<b>Mr. Nice Guy</b><br> Fora dos palcos, Alice Cooper não tem nada de aterrorizante - Action Press/Rex/Shutterstock/AP

Longe da política, Alice Cooper recorda passagem histórica pelo Brasil

"Na década de 1970, eu era o cara mais odiado dos Estados Unidos", diz o rei do rock horror

Paulo Cavalcanti Publicado em 22/10/2017, às 09h48

Pouca gente reconhece, de cara, o nome Vincent Furnier. Mas a situação muda quando se menciona Alice Cooper, alter ego de Furnier desde o final da década de 1960. O astro do rock horror, de 69 anos, esteve no Brasil em setembro para se apresentar nos festivais Rock in Rio e São Paulo Trip. Fora do personagem, ele é afável, abstêmio e renascido na fé cristã, com os momentos de folga dos palcos divididos entre jogar golfe e realizar trabalhos beneficentes. Cooper também lançou este ano o disco Paranormal, um retorno ao som básico (o trabalho tem até a participação dos músicos que tocaram com ele na década de 1970).

Você fez história quando veio ao país pela primeira vez, em 1974, para apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro. O que você recorda a respeito?

Lembro que tinha gente que não acabava mais. Eu não conseguia ouvir o que cantava e nem o que a banda tocava. Aqueles shows bateram recorde, acho que havia umas 100 mil pessoas [no Anhembi e no Ginásio do Maracanãzinho; as reportagens da época citam entre 80 mil e 158 mil pessoas]. O Brasil era governado por militares e ninguém queria saber de uma figura como eu por perto. Só liberaram nossa permissão de trabalho quando ficaram convencidos de que não haveria qualquer tipo de manifestação política contra o regime nas apresentações. Ainda assim, grupos religiosos tentaram proibir a minha vinda ao país. Resumo de tudo: no dia seguinte a um dos shows, um jornal brasileiro estampou uma foto minha ao lado de uma cobra, com a manchete: “Macumba!”

Álbuns como Killer (1971) e School’s Out (1972), que você lançou pouco antes de vir, ainda são referência e jamais ficam datados.

A década de 1970 marcou o auge do rock. Na época você tinha Kiss, David Bowie, Aerosmith, Led Zeppelin, todo mundo lançando discos que mudaram as regras. Éramos amigos, mas existia também uma enorme competição criativa entre a gente, com um querendo superar o outro.

Passada a primeira fase de sucesso, você começou a emplacar baladas nas rádios – “You and Me”, “How You Gonna See Me Now”...

Todos os artistas da época procuravam fazer discos diversificados, com uma ou outra balada no meio. Acontece que chegou aquele período, 1976, 1977, e as rádios só queriam tocar disco music. Músicas com guitarra foram banidas. O pessoal da gravadora falava: “Alice, o disco está legal, mas não vão tocar rock. Vamos centrar fogo nas baladas”. Os divulgadores trabalhavam as canções lentas e com violão, já que isso é que era aceito. Eu não tinha mudado de estilo. O foco comercial é que era outro.

A canção “Elected” (1972) foi um enorme sucesso. Você a lançou como um comentário sobre uma das eleições mais conturbadas dos Estados Unidos, que levou o republicano Richard Nixon à Casa Branca, derrotando o democrata George McGovern. Vê semelhanças entre aquele momento e os dias de hoje?

Na década de 1970, eu era o cara mais odiado dos Estados Unidos. E tinha o Nixon! Eu “gostava” dele porque ele se tornou ainda mais rejeitado do que eu! “Elected” voltou com força no ano passado, com o embate entre Donald Trump e Hillary Clinton. Eu colocava atores no palco fazendo versões “zumbis” deles. No final, eles se atracavam. Hilário!

Em seus shows da década de 1970, você colocava um roadie com uma máscara de Nixon. Depois, você e os músicos da banda desciam porrada nele. Faria isso hoje com o Trump?

Definitivamente, não! Como veterano de todos esses tipos de controvérsia, decidi nunca mais mexer em política em um nível tão explícito.

Quando você morrer, o que acha que irão escrever e falar a seu respeito?

Algo assim: Alice Cooper vai para o inferno! [referência a Alice Cooper Goes to Hell, disco que ele lançou em 1976]. Sério, só vão falar das minhas músicas mais polêmicas, do que eu aprontava no palco, citando decapitação, violência... Eu não ligo. Hoje uso o meu status de celebridade para levantar fundos para a Solid Rock Foundation, ONG que eu fundei em 1995 para ajudar a afastar crianças das drogas.

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