INDENIZAÇÃO

Crianças e adolescentes feridos durante atentado em show da Ariana Grande receberão indenizações milionárias

Uma investigação anterior concluiu que houve oportunidades perdidas para prevenir o ataque de 2017 e ‘sérias deficiências’ na segurança

Gabriela Nangino (@gabinangino)

Tributos às vítimas do show do ataque terrorista ocorrido no show da cantora Ariana Grande em Manchester, na Inglaterra, em 23 de maio de 2017. As homenagens foram colocadas na praça St. Ann.
Tributos às vítimas do show do ataque terrorista ocorrido no show da cantora Ariana Grande em Manchester, na Inglaterra, em 23 de maio de 2017. As homenagens foram colocadas na praça St. Ann. - AP

Em 2017, uma tragédia assolou uma noite de festa. Em 22 de maio, um homem-bomba detonou um dispositivo no saguão de saída da Manchester Arena, na Inglaterra, logo após o término do show da turnê Dangerous Woman, da cantora e compositora estadunidense Ariana Grande.

A explosão ocorreu às 22h31, enquanto milhares de fãs se locomoviam para ir embora do show. O resultado foram 22 mortes e mais de 1.000 feridos. As vítimas, em grande parte, eram crianças e adolescentes.

O responsável foi identificado como Salman Abedi, britânico de 22 anos de ascendência líbia. O grupo extremista Estado Islâmico reivindicou a autoria do atentado. O irmão do autor, Hashem Abedi, foi condenado à prisão perpétua em 2020 por ajudar a planejar o ataque.

Oito anos depois, um juiz acaba de determinar que quase 20 milhões de libras esterlinas serão pagas a 16 das crianças e adolescentes que sofreram ferimentos durante o atentado desde sequelas físicas irreparáveis até traumas psicológicos graves. Esse valor equivale a cerca de R$ 147 milhões de reais, de acordo com a cotação atual da libra.

As indenizações variam de £ 2.770 a £ 11,4 milhões (aproximadamente R$ 20,4 mil e R$ 84 milhões na cotação atual, respectivamente), conforme acordado em uma audiência no Centro de Justiça Civil de Manchester. As vítimas, todas menores de 16 anos durante o ocorrido, não podem ser identificados devido a uma ordem judicial.

Segurança ineficiente

Uma investigação pública no Reino Unido sobre o atentado à Manchester Arena identificou que oportunidades de evitar o ataque foram perdidas e concluiu que a segurança do local apresentava “graves falhas”, desde o sistema de câmeras de vigilância até a lentidão na resposta dos serviços de emergência após a explosão.

No relatório da investigação, liderada por John Saunders e iniciada em setembro de 2020, lê-se: “Abedi deveria ter sido identificado no dia 22 de maio de 2017 como ameaça pelos responsáveis pela segurança da Arena, que deveriam ter realizado uma resposta rápida”.

Indivíduos preocupados com o comportamento suspeito do agressor relataram suspeitas, mas essas informações não foram devidamente investigadas ou repassadas aos superiores, ou à polícia a tempo. Segundo John Saunders, o terrorista poderia ter explodido o dispositivo de qualquer maneira se tivesse sido confrontado por agentes de segurança, mas “a perda de vidas e os feridos teriam sido menores, muito provavelmente” (via Terra).

Os danos serão pagos pela administradora do local, SMG Europe Holdings, pela empresa de gestão de multidões Showsec International Ltd, pela Polícia da Grande Manchester (GMP) e pela Polícia de Transportes Britânica (BTP). Segundo advogados, todas as organizações pediram desculpas às famílias enlutadas e aos sobreviventes.

Após a audiência, os pedidos de indenização de outras 352 pessoas — todos adultos considerados legalmente capazes, incluindo familiares das 22 vítimas fatais — serão negociados.

“Cada um desses casos tem um elo comum: os ferimentos e as perdas sofridas, decorrentes de um único e inimaginável ato de terrorismo cometido na noite de 22 de maio de 2017, ao final de um show que contou com a presença de muitos jovens e suas famílias”, disse Nigel Bird, juiz que presidiu o caso (via NME). “Vinte e duas vidas inocentes foram perdidas e inúmeras outras vidas foram afetadas. O amor e o cuidado que um pai dedica a um filho ferido não têm valor monetário.”

Ele prosseguiu prestando homenagem à “coragem, dedicação e fortaleza” das famílias envolvidas. “Cada uma delas, por meio de sua determinação silenciosa, trouxe promessas de mudança na esperança de que, no futuro, outras famílias não precisem passar pelo que elas passaram.”

Os três principais escritórios de advocacia que representam os demandantes (Hudgell Solicitors, Slater & Gordon e Broudie Jackson Canter) também emitiram uma declaração. “Este não é um dia de comemoração. É um momento para reconhecer os erros cometidos e o sofrimento inimaginável que nossos clientes suportaram nos últimos oito anos e meio”, escreveram.

“A força e a resiliência deles foram extraordinárias, e sem isso não teríamos chegado a este acordo. Agora esperamos que todas as partes honrem seu compromisso de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar que esses mesmos erros se repitam”, continuaram. “Foi um privilégio trabalhar em nome de nossos corajosos clientes. Desejamos a eles paz e força para o futuro”.

Lei de Martyn

Em abril de 2025, foi aprovada a “Lei de Martyn“, legislação antiterrorismo que visa ampliar a segurança em espaços públicos no Reino Unido, como casas de shows, estádios e centros de eventos.

Oficialmente nomeada The Terrorism (Protection of Premises) Act 2025, ela foi apelidada em homenagem à campanha de Figen Murray, mãe de Martyn Hett, uma das vítimas do atentado. A família de Hett afirmou ainda que se sentiu “profundamente decepcionada” pelo MI5 (Serviço de Segurança do Reino Unido).

A medida exige que locais com capacidade acima de 200 pessoas implementem treinamento de evacuação e, acima de 800 pessoas, implementem CTFV (sistema de segurança eletrônica por câmeras), equipes de segurança completas e avaliações de risco preventivas. No entanto, há um período mínimo de 24 meses antes que as normas sejam aplicáveis.

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Jornalista em formação pela Universidade de São Paulo, Gabriela é mineira e apaixonada por arte e cultura. Ela também já foi dançarina e seu principal hobbie é conhecer todos os cinemas de rua de SP. Foi estagiária no Jornal da USP e, na Rolling Stone Brasil, fala sobre música, filmes e séries.
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