Feist é uma heroína pop improvável: a roqueira indie canadense tem em seu passado ópera, punk e sobrevivência no mato; ouça
Por Jenny Eliscu Publicado em 11/02/2008, às 11h57 - Atualizado em 19/02/2008, às 11h02
Durante um passeio à tarde em um mercado de pulgas de Los Angeles, Leslie Feist faz algumas compras. Ela escolhe um tapete persa enorme "de estilo francês" (de acordo com o vendedor, que a convence com facilidade a desembolsar US$ 525); toile de jouy (um tecido de algodão, geralmente estampado), que usará para fazer cortinas; e um broche de unicórnio folhado a ouro (de US$ 3) que ela escolhe em uma mesa de bijuterias antigas.
Em "Mushaboom" - a canção violão-e-piano que a transformou em uma espécie de mistura improvável de Carole King e Björk -, Feist cantava sobre querer uma casa, mas lamentava: "Pode demorar anos até que meus sonhos combinem com meu salário". Mas agora eles já combinam. Hoje, ela está escolhendo produtos para decorar sua casa em uma área preservada a 150 quilômetros ao norte de Toronto (Canadá). O broche de unicórnio é, para ela, uma espécie de brasão familiar. "Chamo minha casa nova de Fazenda do Unicórnio", explica. "Digo que unicórnios moram lá, porque eles são encantados." Ela deu início a sua última turnê alguns meses antes de comprar a propriedade, em maio de 2006, e, graças ao sucesso de The Reminder (2007) e do single, "1234", Leslie acabou de estender sua turnê eterna para 2008.
Em certo sentido, Feist está na estrada desde que começou a pegar carona, aos 16 anos, como uma adolescente encantada pelos romances do escritor Jack Kerouac. Está no palco também desde aquela época, com papéis de todos os tipos - desde extra de ópera até dançarina na Olimpíada de Calgary (Canadá) em 1988, passando por punk rocker aos berros. E, com ainda mais vigor, faz três anos que roda o mundo praticamente desde que Let It Die foi lançado na Europa, em 2004. Apesar de os shows terem ajudado a fazer com que as vendas daquele álbum ultrapassassem as 500 mil cópias e as do novo chegassem a 350 mil, as viagens contínuas da cantora não têm em si o interesse único de vender discos. "Há tanto terreno a percorrer", ela divaga, animada. "O mundo é muito grande e eu realmente gosto de tocar em cidades fora do circuito. Há tantos lugares com teatrinhos fantásticos, ou vinhedos estranhos, ou squats malucos, ou algum castelo decadente que foi transformado em casa de shows."
As apresentações dela não são nada menos do que memoráveis. Feist e sua banda tratam a música como uma coisa viva, retrabalhando canções tranqüilas e transformando-as em rocks rasgados, vendendo a platéias de All Star covers dos Bee Gees e chansons francesas. E ela atrai uma devoção intensa tanto pela voz notável quanto pela beleza dark. "Tudo vem do instinto e da intuição dela", orgulha-se o pai, Harold, um pintor de expressionismo abstrato. "Todo mundo fica de queixo caído. Ouço sujeitos sentados na platéia que dizem: 'Feist, quero casar com você'. Eu a observo enquanto caminha no palco e ela continua sendo 100% Leslie. Não há nada de falso naquilo."
A beleza serena, a sensualidade e o humor das performances de Feist de fato espelham, quase com precisão, a pessoa que ela é fora do palco - uma mistura de maluca e poetisa, cuja ternura fácil é cativante e acessível. Em uma conversa, Feist revela um humor irreverente, brincando que minha credencial "all-access" dá acesso a todos os orifícios dela. Tem a tendência de dançar ao redor de um tema ao construir analogias rebuscadas. Com freqüência, a introspecção melancólica que lhe vem com tanta facilidade traz o eco de uma música ainda não escrita. Isso é útil para uma mulher cujas letras exploram enganos e que insiste que o "K" tatuado no dedo anular direito representa "knuckle" [nó do dedo], e não a resposta mais provável: que é a letra do nome de seu namorado, Kevin Drew, um dos fundadores do coletivo canadense Broken Social Scene.
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