Kevin Parker, do Tame Impala, admite que procura críticas negativas da própria música
Artista abre o jogo sobre sensações pós-lançamento e a relação com a recepção de Deadbeat
Kadu Soares (@soareskaa)
Kevin Parker, mente criativa por trás do Tame Impala, revelou recentemente que, apesar de toda a positividade em torno de seu trabalho, ele não apenas lê críticas como procura por análises negativas de sua própria música nas redes sociais, buscando comentários que desafiam as opiniões mais favoráveis sobre seus lançamentos.
Em uma conversa com a RUSSH Magazine, Parker explicou que essa busca por feedback crítico acontece de forma quase instintiva: mesmo que encontre elogiadores no YouTube ou no Instagram, ele admite que continua rolando até encontrar opiniões contrárias. Um hábito que ele assume como parte do processo emocional de lidar com a arte que lançou no mundo.
O músico descreve que esse comportamento tem raízes no peso que sente ao lançar um projeto. Parker comparou isso a um filho que cresceu durante anos de criação, ansiedade e dedicação, que de repente deixa de ser apenas dele e passa a pertencer ao público, com todos os elogios e críticas que vêm junto à exposição.
“É tão estranho hoje em dia. Dependendo de qual canto da internet você olha, você encontra reações completamente diferentes”, disse Parker, refletindo sobre a fragmentação das opiniões online e o impacto emocional de abrir mão de algo tão pessoal.
O processo de liberação de uma música, segundo Parker, pode até parecer violador, porque a obra deixou de ser sua e passou a ser reinterpretada e debatida por pessoas de todo o mundo:
“Essa coisa que você carregou consigo por tanto tempo, e então de repente ela vê a luz do dia e é compartilhada com o mundo. É uma ideia tão avassaladora, sabe?”, explicou.
“A ideia de que essas músicas que antes eram suas, e agora não são mais suas; elas pertencem ao mundo agora. Essa transição pesa bastante sobre o artista, eu acho”, finalizou.
Deadbeat: um álbum de riscos, críticas e evolução artística
O quinto álbum de estúdio de Tame Impala, Deadbeat (2025), foi lançado em outubro e dividiu as críticas por conta da sonoridade experimental do projeto..
Gravado entre 2023 e 2025, Deadbeat mergulha em sonoridades eletrônicas, influências da cultura rave e do “bush doof” da Austrália Ocidental, mostrando Parker cada vez mais interessado em explorar texturas dançantes e atmosferas techno-psicodélicas, distantes da psicodelia expansiva de seus primeiros álbuns.
O disco foi precedido por singles como “End of Summer”, “Loser”, “Dracula” — este último alcançando posições no Billboard Hot 100 — e “My Old Ways”, que ilustram as diferentes facetas do projeto ao combinar melodias pop com batidas eletrônicas e letras introspectivas.
Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, Kevin explicou: “Eu sempre quis ir para a música eletrônica, sabe? Eu sempre amei ela, sempre amei dance music. Mas eu simplesmente não tinha confiança para seguir isso. E dessa vez eu pensei: ‘Por que não?'”.
Deadbeat é um álbum que encontra poesia na rotina. É Kevin Parker se permitindo ser imperfeito, tanto como artista quanto como pessoa, e transformando essa imperfeição em arte dançante. Agora muito mais maduro e sendo pai — visto na capa do disco —, como ele mesmo afirmou, é resultado de maturidade aliada ao desejo de correr riscos.
O álbum tem seus momentos altos extraordinários que mostram Parker em forma inspirada, fundindo suas sensibilidades psicodélicas com nova confiança na música eletrônica.
Deadbeat é um bom álbum — às vezes até ótimo. Mas, quando comparado ao brilhantismo revolucionário de Currents, ele ainda fica atrás. É Parker dando um passo lateral interessante, não um salto transformador para frente. E talvez esteja tudo bem. Afinal, como o próprio álbum argumenta, nem tudo precisa ser grandioso. Às vezes, é suficiente simplesmente ser.
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