Os 10 melhores documentários de 2025, segundo Rolling Stone
Do true crime aos perigos de dizer a verdade ao poder — um retrospecto dos nossos documentários favoritos do ano
David Fear
Uma reorganização de séculos de história real por meio de reportagens falsas e a reencenação de uma obra teatral majestosa em um ambiente virtual. Um olhar retrospectivo sobre um momento definidor da história do nosso país e um alerta sobre os perigos do autoritarismo, que parecia falar de forma assustadoramente direta ao nosso presente. Uma demolição espirituosa do Complexo Industrial do Entretenimento de True Crime e vários retratos tanto da necessidade quanto do perigo de dizer a verdade ao poder. Houve momentos em que, ao revisitar os melhores documentários que vimos nos cinemas, nos streamings e na TV desde janeiro, vários desses projetos de não ficção pareciam dialogar entre si — sem falar do mundo do lado de fora da nossa janela. Até mesmo os retratos de artistas que chamaram nossa atenção em 2025 se apoiaram em conflitos que iam da perseguição sociopolítica à luta interna do próprio personagem. Aqui estão os 10 melhores documentários e docusséries que vimos ao longo do último ano.
(Menções honrosas para ‘Henry Fonda for President’, ‘Ladies and Gentlemen… 50 Years of SNL Music’, ‘Mistress Dispeller’, ‘Pavements’, ‘The Perfect Neighbor’, ‘Predators’, ‘Sly Lives!’, ‘Sunday’s Best’, ‘2000 Meters to Andriivka’ e ‘WTO/99’.)
10º lugar: Zodiac Killer Project
Era uma vez, o artista multimídia e documentarista britânico Charlie Shackleton conseguiu os direitos para adaptar o livro The Zodiac Killer Cover-Up, de Lyndon E. Lafferty — no qual o policial rodoviário aposentado da Califórnia afirmava conhecer a verdadeira identidade do serial killer que aterrorizou a região da baía de São Francisco nos anos 1970 — para uma docussérie. Depois, por razões que permanecem obscuras, o espólio do autor desistiu do acordo. Assim, em vez de apresentar um mergulho profundo na busca de um homem para resolver o caso, Shackleton descreve o que teria feito se o projeto tivesse ido adiante. E, mais rápido do que você consegue dizer “me dá o próximo Making a Murderer”, este metadocumentário satiriza os clichês tão queridos pelo moderno Complexo do Entretenimento de True Crime, ao mesmo tempo em que mostra exatamente como essa salsicha da não ficção é feita. É um ataque frontal a um gênero popular demais, realizado com a destreza de um verdadeiro trapaceiro.
9º lugar: Pee-wee Herman – Por Trás do Personagem
Centrado em uma entrevista de 40 horas que Paul Reubens concedeu ao diretor Matt Wolf (Missão Planeta Terra) pouco antes de sua morte, em 2023, este documentário em duas partes, com três horas e meia de duração, sobre o homem por trás do personagem infantil favorito da cultura pop é, acima de tudo, um retrato do artista como um maníaco por controle. Ele foi concebido para deixar Reubens falar, com suas próprias palavras, sobre tudo — da infância à criação de Pee-wee, do sucesso ao escândalo e tudo o que há no meio do caminho. O que o filme acaba sendo de fato, porém, é sobre conflito — entre o personagem e seu cronista, à medida que Reubens disputa com o documentarista o controle tanto da própria narrativa quanto do projeto, e também entre o personagem e seu alter ego.
8º lugar: Orwell: 2+2=5
O documentarista Raoul Peck retorna com um retrato da transformação de George Orwell de engrenagem da máquina colonial britânica (ele serviu na força policial na Birmânia nos anos 1920) em crítico político, ensaísta e autor mundialmente celebrado de A Revolução dos Bichos e 1984. Mesmo que o cineasta tivesse se limitado a um documentário sobre a radicalização do escritor e seus alertas sobre poder, corrupção e mentiras, isso já seria uma obra essencial. Mas ele vai vários passos além, emprestando o desenho expansivo de sua obra-prima Extermine Todos os Brutos (2021) e conectando os pontos entre esses dois romances distópicos, os regimes totalitários do século 20 e as maneiras como a história tende a se repetir — como, por exemplo, na América contemporânea. É uma verdadeira mangueira de incêndio virtual de informações doubleplusbad sobre como o fascismo se instala de forma insidiosa, colapsando a distância entre passado e presente de um jeito quase avassalador. Não dá para chamar a perspectiva de “boa”. Este guia sombrio é absolutamente vital neste momento específico da história.
7º lugar: One to One: John & Yoko
Justo quando parecia que a vida e a carreira de John Lennon já tinham sido esmiuçadas até o osso no campo dos documentários, surge o olhar perspicaz e penetrante de Kevin Macdonald sobre os primeiros anos de Lennon e Yoko Ono como nova-iorquinos. Embora use o show beneficente “One to One”, de 1972, no Madison Square Garden (o único concerto solo completo que Lennon realizou antes de sua morte), como um sol em torno do qual tudo orbita, essa extraordinária coleção de filmes caseiros, entrevistas e material jornalístico pinta o retrato de dois expatriados que encontraram radicalização política, um senso de retomada pessoal e, finalmente, um lugar para chamar de lar. O acesso do diretor de Munique, 1972: Um Dia em Setembro aos arquivos revela claramente muitos tesouros — as ligações em que Ono tenta conseguir moscas para uma exposição, por si só, já valem o ingresso —, mas o que realmente diferencia esse retrospecto é a forma como apresenta os dois em pleno processo de evolução individual e conjunta. Como navegar a vida como o casal mais famoso (e infame) do mundo? Testando todas as suas certezas, errando uma ou duas vezes e nunca deixando de crescer como seres humanos.
6º lugar: O Lendário Martin Scorsese
Quer uma docussérie em cinco partes sobre Martin Scorsese, completa com compilações de melhores cenas, entrevistas tanto com colaboradores famosos quanto com seus velhos amigos de Little Italy, e uma enxurrada de comentários que vai de Caminhos Perigosos a Os Bons Companheiros e volta? A cineasta Rebecca Miller (O Mundo de Jack e Rose, O Tempo de Cada Um) atende com prazer. Mas seu trabalho feito por amor nunca perde de vista o homem por trás da câmera, observando de perto o bom, o ruim e o feio da vida de Scorsese, ao mesmo tempo em que lhe dá amplo espaço para refletir sobre tudo isso. E é justamente isso, mais do que qualquer outra coisa, que torna este retrato do sr. Scorsese tão empolgante, urgente, inestimável e eternamente revisável quanto a própria obra do sr. Scorsese. Sem sombra de dúvida, é o olhar definitivo sobre o maior cineasta vivo.
5º lugar: My Undesirable Friends: Part I – Last Air in Moscow
Um olhar sobre o que acontece quando a ideia de imprensa livre se transforma numa contradição em termos, o documentário de fôlego de Julia Loktev acompanha um grupo de repórteres mulheres que tentam enfrentar a máquina de propaganda da Rússia de Putin — e vai parecer extremamente familiar para muita gente que hoje sente estar em estado de guerra enquanto a vida segue ao redor. Você conhece cada uma dessas mulheres, vivencia o vínculo entre elas, aprecia suas personalidades e compartilha de suas dificuldades. Fora de contexto, My Undesirable Friends poderia ser confundido com uma docussérie típica que acompanha um grupo heterogêneo de urbanitas enquanto travam a boa luta e tentam se entender ao longo de vários meses. A diferença é que a ameaça por trás de todas as trocas — a morte lenta por mil cortes de decretos executivos, a vigilância e o assédio como ocorrências cotidianas, a linguagem de duplo sentido usada para manchá-las como jornalistas e cidadãs — está sempre presente. Assim como o tique-taque do relógio da história.
4º lugar: Grand Theft Hamlet
Quando o Reino Unido entrou em mais um lockdown impulsionado pela Covid no início de 2021, o ator Sam Crane se viu no meio de uma crise existencial. Ele também passava muito tempo jogando Grand Theft Auto Online, o que acabou levando a uma ideia brilhante: por que não montar sua própria produção teatral dentro do mundo virtual do jogo multiplayer, escalando outros fanáticos por GTA como coprotagonistas? E que obra melhor para encarar do que o clássico drama de Shakespeare sobre o mais melancólico dos dinamarqueses? Filmado inteiramente a partir da jogabilidade dentro do jogo, este documentário engraçado, engenhoso e surpreendentemente comovente sobre a arte como bálsamo coletivo prova que você nunca experimentou de fato o gênio do Bardo até recitar seus versos empunhando um lança-foguetes contra um mar de problemas — e, ao enfrentá-los, pôr fim a eles.
3º lugar: Cover-Up
Não dá para falar da história do jornalismo investigativo nos Estados Unidos sem falar de Seymour Hersh, que ajudou a trazer para o debate público histórias que vão dos bastidores do massacre de My Lai, no Vietnã, aos abusos ocorridos na prisão de Abu Ghraib. A cineasta Laura Poitras (Citizenfour, All the Beauty and the Bloodshed) cobre o essencial da biografia e se aprofunda em algumas das reportagens que ajudaram a consolidar o nome de Hersh, mas também dedica ampla atenção ao seu método de trabalho — é tanto um elogio ao jornalismo clássico de “sola de sapato” quanto um retrato do legado de uma lenda. E o subtexto sobre a necessidade de uma figura assim em um momento em que tantas empresas de mídia se encolhem diante do poder está ali, em negrito tamanho 21.
2º lugar: BLCKNWS: Terms & Conditions
A expansão em longa-metragem da instalação de videoarte BLKNWS, de Kahlil Joseph, é um caleidoscópio de imagens filtradas pela autobiografia, pela ficção afrofuturista, por imagens de arquivo e pelo formato de um telejornal livre. Sua capacidade de reprogramar suas ideias — de tudo, desde o sonho de toda a vida de W. E. B. Du Bois de compilar uma enciclopédia negra até a forma como o mundo da arte se relaciona (ou não) com artistas negros — enquanto você assiste ao filme soa sui generis. Joseph o comparou a um álbum com “faixas”, em vez de cenas, e a analogia é perfeita. É o tipo de obra que exige múltiplas revisitas.
1º lugar: The American Revolution
O mergulho profundo de Ken Burns na guerra de independência dos Estados Unidos tem tudo o que se espera de um documentário de Ken Burns: narração de Peter Coyote, lentos zooms sobre imagens (neste caso, pinturas em vez de fotografias em tom sépia), um grau de minúcia que beira o fanatismo e uma duração apenas ligeiramente menor que um semestre universitário. Burns sendo Burns! Ainda assim, este exame meticuloso de como o país atravessou as dores turbulentas do crescimento ao passar de colônia da Grã-Bretanha a potência soberana fura, a cada passo, o mito de uma história de origem grandiosa e unificada. Além das perspectivas — dubladas por vozes célebres — dos pais fundadores, o filme incorpora os pontos de vista de populações indígenas deslocadas, pessoas escravizadas e lealistas que se viram perseguidos em nome de uma causa patriótica. É tanto uma reeducação sobre o nascimento da nação quanto uma extensão do ensino transmitido à maioria das gerações no que diz respeito àquelas verdades que por muito tempo consideramos autoevidentes. E, embora Burns tenha feito questão de dizer que este projeto, gestado ao longo de uma década, não é uma crítica ao presente, sua história acadêmica, contada ao longo de vários episódios, chega em um momento crucial da luta pelo futuro desses estados nem tão unidos assim.
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