinhos e o seu forró raiz, deram cara nova a sucessos próprios, como “Lembrei de Nós” e “Mete Um Block Nele“, de João Gomes, e “Beija-Flor“, de Jota.pê; criaram novos hits, como a inédita “Flor“, de Mestrinho; e repaginaram clássicos da música brasileira, como “De Mala e Cuia“, de Flávio José, e “Pontes Indestrutíveis“, da banda Charlie Brown Jr.. Gravada em Olinda, a apresentação original, disponível no YouTube desde abril, aproxima-se das dez milhões de visualizações. Apenas no Spotify, o álbum soma mais de 160 milhões de reproduções. E o sucesso continua em 2026, com o trio seguindo em turnê, que já até rendeu três novas versões de grandes sucessos, no EP ao vivo Baile Dominguinho: “Velha Roupa Colorida” (de Elis Regina), “Dona da Minha Cabeça” (de Geraldo Azevedo) e “Eu Só Quero Um Xodó“, da inspiração do projeto, Dominguinhos. — H.N.

Capa de Dominguinho, de João Gomes, Jota.pê e Mestrinho
Capa de Dominguinho, de João Gomes, Jota.pê e Mestrinho (Foto: Divulgação)

3º lugar: Carranca, Urias

No terceiro álbum de estúdio, Urias eleva não só sua própria discografia — que já contava com os ótimos Fúria (2022) e Her Mind (2023) — como também o patamar do pop brasileiro. Carranca é um trabalho complexo, que atravessa temas como religião, amor, fama, objetificação e ancestralidade, guiado por uma sonoridade que mistura batidas eletrônicas, tambores e elementos da Música Popular Brasileira. “A gente tentou fazer um álbum que tivesse uma noção de atual, mas trouxesse um gosto nostálgico”, afirmou a artista à Rolling Stone Brasil.

Se em Fúria a cantora explorava a raiva a partir de um viés urbano, e em Her Mind se jogava nas pistas de dança ao refletir sobre mente e identidade trans, Carranca propõe um mergulho mais introspectivo. O disco convida à reflexão sobre questões sociais e raciais, costuradas pelos excelentes interlúdios narrados por Marcinha do Corintho.

Outro ponto forte do álbum é o questionamento sobre a liberdade de pessoas pretas no Brasil, tema presente desde sua concepção. “Então surgiu através desse entendimento de que não somos livres, só estamos soltos. Vem dessas tensões sociais que acabam trazendo mais para o lado racial”, explicou Urias. — F.G.

Capa de Carranca, de Urias
Capa de Carranca, de Urias (Foto: Divulgação)

+++ASSISTA: URIAS – Rolling Stone Entrevista #62

2º lugar: O Mundo Dá Voltas, BaianaSystem

O quinto álbum de estúdio do coletivo baiano é um mosaico de colaborações ilustres: Gilberto Gil, Anitta, Emicida, Seu Jorge, Pitty, Melly, Dino D’Santiago e Vandal. Produzido por Daniel Ganjaman, o disco funciona como retrato vivo das festas de aparelhagem e do Carnaval de Salvador. Com 13 faixas que mesclam samba-reggae, tecnobrega, carimbó e ritmos afro-latinos, foi lançado às vésperas do Carnaval de 2025, mas seu significado transcende a festa: “É uma forma de mostrar que a raiz tem um grande poder. A nossa ideia é sempre ressaltar o valor ancestral. A gente acredita nessa ancestralidade futurística. É um passado que o futuro ainda não alcançou”, contaram à Rolling Stone Brasil.

Batukerê” abre o disco como convite ao sonho. “Pote D’Água“, com Gil e Lourimbau, é homenagem à terra e à cultura baiana, fazendo referência aos orixás e à religiosidade afro-brasileira. E “Balacobaco“, com Anitta e Alice Carvalho, traz pegada eletrônica e pulsante, anunciando o Carnaval com energia contagiante.

O Mundo Dá Voltas é disco para ser cantado a plenos pulmões, celebração da força do coletivo e da música feita para as ruas. BaianaSystem segue reprogramando o ambiente, moldando-o, ressignificando-o. — K.S.

Capa de O Mundo Dá Voltas, do BaianaSystem
Capa de O Mundo Dá Voltas, do BaianaSystem (Foto: Divulgação)

+++LEIA: BaianaSystem atualiza tradições em novo show: ‘A raiz tem um grande poder’

1º lugar: Coisas Naturais, Marina Sena

Se Coisas Naturais pudesse ser definido em uma palavra, seria envolvente. Depois de fazer sucesso com De Primeira (2021) e se estabelecer com Vício Inerente (2023), a cantora do norte de Minas Gerais encontrou em março de 2025 sua voz mais autêntica: neste álbum, ela combina o ardor da paixão com a ânsia por liberdade para construir uma atmosfera sensual, paradisíaca — e até um pouco mística.

A produção, cheia de percussão e melodias cativantes, se soma à evolução vocal de Marina, que transita por ritmos diversos com, é claro, muita naturalidade. Mesclando referências do MPB, do samba e da bossa nova com alguns elementos do funk, do brega e do reggaeton, o disco ainda inclui feats com os artistas Çatamara e Nenny. “Minhas escolhas rítmicas têm normalmente a ver com coisas que me atravessam e são extremamente brasileiras, ou coisas que são da América Latina e entram no Brasil, de certa forma como estrangeiras, mas são abrasileiradas aqui”, explicou à Rolling Stone Brasil.

Uma turnê com visuais encantadores reforçou a originalidade da cantora na cena musical brasileira. Não à toa, Coisas Naturais foi indicado a Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa no Grammy Latino e foi eleito o melhor disco brasileiro de 2025 pela Rolling Stone Brasil. — G.N.

Capa de Coisas Naturais, de Marina Sena
Capa de Coisas Naturais, de Marina Sena (Foto: Divulgação)

+++LEIA: Marina Sena encontra sua melhor versão em novo álbum: ‘Agora não tenho mais medo’

*Votaram: Ademir Correa, Amanda Oestreich, Daniela Swidrak, Felipe Fiuza, Felipe Grutter, Fernanda Soares, Gabriela Nangino, Giovana Laurelli, Guilherme Gonçalves, Henrique Nascimento, Igor Miranda, Kadu Soares, Luan Bertolini, Pablo Miyazawa e Pedro Hollanda

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