<b>CONSCIENTE</b> “Tenho versos que acho que vão afetar as pessoas ou tocá-las” - JIMMY FONTAINE/EYEVINE/ZUMA PRESS/GLOW IMAGES

Ambicioso, Mas Nem Tanto

Após quatro anos sem lançar um disco, o The Killers de Brandon Flowers quer o público de volta – mesmo que não seja para vender milhões

Bruna Veloso Publicado em 17/09/2012, às 12h15 - Atualizado às 17h04

Em dez anos, o rosto de Brandon Flowers quase não se alterou. Talvez esteja um pouco mais fino, com a barba milimetricamente por fazer, mas não há rugas. Durante o tempo em que comanda o The Killers, no entanto, muito mudou na vida do artista. Ele se casou; teve três filhos; perdeu a mãe, vítima de câncer. As responsabilidades não interferem no semblante do rapaz, que aos 31 anos canta em uma das bandas mais bem-sucedidas dos anos 2000, além de ter se aventurado em um disco solo, Flamingo (2010). Este, no entanto, não chegou nem perto do sucesso do grupo, que agora, quatro anos depois de Day & Age (2008), lança Battle Born, o quarto álbum da carreira.

“Queríamos ser o nosso melhor, pegando coisas que fizemos bem em cada um dos outros trabalhos”, define Flowers, sentado no pequeno estúdio do grupo em Las Vegas, escondido em meio a uma espécie de conjunto comercial. Talvez poucos no entorno se deem conta de que naquele mesmo espaço uma banda, ao lado de produtores badalados – Daniel Lanois, Steve Lillywhite, Stuart Price, Brendan O’ Brien e Damian Taylor –, preparou um disco de rock nos últimos meses.

Enquanto o mormaço da desértica cidade norte-americana envolve tudo do lado de fora, Flowers e Mark Stoermer, o franzino e quase sempre silencioso baixista do Killers, bebem água no estúdio, que mantém-se gelado apesar das paredes cobertas por carpetes vermelhos. Ainda que seja simpático (“Pena que o Elton John cancelou o show que faria hoje, poderíamos arrumar ingressos para você”, ele comenta, ao dar dicas sobre a vida noturna de Vegas), Flowers não consegue se sentir à vontade em entrevistas. Stoermer, por sua vez, está longe de aparentar extroversão, e fala baixo – quando fala. Ainda assim, nesta conversa, o vocalista, com alguma ajuda do companheiro, tentou analisar os dez anos de carreira do quarteto, o caminho percorrido e o que os faz seguir em frente.

O Killers teve três álbuns de sucesso, mas jamais houve um período de quatro anos entre um e outro.

Mark Stoermer: A gente espera que esse fato possa funcionar a nosso favor, que talvez o público esteja pronto para ele. E isso também pode gerar um entusiasmo, pelo fato de fazer um tempo [que não lançamos nada].

Brandon Flowers: Às vezes as pessoas ficam enjoadas de uma banda. Então talvez essa pausa tenha sido boa para todos nós.

Como foi a primeira reunião para discutir o novo álbum?

Foi difícil no começo. Nos primeiros dias, lembro que houve um pouco de luta para voltarmos ao ritmo. Mas nós o encontramos.

Todos vocês trabalharam em projetos paralelos. Qual a importância deles para a manutenção da saúde do Killers?

Não sei... acho que todos aprendemos coisas ao fazer nossos próprios discos. Dave [Keuning, guitarrista] não fez. Nenhum de nós tinha uma necessidade de fazer algo próprio, foi só um outro passo. Você consegue trabalhar com outras pessoas, e isso não é necessariamente uma coisa ruim. E provavelmente todos tinham algo a acrescentar quando nos reunimos.

Na hora de compor, você consegue enxergar quando um verso ou um refrão vai realmente tocar as pessoas?

Algumas pessoas enxergam e outras não, mas eu sempre acho que sim. Se você pergunta a pessoas como o Elton John: “Você sabia que ‘Mona Lisas and Mad Hatters’ seria tão bonita?” Ele diz que não tinha ideia, que só fez e lançou. Mas sinto que temos um bom entendimento, de que aquilo em que todos concordamos é forte. E eu tenho versos que acho que vão afetar as pessoas ou tocá-las.

E nesse álbum qual verso vem à sua mente nesse sentido?

[Risos] Eu não sei... [Pausa] Não deveria dizer.


Vocês chegaram a uma fórmula, músicas que começam calmas e explodem no refrão?

Definitivamente entrou para o nosso modo de compor, não conseguimos não pensar: “Uau, isso vai ficar ótimo ao vivo”.

É verdade que você começou a ter aulas de canto para este disco?

Comecei provavelmente depois do Sam’s Town [2008]. Foi quando conheci o professor, e aprendi algumas técnicas. E depois o encontrei mais algumas vezes. Me ajuda a cantar em um tom mais alto. Acho que isso é uma coisa positiva.

Se tivessem que apontar a principal diferença entre Hot Fuss (2004), o disco de estreia, e Battle Born, qual seria?

Stoermer: Nós éramos pessoas diferentes, mas o núcleo ainda é o mesmo. Naquele álbum, não sabíamos o que estava acontecendo. Sabíamos que tínhamos músicas que deveriam ser grandes, mas era uma chance em um milhão. Podíamos sonhar alto, mas não havia um jeito de fazer as coisas ou de saber ao certo o que iria acontecer. A gente pensava que devia ser tão bom quanto o material de outras bandas que estavam por aí na mesma época. Agora é meio que o reverso: temos o que fizemos antes como referência, e no começo não havia referência.

Flowers: Sempre teremos as coisas em que cada um se destaca. E temos sorte, é um milagre que tenhamos nos encontrado em Las Vegas. Não importa como, vai haver similaridades [entre os discos], mas nós também crescemos. Passaram-se dez anos desde que escrevemos a primeira música.

Isso tem um significado especial?

Eu simplesmente não consigo acreditar em como passou rápido.

Mas existe a lembrança de como era no início, da luta para chegar em algum lugar?

A gente não mudou muito, somos mais ou menos as mesmas pessoas. É como se o que somos agora fosse uma extensão. Estivemos tão ocupados que não parece que foi há tanto tempo.

Stoermer: Era uma época emocionante, todo dia havia uma novidade. E quando isso acontece talvez possa haver um sinal de que você está no caminho certo, de que essa é a chance em um milhão, em um grupo de pessoas, como aconteceu com a gente. Passa tão rápido que você não consegue absorver, mas ao mesmo tempo você sabe que está acontecendo.

Qual foi a coisa mais difícil pela qual vocês passaram, como banda, nesse tempo todo?

Flowers: A forma como nosso segundo álbum [Sam’s Town] foi criticado foi dura para nós. Dizem que você não deve ler o que sai sobre você, mas era inevitável. Nos Estados Unidos, a imprensa foi muito negativa sobre o disco. Mas acho que conseguimos transformar aquilo em uma coisa positiva. Ficamos melhores ao vivo. Fomos destruídos, mas ainda acreditávamos na gente. Então tínhamos que ir lá toda noite e provar. Cantei mais alto, e a banda a tocou mais alto.

No show em São Paulo, em 2009, conversamos no caminho de volta do local da apresentação para o hotel. E vocês não se falaram depois do show, e voltaram em carros separados. Depois de meses de turnê, existe um momento em que vocês não se aguentam?

A gente não pediu para voltar em carros separados! [Risos] Há razões para isso, temos o tour manager, talvez alguém estivesse com a namorada. Não é que cada um tem um carro para todo lugar a que vamos. Ainda não somos o Eagles [risos].

Vocês parecem ser muito diferentes uns dos outros. São mesmo? É parte do que faz a banda ser o que é?

Deve ter a ver com isso. Somos definitivamente diferentes. Não temos aquela história clássica de quatro garotos crescendo juntos, formando uma banda. Nos conhecemos depois, e temos personalidades distintas.

O Killers vendeu milhões em uma época em que poucas pessoas vendiam milhões. E agora está ainda mais difícil. Estão preparados para não vender milhões, caso isso aconteça?

Stoermer: Acho que sim. É mais sobre o fato de as pessoas ouvirem ou não. Muito do que fazemos hoje é baseado no show ao vivo, e idealmente você quer que as pessoas ouçam. Quer que os fãs liguem para o disco que você está fazendo agora, e talvez gostem e queiram comprá-lo, mas, se eles não comprarem e forem aos shows e souberem as músicas, é ótimo também. Não dá para mudar o modo como é o mundo.

Flowers: As vendas de discos caem, mas nossos shows crescem. Tem alguma coisa estranha acontecendo.


Brandon, anos atrás, você falava muito sobre o quão bom era o Killers. Era porque você era realmente confiante ou porque era inseguro?

Provavelmente porque eu era inseguro. É o movimento clássico de alguém que é inseguro, não é? [risos] Acho que era mais fácil para mim ao fazer entrevistas. Ainda estou me acostumando a dar entrevistas. Não me sentia confortável ou preferiria não fazer. Quando começamos a banda, em uma garagem, não pensávamos em fazer clipes ou dar entrevistas, e de repente você é bombardeado com essas coisas. Você não precisa fazer, mas aí percebemos que tínhamos orgulho daquela música e queríamos que pessoas a conhecessem. E eu tive aquela reação estranha. Inflei meu peito e mostrei as minhas penas.

É difícil voltar à vida na estrada com seus filhos crescendo?

Sim, mas agora a gente meio que pode dar mais ordens, e a cada álbum temos mais tempo de folga. Uma hora atrás estávamos conversando sobre isso, para que o nosso agente conseguisse marcar as coisas sendo que pudéssemos ter um mês em casa. Isso era impossível no começo.

Você acabou de fazer 31 anos. A idade mudou o modo como trabalha?

Provavelmente, não sei... devo estar um pouco diferente. Algumas dessas músicas podem até parecer com outras, talvez até com o Hot Fuss, mas são uma versão adulta daquilo. Eu não tinha o arsenal de experiências, e talvez nem de palavras, que tenho agora. E ainda não tenho o suficiente.

Não existe mais aquele gás juvenil, certo? Qual é a motivação para seguir em frente?

[Pausa] Queremos ficar melhores. Em todo disco tem algo do que gostamos e do que nos orgulhamos, mas ainda queremos melhorar.

Stoermer: Acho que todos nós tivemos diferentes “modelos” ou seja lá como você chame. Qual era sua banda ou artista favorito quando você cresceu, e o que aquilo significava para você. Ter a chance de talvez representar isso para alguém ou ser tão bom quanto quem te fez entrar nesse negócio... talvez seja um patamar alto, e não sei se já estamos lá, mas é sempre parte do que é estar no palco, inspirando as pessoas.

É difícil manter uma vida saudável com tantas tentações à disposição?

Flowers: Para mim, fica mais fácil à medida que ficamos maiores. Porque agora estamos em uma bolha. Quando estamos em turnê, ficamos muitos distantes do público. Às vezes nem vemos o lado de fora. Se a gente quisesse alguma coisa, teria que pedir. Então, é mais fácil do que se estivesse na nossa cara o tempo todo. Nenhum de nós sai muito dos trilhos.

Mas saíram dos trilhos no começo?

Hum, fizemos algumas tentativas frustradas [risos]. Mas nenhum de nós é muito louco.

E, sendo de uma banda de rock, você já sentiu algum tipo de preconceito por ser religioso [Flowers é mórmon]?

Nunca senti um preconceito... há coisas que se espera de uma banda de rock, quando você lê sobre no que se envolveram Led Zeppelin, David Bowie, Lou Reed, Iggy Pop. E é excitante. Mas em algum ponto eu tive que decidir qual caminho iria seguir, e agora decidi, então é mais fácil.

E você lembra quando tomou essa decisão?

Tem algumas coisas específicas, mas foi provavelmente há quatro ou cinco anos.

Ainda é divertido fazer parte de uma banda?

Sim [sem entusiasmo]. Tocar é quando provavelmente nos divertimos mais. E se a plateia for boa é muito divertido.

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