<b>MUITO OURO</b><br> Protagonizados por Freeman, os dois primeiros O Hobbit arrecadaram mais de US$ 2 bilhões. - Divulgação

Adeus à terra média

Treze anos depois do primeiro O Senhor dos Anéis, Peter Jackson encerra a maior saga de fantasia do cinema com O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos

Pedro Antunes Publicado em 17/12/2014, às 10h38 - Atualizado às 12h20

No alto de uma pequena colina, ao sul da Ilha Norte da Nova Zelândia, os portões imponentes da fictícia cidade de Dale crescem em meio às árvores. Não fossem os sujeitos trajando uniforme de elfos (orelhas pontudas e cabelos longos) ou máscara de monstruosos orcs, o cenário seria verossímil. Ali perto, no centro de uma clareira, entre pedras, neve e sangue falsos espalhados pelo chão, Martin Freeman e Ian McKellen vão e voltam.

Freeman dá vida a Bilbo, o protagonista da trilogia O Hobbit, enquanto sir McKellen volta ao papel do mago Gandalf, que interpretou nos três filmes da cinessérie O Senhor dos Anéis. A cena é rápida, dura alguns poucos segundos. Eles discutem, Freeman sai, olha para trás, e segue seu rumo. Logo depois da gravação, McKellen está sentado em uma tenda próxima – cansado, mas ainda animado em falar sobre O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, último filme da saga, previsto para estrear este mês no Brasil. “Esses sets são incríveis, não são?”, pergunta o ator de 75 anos, veterano da franquia e presente nos seis longas baseados nas histórias do britânico J.R.R. Tolkien. “Quando se está em um lugar como esse, tudo fica muito crível. Não precisamos nos lembrar do que o livro nos diz. Está tudo aqui.”

É junho de 2013; o dia está prestes a acabar e, com ele, a luz natural do sol. Uma data a menos em um calendário iniciado no mês de agosto de 1997, ano em que o diretor Peter Jackson começou a trabalhar no esboço do roteiro que viria a se tornar O Senhor dos Anéis.

Desde a estreia do primeiro filme, O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, em 2001, a franquia se estabeleceu como uma das mais bem- -sucedidas da história do cinema moderno, colocando o gênero de fantasia de novo no topo das arrecadações em bilheteria. Filmados todos de uma vez, A Sociedade do Anel, As Duas Torres (lançado em 2002) e O Retorno do Rei (2003) arrecadaram mais de US$ 3 bilhões ao redor do mundo, além de terem rendido à equipe 17 estatuetas do Oscar. Os filmes contam a história de um jovem hobbit (um ser pequenino criado por Tolkien, com pés grandes e peludos e pouca disposição para aventuras) em uma jornada inimaginável na tentativa de destruir um poderoso anel. A força do objeto poderia destruir toda a vida que se conhecia naquele continente imaginário chamado Terra-Média.

As façanhas de Frodo Bolseiro, interpretado por Elijah Wood, envolviam grandiosas cenas por locais reais na Nova Zelândia, terra natal de Peter Jackson. De outubro de 1999 a dezembro de 2000, por um período de 438 dias, a Terra-Média existiu no pequeno arquipélago no Oceano Pacífico. Entre 2001 e 2004, elenco e produção se reencontraram no local para filmagens extras.

Com O Retorno do Rei (2003), Jackson colocava um fim na adaptação do trabalho mais conhecido de Tolkien. Havia, contudo, a história de como o anel chegou a Frodo, como herança do tio dele, Bilbo. O enredo de O Hobbit, livro infantil de Tolkien cuja trama antecede os acontecimentos de O Senhor dos Anéis, ainda poderia ser contado nos cinemas. Jackson já havia revelado o desejo de filmá-lo em 1995, mas foi somente após o estrondoso sucesso de O Senhor dos Anéis que ele conseguiu aprovação para isso.

Em 2008, ficou certo que Guillermo Del Toro assumiria o posto de diretor da produção, enquanto Jackson permaneceria como roteirista e produtor. Com os atrasos e problemas financeiros dos estúdios MGM, Del Toro deixou o projeto e Jackson, novamente, assumiu a direção. A história original, imensamente menor, seria adaptada em dois filmes, mas, com a ajuda de anexos e textos adicionais de Tolkien, Jackson e as roteiristas Philippa Boyens e Fran Walsh conseguiram espremer e garantir mais uma trilogia.

As filmagens principais dos três filmes de O Hobbit ocorreram entre março de 2011 e julho de 2012. Naquela tarde de 2013, contudo, parte do elenco estava novamente em Wellington, capital da Nova Zelândia, para cenas extras que completariam o terceiro filme. “É demais estar de volta”, afirma uma encantadora Evangeline Lilly, ainda sem os trajes da elfa Tauriel, personagem inédita criada especialmente para os cinemas. Recuperando o ar após um treinamento de luta, ela se diz “mais confiante agora”, citando um sentimento de maior domínio sobre as cenas de ação da personagem. Já para o protagonista Martin Freeman não foi tão simples voltar à pele de Bilbo mais uma vez – a última, aliás. “Nunca tinha ouvido falar disso, de ser chamado para novas filmagens 11 meses depois do fim das gravações”, diz o ator, também conhecido pelo papel de John Watson na série Sherlock. “É um trabalho de dois anos e meio. Esse período de tempo [entre a parada e o retorno às gravações] tem de tudo, é uma jornada enorme. A vida tem momentos altos e baixos, grandes viradas.”

Em 2012, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada arrecadou US$ 1,1 bilhão; no ano seguinte, o primeiro trailer de A Desolação de Smaug já era aguardado ansiosamente. “Desde quando decidimos que teríamos três filmes, sabíamos que o primeiro seria mais difícil”, relata Philippa Boyens, em uma tenda longe da ação das câmeras. “Isso é interessante, porque A Sociedade do Anel foi o mais fácil. Desta vez, não era uma aventura heroica, mas sim uma história infantil, por isso foi preciso encontrar outros ângulos. Então, quando me perguntam o que senti quando o primeiro filme saiu, foi alívio”, brinca a roteirista. Transformar um livro juvenil em três longos filmes foi motivo de dúvida por parte da crítica e do público, e Philippa diz entender o ceticismo em torno do projeto. “Por isso precisávamos acreditar que sabíamos o que estávamos fazendo”, afirma.

Apesar das memórias frescas sobre o início das gravações de O Hobbit, a proximidade do fim das filmagens estava nítida no clima de serviço quase completo que pairava sobre o set. A jornada de mais de uma década de hobbits, orcs, elfos, anões e outras criaturas fantásticas estava, de fato, chegando ao final. “Já me despedi tantas vezes que não acredito que desta vez é pra valer”, diz McKellen. Ele é um dos nove atores que tatuaram um símbolo élfico ao final das filmagens de O Senhor dos Anéis. “Eu não vou sentir saudade de Gandalf, porque ele estará o tempo todo comigo”, decreta.

McKellen se recorda da expectativa que criou sobre o personagem ao interpretá-lo pela primeira vez, em 1999 – ou, nesse caso, da falta dela. “Não sabia que emprego maravilhoso seria esse”, conta. “Tinha medo de morar aqui [na Nova Zelândia], tão longe da Inglaterra. Na época, não sabíamos o que as pessoas esperavam nos cinemas. Agora, sabemos que há milhões aguardando

para assistir a este filme.”

A presença de Jackson no projeto do começo ao fim ajudou a trazer uma unidade às duas trilogias. “Quando as pessoas forem assistir aos filmes, verão como uma série de seis longas, entende?”, acredita o cineasta. “Por isso nossa ideia é que O Hobbit acabe se encaixando nessa sequência”, ele continua, antes de ser interrompido e avisado por um assistente: “Estamos sendo derrotados pelo relógio, o sol está indo embora”.

Ao fim da jornada diária, é Jackson quem permanece no set, contemplando a opulência de Dale, cidade criada especialmente para O Hobbit. Com uma xícara enorme de chá fumegante nas mãos, ele parece particularmente interessado em um pedaço de neve artificial disposto no chão. Os cabelos grisalhos esvoaçados e a baixa estatura dão ao próprio cineasta um ar de hobbit bonachão. “Nesse momento, enquanto estamos correndo contra o tempo para filmar uma cena de batalha, pensar em rodar um drama familiar, em uma pequena casa, é tentador”, ele admite. Questionado sobre o que ele pretende fazer quando o trabalho com a obra de Tolkien estiver finalmente encerrado, Jackson beberica o chá e sorri. “Vou tirar férias por um tempo.”

Tributo Merecido

Mesmo tomando liberdades, série de seis filmes honra o texto de J.R.R. Tolkien

Com o fim da trilogia O Hobbit, Peter Jackson encerra a mais emblemática homenagem feita à complexidade da obra de J.R.R. Tolkien, criador da fantasiosa Terra-Média e de todos os seus fantásticos e complexos personagens. O trabalho do ex-militar e escritor inglês, contudo, é extremamente extenso, tendo havido a necessidade de se fazer concessões. Jackson não traduziu ao pé da letra, nas telonas, o que se leu nos livros de Tolkien. Os fãs, desde que A Sociedade do Anel saiu, em 2001, apontaram diversas ausências sentidas, de personagens a tramas inteiras, adaptadas para se tornarem mais palatáveis para as massas. Mas se em O Senhor dos Anéis a dificuldade foi condensar a obra literária para caber nos filmes, com O Hobbit o problema foi o oposto: expandir um livro infantil de duas centenas de páginas e fugir mais da mitologia já estabelecida. Não por acaso, a segunda trilogia, que mostra os acontecimentos que se passam antes da primeira, deixa a desejar se comparada aos três filmes iniciais. Mas é possível relevar: ainda assim, ver o universo de Tolkien se materializando nas telonas permanece

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