Lucas Brêda Publicado em 30/08/2014, às 12h03 - Atualizado em 29/08/2016, às 14h21
Enquanto, em 1994, Kurt Cobain se matava com um tiro na própria cabeça, agonizando sobre a fama, o Oasis gritava: “Tonight, I'm a rock & roll star” (Hoje a noite, sou uma estrela do rock and roll”). A primeira faixa de Definitely Maybe é, também, o primeiro contraponto claro ao título do disco. O Oasis vinha cheio de certezas – e de desejos –, e o principal deles era, basicamente, ir direto ao ponto. “It’s just rock and roll” (“É apenas rock and roll”), canta Liam Gallagher. Era exatamente o que ele queria, e estava falando por quase todos os jovens da Inglaterra.
“Shakermaker”
Não eram apenas as vendas, a atitude ou a representatividade do disco de estreia do Oasis que rendiam comparações aos Beatles. Os próprios irmãos Gallagher eram os primeiros a se colocar em tal posição. “Shakermaker” traz as divagações de Noel Gallagher acerca da esquisitice, desde as guitarras tortas às menções aos “senhores” Soft, Clean e Bem, entre outros. A faixa mais imagética do álbum é também uma prova da química bizarra entre os irmãos – apesar de composta pelo guitarrista, “Shakermaker” parece só ter graça com Liam, que carrega com calculado desprezo as notas vocais até perder o fôlego.
“Live Forever”
Grandes discos são construídos com grandes hits. É notável como as baladas do Oasis soam quase como petardos, seja pela ira dos gritos de Liam ou pela candura dos falsetes de Noel. “Live Forever” é suave e grandiosa, um manifesto sobre viver e aproveitar a vida. Sua reverberação como hino de uma geração foi o encaixe perfeito do Oasis como o próximo passo da música da época, quase uma pá de cal no grunge. O que os britânicos mais queriam era justamente o que os norte-americanos mais desprezavam: “Maybe I just want to fly/ I want to live, I don't want to die/ Maybe I just want to breathe” (“Talvez eu só queira voar/ Quero viver, não quero morrer/ Talvez eu só queira respirar”).
“I heard that the shine's/ Gone out of your life/ Well that's just too bad” (“Fiquei sabendo que o brilho/ Saiu da sua vida/ Bem, isso é muito ruim”), canta Liam sobre o riff cativante de Noel, em “Up In The Sky”. A quarta faixa do disco traz um olhar de desprezo e quase indiferença em reação à tristeza. Parece bem simples sair do fundo do poço com Definitely Maybe.
Noel nunca foi um guitarrista que prezasse pela técnica. Entretanto, no disco de estreia (e, principalmente no sucessor, (What's the Story) Morning Glory?), ele cria camadas sonoras que, sobrepostas, dão dimensão sonora ao Oasis. Em “Columbia”, por quase três minutos, o irmão mais velho faz com que solos simples e acanhados se agigantem durante a progressão da faixa, em uma miscelânea de melodias e arranjos que rumam para o mesmo lugar.
“Supersonic”
“You can have it all/ But how much do you want it?” (“Você pode ter tudo/ Mas quanto você quer?”), pergunta o Oasis em “Supersonic”. Do começo com a bateria aos solos repetitivos de guitarra, a própria música era uma resposta: os irmãos Gallagher queriam tudo. Gim-tônica ou cocaína, um passeio de BMW ou de submarino amarelo, fazer sexo em um helicóptero ou dar uma simples risada.
Os ecos do rock clássico eram o motor do Oasis, mais preocupado em fazer a música que gostava do que soar inovador. “Bring It On Down” soa quase garageira, elementar, simples como o rock pode – e deve – ser.
“Cigarettes & Alcohol”
Até mesmo o tédio podia ser divertido para o Oasis. Em “Cigarettes & Alcohol”, o grupo lembra T. Rex e clama ter achado algo “para qual a vida vale a pena”. As drogas lícitas citadas no título da canção certamente representam tantas outras mais – ou menos – pesadas, usadas pela banda tanto nos ensaios quanto nas sessões de estúdio.
“Digsy's Dinner”
Quando Definitely Maybe já se aproxima do fim, “Digsy's Dinner” surge como mais uma balada, decorada com solo de piano e bateria recheada de pratos. Como compositor, Noel já revela criatividade para falar dos assuntos mais banais, como um jantar com chá, lasanha, e morangos como sobremesa.
A faixa mais longa do álbum é a primeira em que se pode ouvir a voz de Noel – que posteriormente seria marca de hits como “Wonderwall” –, cantando os versos “I don't know, I don't care/ All I know is you can take me there” ao final. Uma canção de amor que não foge aos clichês – e às guitarras distorcidas –, pronta para embalar jovens romances cansados de velhas trilhas sonoras.
Após uma longa noitada regada a, sim, sexo, drogas e rock and roll, “Married with Children” traz o violão para um apagar das luzes suave, mas doce. “I don't care no more so don't you worry/ Goodbye, I'm going home” (“Eu não me importo mais, então não se preocupe/ Até mais, vou para casa”), canta Liam. O Oasis se retira antes da ressaca, e só retornaria na noite seguinte, para mais um cigarro e um gole de cachaça.
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