Nelson Motta acumula paixões musicais enquanto intensifica seu principal passatempo: o trabalho
Marcos Lauro Publicado em 11/12/2014, às 16h53 - Atualizado às 17h03
Lulu santos, marisa monte, Tim Maia, As Frenéticas, Dorival Caymmi, Elis Regina, Sandra de Sá: artistas de gerações, estilos e apelo diferentes, mas que guardam pelo menos uma coisa em comum. Essa variada lista é apenas uma pequena amostra do numeroso contingente de músicos que teve a obra tocada pelo trabalho de Nelson Motta.
“Meu interesse pela música nasceu quando eu tinha 15 anos, quando ouvi ‘Chega de Saudade’ pela primeira vez”, ele relembra, falando por telefone do
apartamento onde vive, em Ipanema, com o sotaque mais carioca que um paulistano pode ter. “Aí me apaixonei! Fui estudar violão e virei letrista.”
Não há como negar que o jornalista, compositor, produtor e roteirista seja um homem de sorte – antes de se tornar colunista, ele já cultivava
amizades com a nata da música brasileira, incluindo Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Tom Jobim. Mas os bons ventos sempre vieram acompanhados
de altas doses de trabalho duro. “Eu sei o quanto me esforcei e continuo me esforçando para ter uma atitude diante da vida, das pessoas, da música”, afirma. “Já me sacrifiquei bastante por isso e tive muita sorte também, coisas que só o acaso pode explicar. Sempre gostei de conhecer gente diferente, tenho horror da homogeneidade, da mesmice. Isso me abriu mais oportunidades.” De amizade em amizade, as parcerias de sucesso foram acontecendo.
Uma das mais emblemáticas da carreira de Motta teve a gênese em 1985, quando ele conheceu Marisa Monte, na época empenhada em estudar canto lírico em Roma, onde o produtor estava passando uma temporada. De volta à terra natal, Motta produziu a estreia de Marisa, MM (1989), um álbum de versões, ainda que na época a alta classe da MPB tivesse aversão a discos de covers. “Conseguimos derrubar esse preconceito!”, ele exclama. “Em vez de
fazer um monte de música inédita ruim, por que não fazer versões de coisas que pouca gente conhece?”
Marisa até hoje parece ver o amigo como um padrinho. “Tive a sorte de encontrar o Nelsinho, que com sua sensibilidade soube me ouvir. Ele me
fez evoluir dez anos em um”, diz a cantora. “Foi um grande mestre.”
Agora, a dupla se reencontra no disco Nelson 70, em que uma legião de artistas regrava composições de Motta em homenagem aos 70 anos do artista, completados em outubro. Os dois compuseram “Nós e o Tempo” especialmente para a coletânea.
Para alguém como o produtor, que sempre está envolvido em diversas atividades simultaneamente, o tempo citado no título da canção é algo mais
que precioso. Ele recebe cerca de 50 discos todos os meses, mas só consegue ouvir dois ou três. “Não dá tempo. Fico sem critérios para ouvir discos
completamente desconhecidos. Ou ouço todos ou não ouço nenhum. Tenho interesse por novidade, mas preciso de referências, indicações... ou
então eu descubro sozinho”, explica.
Ainda assim, trabalho é sinônimo de dias bem vividos para Motta. “[Sei que estou aproveitando bem meu tempo] quando eu fico horas e horas trabalhando e sinto que estou adorando. Meu hobby é meu trabalho, e isso é um privilégio para um ser humano.” Ele mora e trabalha em seu apartamento em Ipanema. De frente para o mar, Motta agora se dedica aos musicais, um filão que surpreendeu público e crítica no Brasil nos últimos anos. Em 2015 devem ser dois, um sobre o cantor Wilson Simonal, com estreia prevista para janeiro, e outro sobre a discoteca The Frenetic Dancin’ Days, fundada por ele.
Nelson Motta vai fazendo amigos com sua carreira, e vai construindo a carreira com os amigos, não importa a ordem. Sempre em Ipanema, de olho
nas águas do Rio de Janeiro. “Adoro ficar aqui, observando a praia... mas escrevendo, trabalhando. Porque eu produzo muito nesse ambiente: na
minha casa, com o mar, num clima ótimo. Não tenho carro pra me aborrecer. Quando escrevo minhas parcerias, sempre faço as reuniões aqui na
minha casa. Tenho uma cozinheira maravilhosa”, diz. Ele resume: “Alta produtividade”.
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