CARA ESTRANHO Driver, 30 anos, o namorado de Lena Dunham em Girls: agora ele é o bom moço - Theo Wenner

Como Adam Driver, um moleque brigão de cidade do interior, se tornou o galã bizarro da série Girls

Alex Morris Publicado em 11/02/2014, às 10h32 - Atualizado em 13/03/2014, às 14h32

Digamos que Adam Driver precise comprar ovos. Ele vai ao mercado. Escolhe os ovos. Entra na fila. A mulher do caixa olha para ele e diz, com um sorriso: “Você é um cuzão!” Driver nem pisca. “Obrigado”, ele diz, colocando os ovos no balcão. “Eu gosto de você, mas você é um cuzão!” “Uh, vai se foder?”, Driver responde daquele jeito engraçado-palhaço-cuzão que ele tão bem aperfeiçoou na TV. “Os ovos estão com desconto?”

Para Driver, 30 anos, foi assim que rolou por um tempo. Se é que já houve na história um amante menos atraente do que Adam Sackler, o ator-carpinteiro-esquisitãodepravado que ele interpreta na série Girls (HBO), seria difícil de imaginá-lo – e Driver acertou tão brilhantemente na interpretação que logo se viu bombardeado por causa das predileções do personagem. Sackler urinou em Hannah Horvath (personagem de Lena Dunham, estrela e criadora da série) durante o banho? Driver foi rotulado de “cuzão”. Sackler pediu a uma mulher que engatinhasse até sua cama? Driver virou o “doido-pervertido”. Mas, como em um passe de mágica, ele se transformou no namorado de verdade de Hannah no final da primeira temporada. De repente, Sackler se tornou o cara bonzinho – uma versão hipster e distorcida do Mr. Big de Sex and the City –, e Driver, enfim, deixou de ser um cuzão na vida real.

Como Lena Dunham transformou uma vida de ansiedade, sexo ruim e inúmeros remédios psiquiátricos no programa mais engraçado da TV.

Agora, em um café perto do apartamento onde mora no Brooklyn, ele descreve suas experiências com a má fama de Sackler com a mesma timidez com que parece encarar a vida. “Era muito constrangedor”, diz. “Mas agora eu não sou mais tão importunado. É tudo muito legal.” E Driver também é legal em pessoa – ou como Lena o descreve, é “um milhão de vezes mais maduro, focado e civilizado”. Mas ele ainda é uma esquisitice, com o enorme rosto alongado com traços élficos e um físico parrudo que parece constantemente ligado na tomada. Ele come seis ovos por dia (menos quatro gemas). Ele malha obsessivamente. Ele mergulha nos personagens. Não vê a hora de ter filhos para ter uma desculpa para sempre ficar em casa. E se recusa a assistir Girls (“Desse jeito eu tento não ter controle sobre o que está acontecendo”, diz). A série é provavelmente o subproduto mais certeiro da geração millennial – e Sackler é o perfeito garoto-propaganda –, mas Driver parece imune a tanto barulho. “Eu me sinto muito desconectado de minha geração. Sou desconectado do que está acontecendo.”

De certa forma, é isso que é atraente nele, e foi o que o ajudou a entrar para o elenco de Girls. Praticamente desconhecido, Driver foi o primeiro ator a ser testado para o papel de Sackler e compareceu ao teste segurando um capacete de motoqueiro (“O que foi bem intrigante”, diz Lena). A maneira com que ele abordou o personagem foi tão surpreendente que Lena saiu de trás da mesa para ler o diálogo com ele. “Ficamos chocados, mesmo sem nunca o termos visto antes”, ela conta. “Tudo o que consegui murmurar foi: ‘Uau, você tem o mesmo nome que esse personagem’, feito uma boba.”

Quando criança, Driver viveu em Mishawaka (Indiana) e era um arruaceiro que gostava de escalar torres de rádio, rondar trilhos de trem e botar fogo nas coisas, e que de tão inspirado pelo filme Clube da Luta acabou criando uma brincadeira parecida. “Tinha esse gramado enorme que as pessoas alugavam pra se casar ou sei lá, e nós íamos para lá de noite para espancar os nossos vizinhos”, conta. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, uma onda de patriotismo assolou os Estados Unidos e muitos amigos de Driver começaram a cogitar a ideia de entrar para o Exército. Ele se alistou e foi enviado para Camp Pendleton, uma base da Marinha na Califórnia, onde se surpreendeu ao perceber que a vida militar combinava com ele. “De repente, estar no Exército com esses caras nessas circunstâncias extremas, isolado da família, vivendo um estilo de vida meio grego, mudou minha vida. Eu gostava daquilo pra valer”, diz. Mais tarde, ficou arrasado quando, depois de quebrar o osso esterno em um acidente de bicicleta, descobriu que não seria enviado para o Oriente Médio: após dois anos na Marinha, acabou dispensado. “De uma hora para outra, ter de viver nesse mundo civil, onde as pessoas fazem maluquices como usar chapéu dentro de casa e vestir a camisa pra fora da calça... É difícil de se recalibrar.”

Em Girls, Driver se tornou um cara tão incrivelmente bom em fingir que transa de um jeito incrivelmente ruim, que acabou se tornando uma espécie de símbolo sexual por causa disso. Existe uma conta no Twitter dedicada ao peito nu do ator, e o corpo dele de 1,88m aparece de forma proeminente em uma campanha da Gap e nas páginas da revista Vogue, para as quais foi clicado por Annie Leibovitz. “Eu não me ligo na moda”, ele diz. “Continuei me vestindo como se tivesse 15 anos até que minha esposa” – a atriz Joanne Tucker – “disse: ‘Você deveria usar calças compridas. Talvez shorts sejam bons para os outros, mas não para você’”. Lena, por sua vez, conta: “Já me perguntaram como é o cheiro dele mais vezes do que eu gostaria de admitir”.

Esta é uma pergunta estranha de se fazer, o que a torna bem apropriada para Driver (que, aliás, cheira como se tivesse acabado de sair do banho) e um testamento à aura “de carne e osso” que ele leva a qualquer papel. Além de ter terminado a terceira temporada de Girls, ele acabou de fazer um segundo filme com o diretor Noah Baumbach, While We’re Young, ganhou aplausos pela participação em Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum e começa a rodar o longa Midnight Special este mês. Como esperado, Driver acha que está tudo sob controle. “Eu tento esgotar cada opção possível”, ele diz em um tom controlado. “E aí tento abrir mão de tudo.”

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