Alan Moore diz odiar super-heróis, mas a HQ Watchmen já indicava isso desde os anos 80
Mítico roteirista afirma que não lê nada sobre os personagens mascarados desde que terminou a mais famosa história em quadrinhos, nos anos 80
Redação
Alan Moore, mítico roteirista de histórias em quadrinhos, afirmou em entrevista ao britânico The Guardian que não lê uma HQ sobre super-heróis desde que terminou uma de suas mais famosas obras, Watchmen, lançado originalmente em 1987. “Odeio super-heróis”, cravou Moore, que falou ao jornal para divulgar o mais recente trabalho, Fashion Beast.
“Acho que eles [heróis] são abominações. Eles já não significam aquilo que costumavam significar. Eles foram criados por roteiristas que gostariam de expandir a imaginação de um público de 9 a 13 anos. Era para isso que serviam e eles estavam funcionando muito bem. Hoje, uma revista de super-herói tem um público, geralmente masculino, que vai de 30, 40, 50 a 60 anos. Então alguém inventou o termo graphic novel. Estes leitores se apoiaram nisso com o simples interesse em validar o fato de eles continuarem amando o Lanterna Verde ou o Homem-Aranha, sem parecer que são emocionalmente anormais.”
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Ele continua: “Eu não acho que o super-herói não traz nada de bom”. “Acho que é um sinal alarmante vermos um público adulto assistindo ao filme Os Vingadores e se deliciando com conceitos e personagens criados para entreter garotos de 12 anos na década de 50.”
Nada do que foi dito, contudo, parece ter mais peso do que a própria HQ Watchmen, criada em parceria com o ilustrador Dave Gibbons. Ainda que o álbum tenha revolucionado a indústria dos quadrinhos em várias formas, na linguagem e estética, ele era uma verdadeira declaração de desgosto com relação aos heróis mascarados, com roupas coladas e capas esvoaçantes.
O desajustado e ultrarrealista grupo Watchmen representava todo o oposto do conceito dos heróis criados muitas décadas antes. A história é contada pelo psicopata de (razoavelmente) bom coração Rorschach, um detetive mascarado com apreço à violência quando o assunto é pegar caras maus. Cada personagem possui uma profundidade incomum e defeitos aflorados. Todos, sem exceção, são tão humanizados e frágeis que não mereceriam levar a alcunha de “super” ou de “herói”.
Moore subverteu o conceito todo de personagens heroicos, talvez não por ódio, mas o mais inacreditável é que, mesmo dizendo detestar os encapuzados, ele revolucionou a indústria dos heróis como poucos conseguiram fazer.