Rafinha Bastos, o “homem mais influente do Twitter”, vive sua melhor fase sendo agressivo, odioso e politicamente incorreto – e garante que esse é o verdadeiro caminho da salvação
Por André Rodrigues
Publicado em 09/05/2011, às 12h25 - Atualizado em 23/10/2012, às 17h53"Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho." O humorista Rafinha Bastos está no palco de seu clube de comédia, na região central de São Paulo. É sábado e passa um pouco das 20h. Os 300 lugares não estão todos ocupados, mas a casa parece cheia. Ele continua o discurso, finalizando uma apresentação de 15 minutos. "Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade." Até ali, o público já tinha gargalhado e aplaudido trechos que falavam sobre como cumprimentar gente que não tem os braços, o que dizer para uma mulher virgem com câncer, e por que, depois que teve um filho, Rafinha passou a defender o aborto. Mas parece que agora a mágica se desfez. O gaúcho de 34 anos, 2 metros de altura, astro da TV, não está emplacando sua anedota sobre estupro. Os risos começam a sair tímidos e os garçons passam a ser chamados para servir mais bebida. Rafinha aparenta não se dar conta de que algo ruim está acontecendo. Em vez de aliviar, ele continua no tema. "Homem que fez isso [estupro] não merece cadeia, merece um abraço." Em vez de rir, uma mulher cochicha para alguém ao lado: "Que horror".
Horas antes, Rafael Bastos Hocsman conversava comigo em outro de seus empreendimentos, um café frequentado principalmente pelo público gay. Desde que passou a apresentar o programa CQC (Custe o Que Custar) , na Rede Bandeirantes, em 2008, seu nome não para de ganhar popularidade. Hoje ele vai ao ar em rede nacional duas noites por semana. Às segundas-feiras, aparece comentando o noticiário de forma irônica no CQC. Às terças, é um dos repórteres de A Liga, baseado em jornalismo investigativo e de grandes temas (obesidade, condições das cadeias, drogas, entre outros). Nestes três anos, comprou um apartamento, teve um filho (Tom, hoje com 6 meses), ficou sócio de um bar, abriu um clube de comédia com o também humorista e colega de TV Danilo Gentili e acaba de lançar o DVD A Arte do Insulto, com o show de stand-up que o deixou famoso no circuito teatral paulistano - em 20 dias, a vendagem ultrapassou 15 mil cópias. A cereja do bolo veio com o carimbo do jornal norte-americano The New York Times, que o cravou como o homem mais influente do mundo no Twitter.
Parece que as coisas vão bem para Rafinha Bastos. Ainda mais se lembrarmos que o esporte preferido dele é incomodar. Seus textos versam geralmente sobre preconceitos e termos politicamente incorretos. Durante os poucos minutos de suas apresentações, é possível passear por um rosário de sacanagens em cima de gordos, carecas, deficientes, cidadãos de Rondônia, judeus, golfinhos e pagodeiros. "A minha comédia não é feita pra todo mundo, véio. E eu não quero que seja. Até agora eu cheguei assim. Eu não preciso popularizar a minha comédia", ele fala, após um gole de refrigerante. Rafinha não bebe álcool, não fuma, não usa drogas e jura ser fiel à mulher, Junia, com quem está há sete anos. Conhecendo esse seu lado "paz e amor", seu show fica ainda mais esquisito - ou interessante. O estilo agressivo (que ficou óbvio quando comandou um quadro do CQC, o Proteste Já, que promete lutar pelos direitos dos cidadãos), a altura intimidadora e os vitupérios que solta no palco não combinam com o cara que é gentil com estranhos, gosta de ficar em casa com a família e sempre termina as frases com "meu querido". De onde vem essa vontade de provocar? Seria uma vingança? Um roteiro ao estilo "garoto nerd sofre bullying na escola e quando faz sucesso passa a xingar o mundo"?
Assista abaixo ao making of da sessão de fotos com Rafinha Bastos:
"Nunca fui o 'zoão', o piadista. Na aula, eu ficava no fundo. Eu era da turma dos 'filha da puta', mas eu não era filha da puta com todo mundo", ele lembra, sobre a fase escolar. "Eu me relacionava muito bem. Só que era aquele que, se alguém dava uma brecha, eu fazia um comentário absurdo, que não tinha nada a ver. Sempre fui muito observador para fazer graça." Mas uma infância feliz correndo na rua e jogando basquete em Porto Alegre, cidade onde nasceu, não diz muita coisa sobre o grandalhão que gosta de pisar nos calos da audiência. Passear pelos verdes anos do humorista se revela uma pista falsa. É preciso cavar um pouco mais.
"Eu sempre fui muito crítico com comédia. Demorei muito para entender que tem gente engraçada em quem eu não vejo a menor graça. Eu não achei a menor graça no Danilo [Gentili] a primeira vez em que eu o vi. Eu falei para o Oscar [Filho, humorista e repórter do CQC]: 'Você não tem a menor graça, você não tem texto, você não tem nada!' Foi uma briga de não se falar durante dois anos", conta, admitindo, em seguida, sua característica sobressalente. "Porque a minha prepotência, a minha arrogância... que eu ainda carrego hoje, eu não perdi isso. Mas, naquela época, eu não respeitava quem estava ao meu redor."
As coisas se complicam. Agora, além de tentar descobrir de onde vem o gosto pela polêmica, é preciso buscar os motivos da propalada arrogância de Rafinha. Desde criança, Rafinha Bastos tinha um sonho: trabalhar na TV. Fez a faculdade de jornalismo em sua cidade natal e logo passou a produzir e editar reportagens na extinta TV Manchete. Naquela época, já contrabandeava humor nas suas saídas com a câmera, quando cobria atrações culturais, vestibular e assuntos de temática jovem. Depois de alguma experiência no ar, foi para os Estados Unidos estudar e jogar basquete universitário. De volta ao Brasil, passou a trabalhar no portal de internet da RBS (afiliada da Rede Globo no Sul), que o motivou a se aprofundar nas ferramentas do universo virtual. Mas aquilo não era suficiente. Nunca foi.
"Eu queria muito fazer comédia no Rio Grande do Sul. Senti que tinha a manha. Mas teve gente na RBS que falou assim: 'Gaúcho não gosta de comédia. Gaúcho gosta de jornalismo e documentário'", diz. Desde 1998, ele tinha um endereço na internet, intitulado Página do Rafinha. Lá, colocava videoclipes toscos e sátiras que realizava com os amigos e a família. Eram brincadeiras ingênuas, típicas da idade, com garotos vestidos de mulher dublando sucessos da música brega, pop ou qualquer coisa que soasse engraçada. A criatividade do piá começou a se espalhar na rede. "Tinha uns 22 anos e pensei: 'Essa merda que tô fazendo aqui na RBS... Esses filhas da puta estão barrando as minhas ideias. Tudo o que to tentando emplacar nessa merda não tem graça, as pessoas não riem, mas meus amigos tão achando do caralho. Tô perdendo meu tempo com uns idiotas, cara'." Em 2002, Rafinha decidiu que tentaria São Paulo.
Enquanto relembra a história, um garoto todo vestido de preto tal qual um "mini-Johnny Cash" se aproxima de nossa mesa e interrompe a conversa, falando sobre o pai morto. É uma piada. Ele também quer saber o que Rafinha achou de um vídeo que ele mandou para um dos concursos que o humorista realiza na internet. Rafinha escuta as dúvidas do iniciante, dá dicas e arremata com "se o texto for bom, vão rir. Mesmo que você fale 'sua mãe foi estuprada', vão rir. Desenvolve e testa". O rapaz sai de cena radiante. Olho para minhas anotações e vejo duas palavras grifadas: provocação e arrogância. Continuo sem respostas. Mas antes de retomar o fio e explicar como desembarcou em São Paulo com R$ 8 mil - dinheiro ganho do seguro depois de dar perda total em um carro - para tentar transformar a Página do Rafinha em um programa de TV, meu entrevistado joga uma pista quente. "[Gravava os vídeos] com o apoio do meu pai e da minha mãe. Meu pai se acha artista. Ele é do caralho. É muito engraçado. Tem um sarcasmo, uma ironia muito louca."
Então o segredo está no pai? Médico, Júlio Hocsman, pai de Rafinha Bastos, já foi secretário da Saúde do Rio Grande do Sul, por isso participava de diversos programas de TV. "As primeiras vezes em que eu estive na TV foi acompanhando meu pai. Ficava lá, olhando as câmeras." Piadas? "Eu era criança e meu pai já fazia piada. Eu perguntava: 'Pai, como se diz mesa, em inglês?' E ele: 'Cat [gato]'. Aí eu começava a usar cat. No zoológico, eu via um canguru parado. Meu pai dizia que ele estava quieto porque os cangurus só pulavam na Austrália. Eu tinha 6 anos e acreditei nisso até meus 20 e poucos." Arrogância? "Meu pai sempre me achou do caralho. Ele falava: 'Rafael, você é artista. Você é como eu'. Meu pai tem essa arrogância." Preconceito, humor politicamente incorreto? "De onde vem? Não sei, meu pai sempre foi um cara assim. Meu pai é um cara que carrega muitos preconceitos. Eu também sou um cara que carrega uma série de preconceitos e faço questão de admitir isso no palco. Eu não acho que obesidade é doença, é preguiça. Acho que gordo é preguiçoso." E então Rafinha olha as horas e diz que precisamos partir para o clube de comédia, onde ele irá mostrar trechos de seu novo solo e causar repulsa com aquela piada de estupro.
"Pedofilia... Muitas pessoas são contra a pedofilia, outras pessoas são padres..." Rafinha continua mexendo com temas polêmicos, mesmo após chocar parte da plateia com o papo sobre estupro. A espectadora que achou a piada anterior um horror agora gargalha, aliviada. Pedofilia agradou mais do que violência sexual contra mulher. A plateia se revela uma entidade ainda mais indecifrável do que os humoristas. O show acaba e tomamos o rumo da porta. "Eu não tenho mais a necessidade de ser o mais engraçado. Eu não tenho mais a competitividade que um dia eu tive. Agora eu subo no palco e penso: 'Pô, a galera riu muito mais do [outro] cara'. Ele não foi melhor que eu... Ele agradou mais, isso sim. Você tá entendendo? Eu abracei uma história de que eu sou do caralho. Não faço questão de ser melhor do que o outro. Mas ainda me acho muito do caralho."
A fila lá fora avança por uns 200 metros na rua Augusta. São várias sessões por noite, com um couvert artístico de R$ 30 por pessoa. Naquele sábado, para atender a multidão, havia um show extra às 2h da manhã. Rafinha se apresenta quando quer e pode. A programação é variada, alternando medalhões do stand-up com iniciantes. Na entrada, há uma parede toda recheada com produtos trazendo o logo da casa e as imagens de Rafinha Bastos e Danilo Gentili: são DVDs, chaveiros, camisetas, canetas, canecas. "Quando vi pela primeira vez, achei estranho. Isso parece um altar, um lugar de adoração. Mas agora me acostumei", ele comenta, olhando os produtos. Há até um boneco em miniatura de Danilo. Rafinha se vira para a hostess e pergunta o preço: R$ 300.
Andar pelas ruas com uma pessoa famosa é exercer a arte da paciência. Em cada esquina, Rafinha é abordado para tirar fotos, dar autógrafos ou apenas dizer um "tudo bem, meu querido?"
"Você viu como a plateia retraiu quando eu comecei a falar de estupro? Mas não é bom? A piada não é boa? É boa! Eu gosto da piada!", ele interrompe a caminhada e fala pela primeira vez sobre a apresentação que acabou de fazer. O gigante está ferido. "Eu nunca tinha visto o texto do estupro funcionar tão pouco. As pessoas realmente se assustaram pra caralho!" E, diante daquele momento de fragilidade, Rafinha perde alguns centímetros, encolhe e recua no tempo. "Eu senti um puta clima! Mas isso hoje não me incomoda mais. Antigamente, rolava esse clima e eu ia falar: 'Eu sou gaúcho...' Eu iria para um texto que sei que funciona. Isso anos atrás. Agora, eu falo: 'Não, eu vou fazer o texto do estupro até o final!'"
Anos atrás nem é tanto tempo assim. Rafinha chegou a São Paulo em fevereiro de 2003. Como a vaga ideia de colocar a Página do Rafinha na TV não vingou, passou a fazer alguns bicos para arranjar dinheiro. Trabalhou como locutor de telessexo, teve um programa na internet, produziu pegadinhas para o João Kléber e até pensou em incorporar o gaúcho folclórico e servir espetos numa churrascaria. "Também era uma experiência que eu queria viver. Eu queria me foder. Sabia que hoje eu ia valorizar ainda mais essas coisas. Eu já pensava nisso: 'Tudo isso que está me acontecendo agora vai ser do caralho quando eu for muito do caralho. E vai rolar'. Eu tinha noção."
As certezas de Rafinha começaram a tomar forma quando ele chegou à TV - vendendo produtos, é verdade. Fez comerciais e logo foi contratado pela festa Trash 80's, que resgatava hits dos anos 80 e virou febre entre os jovens da classe média paulistana. Rafinha cuidava do telão, produzia vídeos e era DJ. Com a grana fixa da Trash 80's e o salário da publicidade, as coisas passaram a ser promissoras. Ao assistir a uma apresentação da comediante Marcela Leal, em 2004, ele enxergou a possibilidade de também subir em um palco. Incentivado pela nova amiga, tentou ser engraçado assumindo alguns personagens. Ele então virou um palhaço maldoso, funcionário de uma famosa rede de lanchonetes, e um psicopata mascarado que atacava em Crystal Lake.
"Já era pesado e agressivo. Era um palhaço filha da puta, que colocava minhoca nos lanches, um fracassado... E tinha o Jason. Eu colocava uma máscara e contava uma história. Era ridículo, ruim pra caralho. Um dia a Marcela [Leal] foi assistir e a plateia não riu nada. Ela falou: 'Rafinha, não vão gostar disso. O texto é muito você, sai do personagem'." Inspirado em stand-ups que tinha visto na TV norte-americana, ele percebeu que poderia contar seus causos e emitir suas opiniões sem precisar fingir que era um palhaço ou um assassino serial. Só a sua figura já incomodava o suficiente. Depois ele conheceria o comediante Marcelo Mansfield, uma espécie de segundo pai, que o incentivaria a tentar pela primeira vez um pequeno solo. "Fiquei emocionado. Os caras riram. E era eu ali!" Começou a desenvolver material próprio, criou o espetáculo A Arte do Insulto, produtores da Band o viram no teatro e ele recebeu o convite para integrar o elenco do CQC.
"Preciso reavaliar a piada. Poderia ser mais engraçada ainda. Mas eu acho engraçada... Você já viu uma mulher gostosa na TV reclamando que foi estuprada?", ele dispara perguntas, assombrado pela piada maldita. Inconformado com a reação do público de horas antes, ele busca formas de fazer a piada funcionar, mas prefere se reconfortar no caráter misterioso da plateia. "Às vezes faço uma piada de merda. Não é sempre que eu acerto", admite. "E tenho a tendência a agredir. Isso é uma coisa que às vezes até peco um pouco. Muitas vezes é um tiro no meu pé. Eu saio do palco e 'pedrada, pedrada, pedrada'. Aí entra um cara e diz: 'Meu pinto é pequeno'. E as pessoas riem!"
A audiência forma um corpo difícil de ser domado. Por isso Rafinha Bastos entra batendo, sem cerimônias. Ele acha que, no palco, nenhum assunto é sagrado. "Eu gosto de incomodar. Eu não gosto de achar que estou querendo educar ou passar uma lição. O barato é surpreender, fazer algo que faça eu me sentir livre. Eu não penso duas vezes na hora de falar no palco uma colocação que faço entre amigos, por mais absurda que seja. Tem muita merda que a gente pensa. E, se a piada for boa, tem que entrar." Mas quando ele abandonou as fantasias de palhaço ou a máscara do vilão de SextaFeira 13, quem ele encontrou? Qual é a desse personagem que Rafinha encarna no palco? No que se transformou o moleque dos clipes debochados, que colocava saia e fazia dublagens ingênuas?
"Cara, não é um personagem. Não sou só isso, mas com certeza sou aquilo. Eu penso aquilo. É uma faceta muito presente em minha vida. Se não fosse autêntico, se fosse um personagem, as coisas não teriam dado certo pra mim. É o que me diverte, é o que me faz rir, é o caminho que eu quis seguir." Então chegamos a alguma lição - pelo menos, a lição de Rafinha: faça o que tem vontade, teste, se dedique e as coisas vão acontecer.
"Mas eu não quero ser o braço direito do Marcelo Tas [figura central do CQC] o resto da minha vida. Por mais que eu goste do Tas e me dê bem com tudo aquilo, eu quero crescer, testar, eu quero me foder", diz. "Quero fazer muita coisa, mas stand-up eu quero continuar fazendo. Por mais banalizado que as pessoas achem. Nada me orgulha mais do que bolar três minutos de texto. É melhor do que qualquer programa da Liga, melhor que qualquer sucesso do CQC, do que qualquer coisa."
Isso não quer dizer que a TV esteja descartada: entre as vontades de Rafinha Bastos, está uma série em que interpreta a si mesmo. Ele cita como referências Curb Your Enthusiasm, de Larry David, e Louie, do comediante Louis C.K. Também quer ganhar o DVD de Diamante depois que vender pelo menos 50 mil cópias de A Arte do Insulto. E, por que não, começar tudo de novo? Rafinha acha que isso seria muito engraçado.
"Às vezes tenho vontade de falar: foda-se essa merda toda. Vamos começar do zero. Vamos para Nova York, viver a mesma coisa que vivi em São Paulo. Não é estresse nem nada. Ia ser um desafio. Não seria do caralho fazer isso? Eu penso em atingir a marca de dois milhões de seguidores no Twitter e zerar [ele ultrapassou esse número dias após a entrevista]. Apagar a conta e começar tudo de novo."
Finalmente, ele resolve falar sobre o estudo que apontou Rafinha como a personalidade mais influente do Twitter, à frente de Barack Obama, Justin Bieber, Lady Gaga e Oprah Winfrey. "Pessoalmente isso não me tocou, não. Profissionalmente me tocou porque dei entrevistas. Grana, rolou pouca coisa." Rafinha ainda lembra que, depois da reportagem no New York Times, seu nome voltou a ser citado porque ele disse que cobrava para escrever certos tweets. "Todo mundo faz isso. Uma bobagem. Às vezes procuram e eu aceito. Mas tem coisa que não faço, não." Os tweets de graça, por sua vez, incluem de grandes dicas - "Olá, você tem avós? Gosta deles? Legal! Eles morrerão em breve. Durma bem" - a escatologias, como uma foto mostrando onde ele pretendia guardar um troféu que acabara de ganhar (é exatamente no lugar em que você está pensando). "Essa coisa de 'mais influente do mundo' acaba me dando poder. Mas é algo em que você não toca. Eu nem penso a respeito. Não acho que sou o mais influente do mundo", ele reflete. "Eu faço uma coisa que mais gente se identifica. Quando eu falo assim: 'Se vagina fosse em pedra, viciava mais que o crack', pode não ser a melhor piada do mundo, mas você entendeu."
Entendi, mas o homem que posa com uma coroa de espinhos na cabeça (Rafinha não tem religião, mas no stand-up ele se diz judeu) não consegue ficar apenas no falatório protocolar, nos agradecimentos de praxe. "Eu sou foda. Eu sou muito foda. Não precisa o Twitter me dizer, não precisa o fã me dizer... Minha mulher, talvez, eu até goste. Meu pai. E acaba aí", ele arremata, me encarando.
"Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho." Rafinha Bastos está outra vez no palco de seu clube. Agora já passam das 22h daquele mesmo sábado e, desta vez, todos os lugares estão tomados. Minutos antes, na rua, ele me convidou para rever o show solo: está determinado a provar que a piada sobre estupro é mesmo boa.
A plateia está excitada, chicoteando as paredes do lugar com longas risadas. A luta está ganha para Rafinha. Nessa sessão, quando ele continua com o texto, anunciando o abraço no estuprador, há muitas gargalhadas e até mesmo aplausos. Do palco, ele bate ainda mais forte, ri, faz dancinhas e fala sobre a gravidez de sua esposa e o ultrassom do bebê, quando o pequeno Tom "parecia uma ameba". Ele finaliza a sequência, agradece e recebe um "ahhhhhh". As pessoas querem mais. Ele sai. Precisa ir pra casa ver a mulher e o filho. Ainda dá tempo de me levar até a porta, dar muitos autógrafos no caminho e dizer: "Viu como a piada do estupro funciona?"