Fernando Collor sobreviveu ao impeachment e desafia a memória. Será que ele vai se contentar em presidir uma Comissão no Senado?
Por Andrea Jubé e Carol Pires Publicado em 23/04/2009, às 18h23
"A impressão é a de que passa um filme na cabeça dele", diz o senador petista Delcídio Amaral sobre a visão de Fernando Affonso Collor de Mello (PTB/AL) sentado em uma cadeira do plenário do Senado, entretido com seus pensamentos. O ex-presidente da República, um personagem midiático sempre perseguido por repórteres nos fins de semana em que andava de jet ski, estava a bordo de uma Ferrari ou pilotava aviões de caça, havia se transformado em um senador casmurro quando, no início de 2007, 14 anos após o impeachment, o mesmo Senado que o cassou teve de acolhê-lo.
Desde então, Fernando Collor se mantinha impassível, comedido. Como se instalado na cadeira da primeira fila do lado esquerdo do plenário - onde sentamos senadores dos estados que começam com a letra "A" -, no mesmo palco onde foi cassado, o ex-presidente da República, único na história brasileira a sofrer um impeachment, se lembrasse de cada detalhe, de cada fala, de cada personagem do processo que o alijou da vida política nacional por oito anos.
O tempo de exílio político acabou transformando o ex-inquilino do Palácio do Planalto, protagonista de aventura se factóides, em um senador obscuro, embotado, marcado pelo constrangimento. Desde quando tomou posse, evitava os jornalistas, economizava cumprimentos, passava mais tempo no gabinete. Ele sofreu um processo de adaptação no qual se aproveitou das licenças parlamentares para se afastar nos momentos difíceis. A primeira licença de quatro meses, desfrutada em 2007, coincidiu com o processo de desgaste político do então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que havia sido líder de seu governo em 1990. A segunda licença, que durou outros quatro meses, coincidiu com as eleições de 2008. Collor se afastou para comandar a campanha do filho, Fernando James, candidato a prefeito de Rio Largo, no interior de Alagoas.
No total, pode-se dizer que Collor passou um terço dos primeiros dois anos de mandato (são oito anos) licenciado. Um levantamento feito pelo site Congresso em Foco em 2007 o apontou como o senador "mais faltoso" naquele ano. Ele deixou de comparecer a 44 das 76 sessões realizadas - considerado o período em que estava no exercício do mandato. O título o incomodou porque dos atributos dos tempos de presidente que deseja manter, estão o apego à disciplina e à organização. No ano passado, se recompôs ficando entre os 30 senadores mais assíduos.
Somente agora, entretanto, após dois anos de mandato - e a dois anos das próximas eleições gerais para governador e presidente da República - pode-se afirmar com todas as letras: "Ele voltou". Após o período de adaptação em que se pautou pela discrição e pelo recolhimento, o político saiu do casulo. Topou a indicação do PTB para representar a bancada na presidência de uma das 11 comissões temáticas do Senado. No início de março, conseguiu se eleger presidente da Comissão de Infraestrutura (CI) após embate árduo com os senadores petistas.
No Congresso Nacional, não basta ser titular de um mandato político para gozar de poder e glória. Depois de chegar à Câmara dos Deputados e ao Senado,os políticos se lançam em disputas acirradas por cargos de maior projeção. Foi o que aconteceu com Collor, alçado a um posto de prestígio no seleto clube frequentado por suas excelências. Empossado no cargo, será, daqui para a frente, o gerente do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) - carro-chefe do governo Lula e bandeira da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, virtual candidata do PT à sucessão presidencial. Na cadeira de presidente da comissão, não terá como fugir aos holofotes. E parece não ser mesmo isso o que ele quer.
Quem acompanha a performance parlamentar de Collor desde o começo notou a mudança. Até pouco tempo - e nas raras vezes em que era flagrado em plenário -o senador por Alagoas (nascido no Rio de Janeiro em 1949) podia ser visto como na cena descrita por Delcídio Amaral. O aspecto arredio, o olhar distante e misterioso, como se assistisse a um filme de sua vida, foi substituído pela expressão desafiadora do presidente imperial, com olhar duro e trote militar dos velhos tempos.
Você lê esta matéria na íntegra na edição 31, abril/2009
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